Live Report: Therion + Satra

 


 

Foi ainda antes das polémicas declarações de Cristoffer Johnson relativamente a uma possível tour dos Therion pela Rússia que os suecos fizeram a sua Leviathan Tour 2024 passar pelo Porto, naquele que foi mais uma atuação perfeita de um dos melhores coletivos de Symphonic Metal de sempre.

Apesar de o dia ter sido tempestivo e os especialistas meteorológicos preverem neve em grandes quantidades para algumas das regiões norte do país, quando se abriram as portas da sala 1 do Hard Club a chuva e o vento afastaram-se para dar lugar a uma bela noite que convidava todos os fãs dos sons mais pesados a deslocarem-se até à baixa do Porto para ver o regresso dos Therion a Portugal e à cidade invicta.

Vindos da Finlândia, os Satra foram a banda escolhida para abrir as hostes e preparar todos os presentes para a apoteose que se seguiria. Sands Of Time, o seu álbum debut, fora lançado uma semana antes e por isso o setlist focou-se nos temas desse segundo trabalho de estúdio. Musicalmente, a exibição dos finlandeses situou-se algures entre os Edenbridge e os Sirenia e foi extremamente bem conseguida, mostrando a todos os presentes porque é que são um dos nomes mais promissores da nova geração do Symphonic Metal e do Female Fronted Metal.

A coesão e a capacidade de apresentar ao vivo aquilo que haviam gravado em estúdio uns meses antes foram os principais highlights do concerto, principalmente tendo em conta a juventude e relativa inexperiência do coletivo. Se musicalmente a exibição foi praticamente perfeita, com exceção a algumas falhas vocais tanto na voz angelical de Pilvi Tahkola como nos guturais de Niko Valjus, o mesmo não pode ser dito relativamente ao espetáculo apresentado pelos intervenientes. A interação com os portuenses que se deslocaram mais cedo ao Hard Club foi praticamente inexistente, a presença de palco de todos os membros deixou muito a desejar e a aparente indiferença dos músicos em relação ao público transformaram as suas composições em algo banal e amorfo. O quarto concerto da banda nesta tour terminaria com Golden City, um dos melhores temas de Sands Of Time, naquele que foi o final de uma exibição sem qualquer carisma ou individualidade.



Não foi preciso muito tempo para os Therion cumprirem a tarefa que os Satra não foram capazes de atingir. As primeiras notas de The Blood Of Kingu foram suficientes para levar a sala 1 do Hard Club a entrar em ebulição. Algo grandioso estava prestes a ser construído, tanto visualmente como musicalmente.  

Visualmente, a sua exibição não podia ser mais diferente daquela que fora apresentada minutos antes pelos Satra. Recheada de carisma, repleta de personalidade e rica em teatralidade, os comandados de Cristoffer Johnsson apresentaram uma conjugação perfeita entre clássicos e temas da mais recente trilogia Leviathan, cobrindo praticamente todos os álbuns da sua carreira, incluindo até dois temas de Les Fleurs Du Mal. Mon Amour, Mon Ami e La Maritza foram as escolhidas para representar este álbum e foram magistralmente interpretadas. A regressada Lori Lewis, a sempre cativante Rosália Sairem e o veterano Thomas Vikstrom brilharam com a magia das suas interações sentidas e icónicas, no momento onde o concerto se aproximou mais do clássico formato de ópera, a que os Therion nos habituaram ao longo dos seus 36 anos de carreira.



Mas não foram apenas os vocalistas que mostraram a sua qualidade e características únicas. Com o seu visual de lunático viajante no tempo, Christopher Davidsson liderou o trio de cordas em todos os temas com o seu baixo preponderante e cheio, sendo ainda capaz de emprestar os seus dotes vocais ao glorioso coro masculino composto por ele próprio, Thomas Vikstrom e Christian Vidal. Também o guitarrista argentino merece destaque pela sua prestação e especialmente pelos seus solos extremamente emotivos e pela personalidade e segurança com que os executou. Já Cristoffer Johnsson mantém o seu papel como maestro desta muito bem afinada orquestra de Heavy Metal, uma das melhores que o mundo já viu e que marcou gerações. Prova disso mesmo foi uma plateia multigeracional que assistiu com entusiasmo ao concerto e que certamente fez o génio sueco repensar a sua decisão de diminuir consideravelmente o número de concertos a realizar.

A noite seguinte levaria os Therion até Lisboa, naquele que provavelmente terá sido o último concerto dos suecos em Portugal em muitos anos, algo que dá ainda mais valor a todas as memórias captadas durante este mágico espetáculo. Voltem depressa! O público português espera-vos.

Agradecimento especial: Nuno Reis e Caminhos Metálicos (reportagem fotográfica)

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