Reviews VN2000: BASALTO; JEFF AUG; KARMAMOI; THE MAGIC BUS; CANCRO



Blunt Knives (BASALTO)

(2024, Independente)

Guilherme de Sousa tem formação musical em clarinete, em teatro e em dança contemporânea. Criativamente trabalha com Pedro Azevedo na denominada Associação Cultural Bluff. Desta forma nasce o projeto musical Basalto (não confundir com a banda de stoner rock/metal de Viseu com o mesmo nome) que se estreia com o EP Blunt Knives. Este é um conjunto de seis temas onde fica bem evidente a formação em teatro do autor, pela sua abordagem poética e de representação, algumas vezes até com uma capa de religiosidade. Um conjunto de temas sombrios e atmosféricos, que em Penelope surpreende pela ligação entre um fraseado hip hop e uma melodia infantil. Às vezes apenas com piano, outras com beats, orquestrações ou sons estranhos, estes seis temas marcam pela emotividade e sentido estético e cinematográfico. Então vocalmente, é uma delícia! Chega a arrepiar a forma como Guilherme de Sousa se entrega aos textos, num registo que só é comparável a Leonard Cohen. Este EP não chega a 20 minutos de música, mas, para primeira amostra, temos aqui talento e criatividade acima da média. Para acompanhar e aguardar por mais. [88%]



 

Kiss Of The Liquid Moon (JEFF AUG)

(2024, Heavy Progressive Records)

Habitualmente ouvimo-lo no seu coletivo de rock instrumental Ape Shifter, mas Jeff Aug já vai no seu nono álbum acústico e instrumental a solo, se incluirmos aqui os dois que lançou com Niko Lao no duo Floating Stone. Quem tem acompanhado o trabalho a solo do alemão já sabe com o que contar. Quem só o conhece dos Ape Shifter, este disco é um mundo à parte, sendo que a nota mais saliente (ou a única nota a salientar) é o corte de energia. Kiss Of The Liquid Moon é completamente acústico e pode ter duas visões: apenas a solo ou acompanhado por alguns convidados. Apenas a solo, acontece na maioria do álbum, e podemos perceber a qualidade técnica de Aug, embora mais pareça uma master class, de que um álbum para ser desfrutado por fãs. Acompanhado, temos os melhores momentos do disco. Seja com o violoncelo de Francesco Fosati e o contrabaixo de Thomas B. Berger em Matilda’s Lullaby, seja no trabalho jazzístico do piano (cortesia de Murat Parlak), percussão (William Wertlieb) e contrabaixo em One Way Beat. Ou, finalmente, no uso de sopros (nenhum nome creditado) em Baritone Butterfly. No final, os estudantes de guitarra clássica poderão estar interessados neste álbum; para os restantes passará ao lado. [74%]



 

Strings From The Edge Of Sound (KARMAMOI)

(2023, Independente)

Daniele Giovannoni (bateria) e Serena Ciacci (vocais) fundaram os Karmamoi em 2008. E desde essa altura, com as diversas alterações de formação que levam a que, atualmente, apenas o primeiro nome se mantenham, têm vindo a lançar alguns importantes álbuns no segmento de um prog rock elegante e com ares de sinfónico, bem na linha dos Pink Floyd. O mais recente álbum de originais foi Room 101, datado de 2021, ao qual se sucedeu o registo intitulado Strings From The Edge Of Sound, disponível desde setembro do ano passado. Na realidade, este é um disco que apresenta apenas quatro temas originais (Black Hole Era, Tell Me, I Will Come On Your Dreams e o curto outro polifónico que encerra o álbum e que também o nomeia). Os restantes cinco são versões orquestradas de temas anteriormente lançados: Nashira vem do álbum Silence Between Sounds, de 2016; Take Me Home e Your Name do álbum The Day Is Done, de 2018 e Room 101 e Zeleaous Man, do já referido álbum Room 101, de 2021. De facto, apesar de, à primeira vista, nada haver neste álbum que justifique a sua audição ou aquisição (afinal, temas novos são menos de 50%), a verdade é que as roupagens com que a orquestra vestiu os restantes cinco temas revela um trabalho digno de registo. Instrumentalmente, esperem o tradicional do melhor prog rock da escola italiana (subtileza, sensualidade, melodia, envolvência, alguma teatralidade), mas adicionem a riqueza instrumental do uso de uma orquestra, o que proporciona uma nova visão e amplitude da música dos italianos. Uma conjugação perfeita. Ficamos agora à espera da mesma competência orquestral em temas originais. [86%]



 

Σε Άγνωστα Νερά (THE MAGIC BUS)

(2024, Independente)

The Magic Bus é um coletivo grego que nos surpreendeu em 2021 com o álbum The Castle. E volta a mostrar muito bons argumentos em Σε Άγνωστα Νερά, o EP de 4 temas com que abrem 2024. No fundo, este é um EP que tem apenas como missão mostrar que a banda ainda está viva. Dos quatro temas, os dois primeiros são versões, sendo que o segundo, Βασιλική, recupera uma belíssima melodia tradicional grega. Os dois restantes mostram bases acústicas em Το Κάποτε Εγώ e fortes dinâmicas teatrais (incluindo narrações e spoken word, ou não fosse este tema a adaptação para rock de um poema de Dimitris Panagodimos) em Καράβι Φάντασμα. Ou seja, continua-se a trabalhar bem nos The Magic Bus. Ficamos, agora, é à espera de mais, porque estes 14 minutos sabem a muito pouco. [77%]



 

Influência Artificial (CANCRO)

(2023, Independente)

Influência Artificial é o segundo registo dos Cancro, trio formado por Tiago Lopes, José Penacho e Fábio Jevelim e traz nove temas onde o coletivo desbrava com acidez a podridão do mundo atual. Sarcásticos, mordazes e corrosivos, como sempre, deixam que o ritmo das suas palavras marque o caminho que a sua música irá trilhar. E esta é feita de uma agressividade carregada de fraseados hip hop, eletrónica, hardcore, noises e beats. Assim como uma intrigante mistura entre os Mão Morta, os Bizarra Locomotiva, os Prodigy e os Rage Against The Machine. A componente melódica e mais acessível (ou pelo menos mais próximo disso) é-nos trazida pela versão do tema Fala-me dos Santos & Pecadores (originalmente Fala-me de Amor). Tudo o resto pode ser enquadrado numa ótica de um comício de horrores, onde vão sendo proferidos os seus ideais de uma teatralidade bizarra. Aconselhado apenas aos mais audazes. [70%]

  

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