Entrevista: Ironborn

 


São os Ironborn e são oriundos da Bélgica. Começaram a dar as vistas como uma banda de covers, mas, rapidamente perceberam que tinham potencial para dar o passo seguinte – começar a criar as próprias composições. O EP homónimo foi lançado em 2017, mas foram precisos seis anos para que o coletivo assinasse o seu primeiro longa-duração, que traz o título de After The Flood.  John Mortelez (guitarra solo), Jan Versnick (baixo) e Tom Deblauwe (bateria), foram os três elementos que estiveram à conversa connosco a propósito deste lançamento.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podem apresentar a banda aos metalheads portugueses?

JOHN MORTELEZ (JM): Originalmente, começamos como uma banda de covers de metal, tocando clássicos que nos influenciaram a todos, mas rapidamente começámos a escrever o nosso próprio material.

JAN VERSNICK (JV): Nós tocamos heavy metal clássico, mas com muitas influências modernas diferentes de bandas e géneros que gostamos. Não nos limitamos a um género.

 

Quando foi idealizado este projeto e o que vos motivou a isso?

JM: As pessoas que já nos conheciam e nos viram ao vivo gostaram do nosso material, portanto era óbvio continuar a escrever as nossas próprias músicas e isso levou-nos ao nosso primeiro EP Ironborn.

JV: As reações na imprensa de metal foram muito positivas e decidimos parar completamente como banda de covers para nos focarmos totalmente no nosso próprio material. E agora o nosso primeiro longa-duração saiu... After The Flood.

 

Que nomes ou movimentos mais vos influenciaram?

TOM DeBLAUWE (TB): Os covers que fizemos, eu diria, e os gostos individuais dos membros. John tenta escrever música no estilo de algumas bandas que gostamos.

JV: Nos primeiros dias dos Ironborn, costumávamos tocar covers de todos os tipos de bandas de metal. Foi de Iron Maiden a Life Of Agony, de Angel Witch a Pantera, de Saxon a Slayer. Por isso, sim, somos influenciados por NWOBHM, thrash metal, death metal, power metal… é só escolheres.

 

Antes dos Ironborn, tiveram alguma outra experiência musical? Que aprendizagem trouxeram para esta nova experiência?

JM: Toquei em várias bandas, punk, blues/rock, metal e covers de hard rock/metal. Foi assim que conheci Jan e Tom. Tocamos juntos numa banda de covers chamada Baremouth. Até com o nosso baterista, Tom DB, nos conhecemos através de Baremouth, quando ele substituiu o nosso baterista na altura, quando teve uma lesão nas costas.

TB: Eu também tocava numa banda de covers, tocávamos Iron Maiden, Deep Purple, Malmsteen, etc.

JV: Como disse o John, eu toquei junto com ele e Tom nos Baremouth. Uma banda de covers muito parecida com os primeiros dias dos Ironborn. Naquela altura tocava guitarra. Também toquei guitarra numa banda chamada Wizz Wizzard. Sentido: Uma banda clássica de heavy metal da velha guarda que lançou alguns discos. Quando saí de Wizzard, mudei para o baixo. Foi quando começamos os Ironborn como uma banda de covers.

 

Depois do EP homónimo, After The Flood é o primeiro longa-duração. Como foi a vossa preparação para este álbum? Quais eram os principais objetivos?

TB: Para as gravações em estúdio, quisemos obter o mesmo tipo de vibe, algo orgânico, mas com uma melhor qualidade de som geral. Queríamos mostrar o quão versátil é o nosso gosto musical e por isso as músicas são muito variadas. Vamos de músicas lentas até guturais, por isso as pessoas têm dificuldade em nos colocar num género específico.

 

Foi difícil escrever as músicas ou elas surgiram espontaneamente? E como funciona esse processo nos Ironborn?

JM: Escrever as músicas dos Ironborn foi um processo de composição de riffs e gravação caseira juntamente com o nosso baterista Tom DB. Assim que uma música ganhava forma, Jan escrevia algumas letras nas composições que desencadeavam a criação das melodias cantadas e dos acompanhamentos harmónicos.

TB: Eu tento acompanhar John e encontrar algumas partes originais de bateria para acompanhar os seus grandes riffs. Juntos, supervisionamos a maioria das gravações do álbum para que estejam de acordo com os padrões.

 

Tematicamente, que questões trazem para as vossas composições?

