Foi em 2020 que se começou a falar do regresso dos
Thragedium, banda que lançou álbuns como Theatrum XXIII, em 2001 e Isolationist,
dois anos mais tarde. O lançamento do single Lucefécit deixou os antigos
fãs em polvorosa. Mas, a pandemia acabou por se intrometer e atrapalhar os
planos. Felizmente que se tratou apenas de um adiamento que só beneficiou todo
o material que a banda inclui em e Lisboa Depois de Morta. Três anos
depois voltámos a conversar com os lisboetas sobre este regresso tão aguardado.
Olá, pessoal, tudo bem? Em 2020 conversámos sobre o regresso dos
Thragedium com um novo álbum para breve. Afinal acabaram por se passar mais
três anos. O que se passou?
JOSÉ BONITO (JB): Antes de
mais o nosso agradecimento pelo interesse e oportunidade que nos concedes para
escrever sobre o nosso trabalho. Basicamente aconteceu uma pandemia que nos
levou a atrasar todo este processo de ressurgimento. Se pelo lado do
imediatismo terá sido negativo, por outro, ao nível artístico, foi extremamente
positivo, pois tivemos mais algum tempo para trabalhar detalhes em termos
musicais e o próprio tempo que fomos tendo acabou por nos trazer novas
situações e resoluções que acabaram por beneficiar de larga maneira o resultado
final do disco que temos em mãos de momento.
Na altura, Lucefécit era
apresentado como o avanço para o novo álbum. E de facto está incluída aqui.
Durante este período promoveram esta ou noutras canções que já existiam na
altura?
JB: Não, de modo
algum! Deixámos fluir o que nos ia acontecendo! Quisemos guardar os restantes
temas para quando fosse oportuno e o disco tivesse pronto e com data de
lançamento. Essa versão da Lucefecit serviu o objetivo de dar suporte ao
nosso regresso e cumpriu plenamente esse propósito. Com a chegada da pandemia
tivemos de adaptar o nosso planeamento e por consequência toda a estratégia que
pudéssemos ter. É um tema que na nossa ótica está presentemente muito mais
valorizado, agora, que o álbum foi editado.
Por falar disso, este novo álbum traz onze novas canções. Foram
criadas ao longo destes vinte anos sem lançamentos?
JB: Nada
disso! Todo o processo de composição foi realizado entre o final de 2018 até
meio de 2019. Quando o mundo parou já o disco estava todo escrito e gravado na
sua quase totalidade. Foi tudo realizado de forma muito espontânea e sem
pressões! Apenas nos preocupámos em registar o mais fielmente possível, em
termos musicais e líricos, o estado emocional em que nos encontrávamos na
altura.
Mas durante estes últimos três anos houve outras mudanças. O
título e a editora era para ser outros não é verdade?
JB: Começando pelo título! Lisboa
Depois de Morta era um nome que tínhamos e que se destinava a um trabalho
posterior. O título Thragedium para o álbum foi sempre um título
provisório, e que serviu o objetivo de enquadrar o lançamento do single Lucefécit
em 2020. Com isso demos uma prova de existência para que todos soubessem o que
a banda estava e iria fazer de futuro. O título Lisboa Depois de Morta
é perfeito para aquilo que o disco representa, pois pode remeter para um tempo
antigo e simultaneamente ser aplicado à atualidade, aliás, tal como a própria
música dos Thragedium, que também ela contém essa intemporalidade.
Quanto à editora, são coisas que acontecem no meio musical. Seremos eternamente
gratos a todos aqueles que nos têm ajudado ao longo deste nosso regresso
enquanto banda.
Já agora, quanto ao título, como surge Lisboa Depois de Morta e que significado tem?
JB: Tal como se escreveu na
resposta anterior, remete totalmente para a intemporalidade! Pode ser o passado
como o presente e quem sabe até o futuro! Não poderíamos ter melhor título do
que este para todo o conteúdo musical e lírico deste disco.
Musicalmente é suportado por alguns grandes hinos dentro do
género e sempre com a habitual mistura de estilos. Consideram este o vosso
disco mais bem conseguido a esse nível?
JB: Sem dúvida! Existe uma
maturidade aliada a uma certa simplicidade de processos que torna realmente
este disco numa coisa única no meio de um panorama cada vez mais genérico e sem
identidade! Identidade já os Thragedium tinham atingido com o seu disco
de estreia editado há mais de 20 anos, mas, acreditamos que em termos criativos
conseguimos com este novo álbum desenvolver e elevar esse patamar a um nível
único de autenticidade e sonoridade.
