Entrevista: Booby Trap


 

The End Of Time traz uns Booby Trap ainda mais refinados na criação do seu crossover thrash metal. A passagem a quinteto com a adição de uma segunda guitarra e a participação de dois convidados de peso são dois aspetos a destacar neste novo registo da banda aveirense. Um novo registo que se posiciona para ser, para já, o melhor álbum do coletivo, confirmando uma evolução que pode levar o coletivo ainda mais longe. Voltámos, mais uma vez, à fala com o vocalista Pedro Junqueiro, tendo este álbum novo como pano de fundo.

 

Olá, Pedro, tudo bem? Os Booby Trap têm estado, como é habitual, muito ativos em termos de lançamentos. Mas álbuns de estúdio e com temas originais, The End Of Time é o direto sucessor de Stand Up And Fight. E é notória uma enorme evolução. A entrada de uma segunda guitarra foi determinante para isso, na tua opinião?

Foi e não foi. Se por um lado, a adição de uma segunda guitarra proporciona a possibilidade de serem feitos mais arranjos e trabalhar certas harmonias que só com uma seriam impossíveis, a verdade é que pelo menos em estúdio sempre tivemos cuidado em fazer esses tipo de pós-produção mas também não é menos verdade que agora, em vez de apenas pensarmos nisso durante a gravação/produção do álbum, conseguimos trabalhar esses pormenores logo durante o processo de composição e ir melhorando-os conforme os vamos tocando na sala de ensaios. De qualquer forma, com a entrada de um elemento novo, novas ideias são adicionadas ao caldeirão, é aquela velha máxima, 5 cabeças pensam melhor do que 4.

 

Aliás, uma evolução que já se tinha notado no split Bastards United. Podem esses seis temas aí incluídos ser considerados como um “tudo de ensaio” para a nova fase dos Booby Trap?

Isso só demonstra o que eu disse ali atrás, a evolução sónica dos Booby Trap tem mais a ver com aquilo que nos apetece fazer em determinada época da nossa vida do que algo pensado a fundo sobre em que direção queremos seguir. É claro que o facto da formação base da banda ser uma das mais estáveis de sempre, o facto de todos contribuírem para o processo de composição e o facto de estarmos mais maduros e experientes ajuda sobremaneira.

 

Como referimos, os Booby Trap estão sempre ativos. Mas, surpreendeu o lançamento de um álbum de versões, algumas das quais muito pouco óbvias, em termos de sonoridade. Qual foi o objetivo para o lançamento de The Hellzheimers?

Esta era uma ideia que já tínhamos abordado várias vezes em privado, eu pessoalmente sempre gostei de ouvir versões feitas por outras bandas, ajuda-me a perceber as raízes de certos músicos que aprecio e às contas dessas mesmas versões já descobri bandas que não conhecia das quais me tornei grande apreciador. Em relação a Booby Trap em especifico, o mundo das versões não nos é completamente estranho, temos feito algumas para os nossos trabalhos anteriores, desde Motörhead a Ratos de Porão e de Gang Green a Ramones, de vez em quando tocamos uma cover ou outra nos ensaios mesmo em tom de brincadeira e isso deu-nos a ideia de fazer este álbum que na realidade representa um pouco da variedade de influencias que nós temos, desde o hard rock até ao death metal e que coincidiu com a fase dos confinamentos devido ao Covid, uma vez que não podíamos dar concertos, dedicámo-nos a este projeto.

 

Por falar nisso, acabam de fazer o lançamento deste álbum em vinil, não é? Considerando que Fuck Censorship também foi lançado em vinil, em 2021, tem havido muita procura por este formato?

Há alguma, o mercado do vinil ainda é uma coisa estranha para muita gente, mas a verdade é que este formato está ai para ficar, apesar dos preços absurdos que são praticados em muitas ocasiões, eu vejo cada vez mais as editoras a apostar no vinil, no meu caso especifico eu não escondo de ninguém o quanto gosto deste formato, por isso é juntar o útil ao agradável.

 

Focando-nos agora em The End Of Time. É um título e uma capa muito apocalípticos. Que mensagem carregam?

É o fim de uma era, o mundo como o conhecemos está a acabar, eu até diria mais, sem querer soar a velho, o mundo que nós conhecíamos já acabou, estamos numa época de extremismos, em todos os aspetos as pessoas levam as suas convicções, os seus credos e as suas atitudes ao extremo e isso até poderia ser bom, pelo menos nas mãos das pessoas certas, com inteligência e coração mas a verdade é que estes tempos de extremos traz o que há de pior no ser humano ao de cima. Resta-nos esperar pelo fim deste tempo e o começo de uma nova e melhor era.

 

Como decorreu o processo de composição deste conjunto de novos temas? Já agora, pergunto se são todos fruto do trabalho da nova formação ou recuperaram alguma mais antigo?

Alguns destes temas foram escritos na mesma época que escrevemos para o Bastards United, por exemplo a Nothing To Lose, a Sick Six Six ou a Infidel, já vêm dessa altura; outras como a Surrounded By Idiots ou a Wake Up vieram logo a seguir, todas as outras já foram escritas depois da entrada do Miguel na banda. Não temos qualquer método de composição predefinido, qualquer um de nós pode trazer uma ideia de casa e depois trabalhamos o resto em conjunto ou às vezes as ideias podem surgirem de jams que fazemos durante os ensaios, de muitos desses momentos não se aproveita nada, mas às vezes surgem verdadeiras pérolas.