JV: Eu escrevo as letras, portanto, esta é uma questão para mim, acho eu. A inspiração por trás de Bloodbound está nos meus filhos. No horóscopo chinês, o meu filho é um tigre e a minha filha um dragão. Comecei a pesquisar as caraterísticas que são atribuídas a esses signos do zodíaco e comecei a trabalhar com isso. No refrão, vão juntos para o grande mundo mau, lado a lado, ligados pelo sangue.

Prison Grounds é uma homenagem aos grandes festivais em todo o mundo, mas o título da música refere-se a um dos melhores festivais de metal da Bélgica, o Alcatraz Metal Fest.

Anpu é uma introdução ao Guardian Of The Scales. Anpu é um antigo nome egípcio para Anubis e a introdução tenta transmitir a atmosfera desolada de uma necrópole no deserto. Depois, transita suavemente para Guardian Of The Scales. Uma canção sobre a transição da vida para a morte no antigo Egito e os rituais que a acompanham.

After The Flood, o tema-título vem basicamente de um artigo que li sobre 'a lista de reis'. Estas são as fontes escritas mais antigas já encontradas, gravadas em pedra. Datam dos tempos sumérios e descrevem, na primeira parte, uma lista de reis que reinaram durante dezenas de milhares de anos. Em seguida, é descrito um dilúvio, que também ocorre em muitas outras religiões (pensa na arca de Noé). Em seguida, continua com outra lista de reis, mas esses reis reinaram por períodos muito mais curtos e realistas. Existem teorias da conspiração que os alienígenas vieram aqui antes do dilúvio e usaram os humanos como escravos para explorar metais preciosos para eles até que um evento cataclísmico aconteceu e eles partiram às pressas. Por isso, fiz uma história que vieram cá há dezenas de milhares de milhares de anos atrás e modificaram geneticamente os primeiros humanos para trabalhar como escravos nas minas, até que o dilúvio os mandou de volta e deixou os humanos geneticamente modificados aqui. Alguns desses humanos sobreviveram ao Dilúvio e assim deram origem à humanidade.

Lillith é uma canção sobre um demónio babilónico, que também aparece em muitas outras religiões, até mesmo no Antigo Testamento. Lillith é um súcubo, um demónio que visita jovens à noite para roubar o seu sémen. Essa foi, nos tempos antigos, a explicação para o sonho molhado, acho eu.

Into Darkness é a última música do disco. Essa música deveria ser o single do novo álbum e gravamos um videoclipe para ela pouco antes da covid. Foi um projeto de um amigo meu, Joris Van Molle. A música é sobre alguém que é sugado para uma seita satânica sombria e se perde completamente nela. No vídeo, Joris faz a sua própria interpretação e é sobre alguém que perde a sua filha em circunstâncias pouco claras e depois quer vingança.

 

E, especificamente, sobre a música 1568, fala sobre o que?

JV: 1568 é uma canção que descreve os últimos dias do conde Egmond, um conde que viveu em Zottegem, a minha cidade natal. O conde Egmond desempenhou um papel importante na libertação da nossa região contra os ocupantes espanhóis no século XVI. Infelizmente, foi decapitado pelos espanhóis. Escrevemos a música para as festividades que aconteceram em Zottegem, lembrando a sua morte, há 450 anos. Em seguida, gravamos uma versão acústica simplificada da música que foi lançada numa edição muito limitada para a ocasião, juntamente com uma cerveja feita por cervejeiros locais, chamada 1568. Também tocamos a música ao vivo nas festividades em Zottegem. Podem encontrar uma gravação disso no Youtube. A própria canção descreve os últimos dias do conde Egmond, quando ele se senta no corredor da morte a aguardar a sua decapitação e olha para trás, para a sua vida. É uma espécie de santificado seja o teu nome. Em After The Flood, a música agora está incluída como deveria, a versão metal completa.

 

Já tiveram a oportunidade de tocar ao vivo para divulgar este álbum? Que mais têm planeado?

JV: Fizemos um espetáculo de lançamento do CD em Zottegem (Bélgica), a minha cidade natal. Correu muito bem. Grande público, boa vibração, apenas boas lembranças. Agora temos 3 espetáculos planeados para promover o lançamento do disco em vinil. A primeira é no dia 9 de setembro no clube de música Elpee em Deinze (Bélgica). Depois disso, temos mais espetáculos de lançamento agendados para outubro.

 

Muito obrigado, pessoal, mais uma vez. Querem acrescentar mais alguma coisa?

TB: Muitos cumprimentos aos metaleiros portugueses... Eu visitei Lisboa, porque fui ver os AC/DC uma vez, foi ótimo! Cidade muito bonita, mesmo! E eh… convida-nos um dia para Portugal!


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