The Early Years (1979-1982) (FARGO)
(2024,
Steamhammer/SPV)
As histórias dos Fargo
(provavelmente menos conhecidos) e dos Victory (esses mesmos, bem mais
conhecidos) confundem-se. Os Fargo nasceram em 1973 por ação de Peter
Knorn e, até 1982 lançaram quatro álbuns. Após um período de turbulência,
os Victory emergiram a partir dos Fargo e continuaram a sua
carreira de sucesso. Mas, em 2018, os Fargo ressurgiram com Constellation
ao qual se seguiu Strangers D’Amour. Ora o que a sua atual editora nos
propõe é uma viagem histórica pelos primórdios de toda esta história:
precisamente os quatro primeiros álbuns dos Fargo originais. Wishing
Well foi a primeira obra, originalmente lançada em 1979 sob o selo Crystal,
uma subsidiária da EMI. Do line-up faziam parte Frank Tolle
(bateria), Hanno Grossmann (guitarras), Peter Knorn (baixo) e Peter
Ladwig (vocais, guitarras). Este é um delicioso trabalho de um hard rock
inspirado no blues, tão típico da época, mas onde já sentia aquele
espírito rockeiro que viria a fazer dos Scorpions, por exemplo,
um sucesso mundial. Os Fargo não tiveram o mesmo sucesso, mas a
qualidade já estava toda lá. Depois da tour de Wishing Well, a
banda começou a gravar No Limit que seria lançado pelo mesmo selo em
fevereiro de 1980. Uma abordagem ligeiramente diferente, com mais ambiência
sulista e até algum funk. Para este álbum a banda chamou Kalle Bösel
para o piano e órgão e Neeltje Groneman para os backing vocals.
Em dois temas, I'm A Loser e The Last, o
baterista Frank Tolle foi substituído por Ede Schicke, o que deu
origem a uma história surreal, que poderão confirmar na entrevista que Peter
Knorn nos concedeu. Outro dado curioso, aconteceu na tour deste
álbum: o baixista sofreu uma lesão nas costas no palco em Leonberg quando, como
era prática comum na altura, deu uma cambalhota para a frente com o seu
instrumento. Depois de um relativamente amorfo No Limit, a banda alemã
volta aos seus melhores desempenhos com o espetacular Frontpage Lover,
lançado em 1981 e já pela Harvest. Este foi o álbum que trouxe a entrada
do reggae em A Girl Like A Trigger e coros gospel (cortesia
de Lisa Fields e Jane
Palmer) em 27 Hours A Day, entre um
conjunto de outros geniais temas (Arrows In The Wind, Tokyo, Angel,
Little Miss Mistery). Foi durante a fase de gravação deste álbum, que os
Fargo abriram para os AC/DC, na sua tour de promoção do
seminal Back In Black. Foram dois concertos em Ravensburg e Munique que
só aconteceram porque o vocalista dos Whitesnake (a banda de abertura
prevista) tinha partido uma perna! Um ano depois surge F, um álbum mais rockeiro
e até com um sentimento um pouco mais pop, embora o instrumental que
encerra o álbum, Hard Attack, bem possa ser considerado como um
precursor do power metal! Este é o álbum que fica marcado pela saída do
guitarrista Hanno Grossmann que tinha gravado os três registos
anteriores. Para o seu lugar entraria o agora lendário Tommy Newton! Foi
o último trabalho antes das diversas alterações de formação e a turbulência a
elas associada terem dado origem aos Victory. [87%]
Edição de Autor Volume II (V/A)
(2023,
Ethereal Sound Works)
A revista Lusitânia foi um dos
mais interessantes projetos editoriais nascidos para promover o rock e o
metal feito em solo nacional (e às vezes até fora, mas feito por gente
nacional!), dos últimos tempos. Mas que, infelizmente, já encerrou portas. Pela
sua qualidade e relevância, ainda esperamos um renascimento. Enquanto tal não
acontece, esse foi um projeto que, apesar de curto na sua duração, deixou uma
marca de valor acrescentado para a cena. E deixou um legado que, felizmente, teima em se
mostrar. Trata-se da compilação Edição de Autor que, em finais do ano
passado, viu nascer o seu segundo volume. Eventualmente menos orientado para o metal
e mais para o rock do que o primeiro, este segundo volume volta a
apontar holofotes para 13 nomes nacionais que têm, efetivamente, muito a
mostrar. Uns mais conhecidos que outros; uns já com álbuns lançados, outros
não; uns em português (apenas três ilustres exemplos) ou em inglês. Mas sempre
