Sowing
The Seed, álbum de estreia dos Music In Low Frequencies já ficou bem lá para
trás, em 2014. Foram muitos anos em silêncio, apenas cortados por uma
participação na homenagem aos seus conterrâneos Mão Morta. Mas, finalmente, as
estrelas alinharam-se para que Catharsis, a nova e poderosa obra do power
trio visse a luz do dia. Uma obra lançada no último mês do ano passado, mas
que ainda veio a tempo de ser incluída em muitas listas dos melhores do ano. O
que certamente traz um novo alento ao coletivo.
Olá, pessoal, tudo bem?
Obrigado pela disponibilidade. Sendo Catharsis o vosso novo trabalho que
surge quase dez anos após a estreia, pode ser considerado como um apontamento
catártico da vossa parte?
Viva, obrigado nós pela
oportunidade que nos dão para esta entrevista. Para quem nos conhece desde o
início e pode até conhecer o disco anterior poderá até parecer mais uma
metamorfose. Mas sim, as experiências que vivemos, a forma como trabalhamos
tanto musical como liricamente tornam este disco como a nossa própria catarse.
Foi exatamente nesse sentido que pensamos no título para o disco.
Já agora, porque tanto
tempo entre os dois álbuns? O que se passou no seio da banda?
Sim, o tempo entre discos foi
realmente longo. Há vários fatores para isso ter acontecido. Na verdade, já
estamos a trabalhar neste disco desde meados de 2016/17. Chegamos até a fazer
uma pré-produção do disco nessa altura. Passamos algum tempo com o Pedro
Alves (Grave Studio) que nos ajudou a entender melhor o caminho que
queríamos trilhar. Após esse trabalho voltamos à sala de ensaio e preparamos
mais temas, trabalhamos nos que já tínhamos e infelizmente vimo-nos depois
forçados a parar por um longo período por problemas de saúde de um dos
elementos. Após isso surgiu o Covid e tudo se foi atrasando um pouco mais. A
produção depois também não foi tão breve como desejávamos, as negociações com
editoras também se prolongaram um pouco mas conseguimos por fim chegar a este Catharsis. Trabalhamos como sempre de forma séria, mas
valorizamo-nos muito mais como pessoas, indivíduos e amigos do que como
músicos.
Pelo meio, no entanto,
participaram no tributo aos Mão Morta numa joint-venture com os
Hunted Scriptum. Como se proporcionou essa experiência?
Esse convite surgiu pela mão da NAAM
(Núcleo de Apoio a Artes Musicais) que começou a organizar há mais de uma
década a Braga Music Week (quando começou era apenas
um dia, mas depois passou a ser evento de uma semana). Esse evento surge para
celebrar o Dia Internacional da Música. Nesse ano (2017) os bracarenses Mão
Morta celebravam 25 anos do seu disco Mutantes S.21 e um dos
dias seria dedicado a eles e a esse disco. O convite surgiu nesse sentido.
Desafio aceite e como partilhamos sala de ensaio com Hunted Scriptum a
logística tornou-se fácil. Foi um belo momento e acho que com resultado
positivo. Deu-nos demasiado gozo participar nesta celebração e homenagem.
Este novo álbum inclui
temas todos eles recentes ou são o resultado das vossas criações ao longo
destes anos?
Inclui algumas músicas que já nos
acompanham há algum tempo, por exemplo a This Corpse que é o
primeiro single que lançámos. Mas também contém
um tema que foi totalmente já composto no estúdio durante as gravações, Starving The Weak. Podemos concluir que mesmo os temas que já
têm mais tempo passaram por um processo de maturação que os tornou naquilo que
são hoje. Na generalidade do disco, todos os temas são recentes.
De que forma este álbum
mostra a vossa evolução ao nível da construção dos temas. Mudaram alguma coisa
no processo de criação ao longo deste período?
Como referimos anteriormente, foi
importante o papel de orientação que o Pedro Alves teve connosco.
Sentimos que esse foi efetivamente o nosso ponto de viragem. Queríamos fazer,
mas não sabíamos como chegar lá. Afinal de contas, sermos um trio acaba por ter
as suas limitações. Conseguimos perceber como aproveitar o melhor de cada um e
como tornar as composições maiores, mais ricas musicalmente e liricamente mais
intensas. Mas como banda temos a certeza de que o mais importante de tudo e que
é parte essencial da nossa forma de composição, é tornar cada música parte de
nós. A forma como vivemos, sentimos… a nossa principal forma de expressão e de
exorcizar os nossos demónios.
Gravaram nos Ultrasound
Studios com o Pedro Mendes. Como decorreram os trabalhos?
O Pedro Mendes é um dos
melhores produtores nacionais, se não mesmo o melhor (na nossa opinião). Catharsis também tem e é muito dele. Trabalhou connosco do
primeiro ao último minuto com a paciência que se lhe exigia. Ajudou-nos muito
também na produção do disco e a trabalhar cada detalhe como se fosse ele também
um de nós. Estaremos sempre gratos pela paciência que teve e ainda tem
connosco.