 

Falando de composição, nota-se agora uma maior gama de abordagens. Há o punk, o hardcore, o crossover, mas até se notam abordagens ao hard rock e até uma secção jazzística. De onde surgem estas variantes nos Booby Trap?

Nos Booby Trap nunca houve qualquer tipo de limitações no que respeita aos géneros por nós abordados, nunca dizemos que uma ideia é má sem a experimentarmos. Já nos anos 90 nós incorporávamos outros estilos no nosso som, funk, rap e até disco nos serviu de inspiração para certos temas. Neste álbum não foi diferente, as malhas encaixaram bem e nem pensamos duas vezes se fazem parte do nosso som típico ou não, é apenas um reflexo da variedade de influências que temos.

 

Nesse sentido, este é o álbum mais eclético e evoluído que os Booby Trap já escreveram?

Na minha opinião sim e penso que todos os elementos da banda pensam da mesma forma.

 

E, em conclusão, pode ser considerado o vosso melhor trabalho até à data?

Considero o The End Of Time o nosso melhor trabalho, é claro que também seria correto dizer que qualquer músico quando acaba de gravar um álbum novo, se o fez com coração e dedicação, vai dizer que é o seu melhor trabalho. Exceto os Metallica! Duvido que quando os Metallica acabaram de gravar o St. Anger tivessem dito “Ahhh, este é o melhor disco de sempre da nossa carreira” … Independentemente disso, não tenho qualquer problema em considerar este álbum um monstro e sem dúvida alguma o melhor disco crossover alguma vez feito em Portugal.

 

E como tem sido a reação dos vossos mais die hard fans, aqueles que nunca aceitam qualquer mudança por mais pequena que seja?

Os Booby Trap não têm die hard fãs, acabámos com eles logo quando gravámos a nossa primeira demo.

 

Deste álbum já retiram os temas Ready To Die e Open Up Your Eyes como singles. Que critérios estiveram na base destas escolhas?

Esses dois temas foram escolhidos por serem alguns dos mais fortes e intensos deste álbum, em contrapartida lançámos recentemente em formato CD single o tema Surrounded By Idiots em formato revisto e aumentado precisamente pelo motivo oposto, por ser o tema mais longo e melódico do álbum e cheio de devaneios.

 

No caso da Open Up Your Eyes, temos a presença do Howard “H” Smith. Assim como em Nada Irá Mudar, onde divides o microfone com o Miguel Newton. O que procuraram acrescentar a estes temas com estes convidados?

Quando eu convido outros vocalistas para participarem em temas nossos é essencialmente pelo enriquecimento vocal do álbum, trazem sempre uma lufada de ar fresco aos nossos temas, mas também pode ser por causa de algum registo especial que eu não consiga ou não me sinta muito confortável a fazer.

 

Particularmente no caso do Howard, como se proporcionou essa cooperação? 

Os Acid Reign são uma banda que eu acompanho desde a minha adolescência, comecei a acompanhá-los desde os finais dos anos 80 e foi sempre uma banda que eu apreciei muito. Aquando da primeira passagem deles por Portugal, no Mangualde Hardmetal Fest tive oportunidade de travar conhecimento com o Howard e passamos uma bela tarde na conversa e a beber copos, o que culminou com um convite para cantar uma musica com eles nesse concerto (a Motherly Love), depois disso fomos mantendo o contacto através das redes sociais e quando estávamos a pré-produzir o álbum, este tema (Open Up Your Eyes) fez-me lembrar em alguns momentos da sonoridade dos Acid Reign, daí a endereçar-lhe o convite e ele gravar a voz foi um tirinho.

 

E no caso do Miguel é num tema em português, mantendo essa tendência. Alguma vez pensaram em reunir todos os temas cantados em português que já lançaram? Ou eventualmente, fazer um álbum todo em português?

É engraçado que tanto uma como a outra ideia já me passaram pela cabeça, quem sabe um dia… como nos Booby Trap não gostamos de nos sentar à sombra da bananeira nem nos passa pela cabeça replicar constantemente a mesma fórmula em todos os álbuns, o próximo até pode ser mesmo totalmente cantado em Português ou até mesmo em Francês ou Espanhol, ou podemos manter o mesmo tipo de vocalizações mas gravarmos um álbum totalmente punk ou totalmente hard rock, ou, melhor ainda, um álbum totalmente punk cantado em Português, ou um álbum totalmente hard rock cantado em Francês, é isso, vou pensar no assunto seriamente…

 

Obrigado, Pedro! Esta conversa já vai longa, mas, ainda nos podes falar dos próximos projetos e planos para os Booby Trap?

Neste momento estamos apenas a pensar em levar o The End of Time para a estrada, já fizemos alguns concertos, há outros agendados e mais alguns em fase de decisão de datas, outros mais estarão para vir e pelo meio vamos já experimentando algumas ideias daquilo que virá a fazer parte do nosso próximo trabalho.

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