Pelo menos, a atender pelas reviews, estas têm sido soberbas. Esperavam uma reação tão
massiva por parte da comunicação social?
JB: Sinceramente, não! Toda e
qualquer expetativa que pudéssemos ter em relação ao assunto, que na verdade
nunca esteve presente, tem sido superada pelo que tem sido escrito sobre o
álbum! Particularmente lá fora onde quem tem tomado conhecimento do nosso trabalho
pela primeira vez, ouvido as músicas, percebido o seu conteúdo e todo o
conceito que o envolve, revela uma curiosidade fora do comum e níveis de
aceitação e interesse bastante gratificantes.
Em termos de membros, o habitual trio está aumentado com a
entrada do César para a bateria. É um membro permanente dos Thragedium?
JB: O nosso
baterista, César Feiteira, é um dos membros fundadores dos Thragedium
que, infelizmente, devido a problemas de ordem pessoal e profissional não nos
pode acompanhar logo desde o início neste regresso. Tivemos connosco nesse
período o João Paulo Monteiro que nos ajudou na percussão, mas, que
devido aos problemas de saúde que já tinha e que lhe tiraram a vida mais tarde,
não pode permanecer no lugar. Para a gravação, recrutámos o Hugo Ribeiro
dos Moonspell que fez um trabalho excelente! Mas, o nosso baterista
sempre foi o César e assim que conseguiu resolver todas as suas questões
particulares, juntou-se a nós, como sempre assim esteve estabelecido.
E também há convidados, não há? Querem apresentá-los? Qual foi a
vossa intenção ao convidá-los?
JB: O Pedro Oliveira dos
Sétima Legião dispensa apresentações! Contribui com o seu talento único
no tema Um Mal Necessário, que assim que foi escrito soubemos logo que
estávamos diante de algo muito especial e que nunca tínhamos feito. A atmosfera
musical e a letra em português remetiam para esse tipo de influência sonora. Em
tom de brincadeira falámos com o Fernando Ribeiro da Alma Mater/Moonspell
sobre de como seria único ter o Pedro Oliveira como convidado, ele disse
que o conhecia e colocou-nos em contacto. É um ser humano bastante afável, enfim,
um senhor da música portuguesa. Foi uma honra ter a sua participação no álbum
assim como o de estar com ele em palco no concerto de Halloween. A Marie
Beatriz Lúcio foi vocalista de uma banda de música tradicional chamada Xaile.
Convidámo-la porque a sua capacidade e beleza vocal enriquece musicalmente
ainda mais os temas Nation Fall e The Old Oak.... O Hugo
Ribeiro, baterista de Moonspell, aparece pelas razões descritas na
resposta anterior.
O álbum já está disponível desde final de outubro. Como têm sido
as reações da imprensa e dos fãs?
JOÃO PAULO FARINHA (JPF): As reações têm sido muito boas tanto da imprensa
como dos fans. Excelentes críticas da imprensa por esse mundo fora enaltecendo
a originalidade e a sonoridade única que o disco possui.
Desde essa altura, já tiveram a oportunidade de apresentar este
álbum ao vivo? E o que mais têm planeado para este novo ano?
JPF:
Para já fizemos a primeira apresentação ao vivo na Incrivel Almadense na
primeira parte do concerto dos enormes Moonspell no dia de Halloween
em que tocamos 50 minutos para uma plateia repleta e atenta à nossa música e
atmosfera. Foi um dia magnífico. THRAGEDIUM subiu a um palco mais de 20
anos depois. Foi deveras especial e muito sentimental para nós. Esperamos agora
apresentar em 2024 o nosso espetáculo completo do álbum Lisboa Depois de
Morta. Estamos a trabalhar nesse sentido. Continuar a divulgar a nossa
música e fazer chegar o "Lisboa" ao maior número de pessoas
possível.
Obrigado, pessoal! Deixo-vos a oportunidade de acrescentar mais
alguma coisa que achem pertinente…
JPF: Agradecer mais
uma vez à Via Nocturna pelo apoio e colaboração na divulgação do nosso
trabalho e fazer o apelo a todos para descobrirem a nossa música, seguirem a
banda nas redes sociais e comparecerem nos nossos concertos que vai valer a
pena. Um grande
abraço lusitano a todos os que nos têm ajudado a fazer crescer este disco ele é
dedicado a todos vós.
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