Pedro Mendes que é um
dos convidados que participa neste álbum. Mas houve outros. Querem
apresentá-los e contar-nos como essas participações se proporcionaram?
Sim, nós gostamos de partilhar
música e criar sinergias que possam engrandecer ainda mais a música. Acho que
faremos sempre isso. Neste disco além do Pedro Mendes (Ramp; Norunda)
com back vocals em This Corpse temos
também o Paulo Rui (Redemptus; Besta) em Steel. Esta última fez parte da pré-produção do disco,
ou seja, já é uma participação com alguns anos. Na altura foi apenas uma
experiência que resultou e que quisemos dar continuidade na produção final do
disco. No tema Starving The Weak temos a Amaya López (Maud the Moth; Healthyliving).
Uma
intérprete de excelência que conhecemos precisamente do evento Braga Music
Week e com a qual desenvolvemos amizade e assim mantemos. Ficamos muito
gratos por ter aceitado o desafio e nos ter dado o piano final que se pode
ouvir no tema. Ainda nos arrepia. Procurem o trabalho dela, vão ficar
surpreendidos. Por fim temos o Friggi, baterista dos brasileiros Chaos
Synopsis que fizeram tour europeia
connosco em 2014 quando estávamos a apresentar o álbum Sowing The Seed. O Friggi compôs e gravou a bateria no tema
escondido do disco. Todos os convidados são pessoas importantes para nós e que
em algum momento se cruzaram na nossa história. Com eles quisemos fazer
perdurar essa história no tempo. Estamos gratos a todos eles por nos terem
ajudado a fazer Catharsis.
E como é que surge
aquele tema escondido? Querem falar dele?
Esse tema surge já depois de
termos tudo praticamente gravado. Mas já era uma ideia que tínhamos há algum
tempo e que simultaneamente com a produção do disco estávamos a trabalhar e a
maturar. Como acabou por ficar praticamente terminado e como tudo se alinhou,
inclusivamente o tema em si, pois é muito forte liricamente achamos que faria
todo o sentido incluir o tema no disco. Assim surgiu-nos a ideia de o tornar
como o tema “escondido” do disco. É também a nossa homenagem à obra de Marilyn
Manson.
O álbum já está
disponível desde o início de dezembro e tem tido excelentes reações. Estavam à
espera desta receção tão massiva?
Não tínhamos expetativas de nada e
podemos até confessar que continuamos sem ter. Sabemos que somos pouco
populares (por culpa exclusivamente nossa) e que sim, este disco tem-nos
atirado e exigido outra postura. Nunca demos tanta entrevista em tão pouco
tempo, nunca recebemos tantas e tão boas reviews… nunca
pensamos que iria haver pessoas de todos os cantos do planeta a comprar o nosso
disco. Nunca imaginamos o nosso disco ser distinguido para os melhores do ano
para algumas revistas e blogs por todo
o mundo… até a capa do disco foi distinguida como uma das melhores do ano.
Estamos a adorar, mas não somos de elevar expetativas… vamos continuar aqui,
serenos e a trabalhar exatamente da mesma forma.
Desde essa altura, já
tiveram a oportunidade de apresentar este álbum ao vivo?
Infelizmente ainda não tivemos
essa oportunidade. Tivemos apenas uma pequena presença no festival Ghallaecia Metalfest uns dias antes de sair o disco e
serviu para experimentar este “novo” set ao vivo. O feedback foi ótimo e logo ali percebemos que Catharsis viria para nos afirmarmos um pouco mais como
banda. Mas poderão ver-nos ao vivo já em breve no Doomed Fest e depois no River Stone Winterfest.
E o que têm planeado
para este novo ano?
Este ano esperamos poder chegar a
mais pessoas, dar mais concertos mesmo sabendo que já temos os cartazes
praticamente todos fechados, temos tentado, mesmo com e-mails e contactos aos quais não recebemos nem sequer
respostas. O mercado está lotado de bandas boas e músicos muito melhores que
nós e mais conhecidos e sabemos que para nos afirmarmos como banda é um longo e
difícil caminho. Este ano tentaremos essencialmente isso, dar-nos a conhecer e
afirmarmo-nos como banda.
Obrigado, pessoal!
Deixo-vos a oportunidade de acrescentar mais alguma coisa que achem pertinente…
Podemos apenas acrescentar que é
bom sentir que o interesse e dedicação por bandas nacionais de todo o género
tem evoluído e não se tem movido muito por ondas da moda. Para as bandas mais
pequenas e desconhecidas serve como motivação para não parar e continuar a
mostrar musicalmente o que de melhor se faz por aqui. Pode ser que
eventualmente o país diversifique mais a promoção de bandas nacionais e crie
espaços para este efeito. No que depender de nós, podem contar connosco.
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