com uma qualidade acima da média e com orientações estilísticas diversificadas
a mostrar como bem se tem trabalhado neste capítulo em Portugal. Nomes que
apenas precisam de ter visibilidade. E que precisam ser descobertos. E esta Edição
de Autor é um primeiro passo para tal. Que venha o terceiro
volume! [87%]
Switch To Reset (CROSSFIRE)
(2023, Wormholedeath Records)
Switch To Reset é o álbum de estreia dos Crossfire e
representa anos de trabalho árduo na criação das melhores malhas thrash metal tradicional. Os temas são
longos, o que poderia indiciar uma abordagem criativa à composição, o que não
se verifica, com os irlandeses a preferirem, muitas vezes, seguir outro
caminho. E este é um caminho com muita intensidade, muito frenesim, mas nem sempre
com o melhor discernimento e poucas vezes com capacidade para injectar algo
diferenciador. Um caminho que também torna Switch
To Reset um álbum rico em riffalhadas
poderosas, mas com uma sonoridade pouco fluida. Embora, ainda assim, se
apresentem momentos que ficam na memória: Lost
All Control (num registo à lá Metallica),
Guns For Hire (excelente malha com o equilíbrio perfeito entre melodia e
agressividade) e, principalmente, o espectacular encerramento com o longo épico
instrumental Prometheus. Ficamos
curiosos em voltar a ouvir estes Crossfire, depois de limadas algumas
arestas, nomeadamente, sendo capazes de expandir a sua sonoridade para outro
nível de arranjos. [77%]
Under The Blades (ROCKET FUEL)
(2023, Independente)
O objetivo dos Rocket Fuel não parece
ser muito viável, pelo menos à partida. Juntar punk e metal,
significa juntar dois lendários inimigos, mesmo que os dois estilos tenham mais
semelhanças que diferenças, apesar do que se vem defendendo. Mas os
neerlandeses conseguem superar essa aparente dificuldade. Pelo menos em termos
criativos superam; se depois o conseguem ao vivo, juntando as duas fações,
ainda vamos a tempo de ver. Bom, mas falando de Under The Blades, este é
o primeiro longa-duração da banda após o EP de estreia de 5 temas, Too Big
Too Early. E o que apresentam nos 11 temas que compõem este álbum é
precisamente a junção que falámos a abrir. Por um lado, punk rápido e
alegre, com refrões cantaroláveis e catchy, seguindo a linha dos NOFX,
Bad Religion ou Green Day; por outro, riffs pesados,
vocais agressivos e solos afiados, na linha de nomes como Pantera, Killswitch
Engage ou mesmo Metallica. E, ainda há tempo, para um fraseado rap
em Room 1.01! O que de bom Under The Blades tem é que consegue
essa junção de fações com fluidez e sem atropelos. E respeitando o espaço e as
matrizes de cada género. [76%]
Through The Gate Of Hatred And Aversion (POSEYDON)
(2023, Necktwister)
Olhando para a história dos Poseydon,
parece que as coisas não têm sido fáceis. Nascidos em 1992 na Bélgica,
terminariam sete anos depois sem terem lançado nenhum álbum; reativariam as
suas funções em 2006 e ao longo deste vasto tempo, um pecúlio muito curto de
apenas dois álbuns, o mais recente dos quais, datado do último trimestre do ano passado e intitulado Through The Gate Of Hatred And Aversion. São 11 temas
de death/thrash metal muito maquinal e poderoso. Caraterísticas que lhe são
conferidas por riffs maciços e uma bateria demolidora. Todavia, sem
grandes pormenores que os destaquem das outras bandas do género. Só a partir de
Enter The Gates Of Hell, com a inclusão de spoken word, variações
rítmicas e leads melódicos é que os belgas começam a mostrar outros
argumentos. Que continuam em The Power Of Destruction And Decay (muito
bem conseguido o desenvolvimento em simultâneo de guturais e um solo melódico)
e Human Suffering, uma faixa que, efetivamente, consegue fazer passar
para o ouvinte todo um sofrimento atroz. Para o final estão ainda guardadas as
melhores harmonias com The End Is Near e For All Eternity. De
facto, Through The Gate Of Hatred And Aversion é um disco a duas
velocidades. A primeiro metade não convence; a segunda é muito boa. Teremos de
esperar por um próximo capítulo para perceber quanto valem, efetivamente, estes
Poseydon. [70%]
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