Entrevista: Ellipsis Quintet

 


Emigrado na Áustria, o grego Vasilis Nalbantis quis trazer para este álbum o sentimento de ser emigrante. Mesmo que de forma voluntária e a fazer o que gosta de fazer. Assim nasceu o primeiro tema cantado dos Ellipsis Quintet, coletivo também ele formado por músicos das mais diversas paragens. Influências que se transferem para a música. E mesmo que isso possa ser um dilema, Aristotle’s Dilemma, título do mais recente álbum do coletivo, prova que, afinal, não o é. Fiquem com as palavras do líder e trompetista Vasilis Nalbantis.

 

Olá, Vasilis, como tens passado? Obrigado, mais uma vez, pela disponibilidade. Em primeiro lugar, parabéns pelo vosso excelente novo álbum. Mas o que têm feito os Ellipsis Quintet desde a última vez que conversamos, em 2022?

Olá, Pedro, estou bem, e tu? Obrigado por me dares a oportunidade de falar sobre o novo álbum! Estou muito honrado que tenhas gostado! Pois bem, desde 2022 fizemos alguns concertos, maioritariamente locais. Infelizmente não fizemos nenhuma grande tournée porque a agenda lotada de todos os músicos torna isso muito difícil. Mas há planos otimistas para os próximos meses/ano no que diz respeito à realização de espetáculos. Juntamente com o nosso agente, estamos a trabalhar duro para tocar em tantos lugares quanto possível sem ter que diminuir a qualidade da nossa produção ao vivo.

 

O novo álbum foi lançado, portanto o que nos podes dizer a respeito de Aristotle’s Dilemma? Que dilema é esse que trazes para a tua música?

O álbum é maior (em termos sonoros) e explora ainda mais géneros do que Avoid The Void.  Acho que o tom geral dele às vezes é um pouco sombrio, menos alegre do que o nosso primeiro álbum. Com riffs enormes, mas descolados, de guitarra pesada e afinada, baixo cheio e bateria forte! O meu ‘’dilema’’ era qual o papel que o trompete deveria desempenhar neste som mais prog-rock e prog-metal? Estar na frente e ocupar muito espaço como uma voz faria em produções mais comerciais ou fazer parte do arranjo? Eu escolhi o último. Claro, faço vários solos, mas sempre como parte do arranjo e dentro do som coletivo, ao invés de exigir toda a atenção.

 

E como cruzas esses dilemas com as tuas influências musicais leste-oeste?

A fusão da música oriental, microtonal e não temperada com os géneros ocidentais temperados tem sido algo que tenho explorado constantemente há 15 anos. E este álbum é mais um exemplo desse processo. Experimentei novas formas de combinar as duas sensibilidades, desta vez com riffs de guitarra mais pesados e distorcidos, o que adoro! Também usei muito mais o meu trompete microtonal caraterístico com estas novas músicas. Compus e arranjei o material com este instrumento em mente.

 

Para este novo álbum, quais foram os teus principais objetivos? Ser ainda mais experimental, mais catchy, mais pesado ou uma mistura de tudo?

Em princípio, deixo que a música e a minha inspiração me levem para onde quiserem, sem estabelecer um objetivo específico. E levaram-me por caminhos mais pesados! O que não foi inesperado! Nos últimos dois anos tenho gostado mais de música pesada e progressiva, bem como de sons gregos bizantinos e folk orientais. Acredito que estes dois elementos assumiram o papel principal no processo de criação da nova música. Claro que nunca poderei deixar de lado o meu amor pelo jazz e pela fusão.

 

Mesmo sendo um projeto com forte foco em arranjos instrumentais intrincados, em Aristotle’s Dilemma apresentas uma música com letra. Por que tentaram esta esta opção desta vez?

A necessidade de escrever letras e fazer uma música de verdade num projeto principalmente instrumental veio de um sentimento específico, uma situação que tem sido uma grande parte de mim nos últimos anos. Ser emigrante (por opção) ao longo dos anos cultivou em mim uma estranha sensação de vazio. Um sentimento de não pertencer verdadeiramente ao lugar onde moro, mas, ao mesmo tempo, mudar o suficiente para não mais pertencer totalmente ao meu país de origem. Um estado talvez autoinfligido de não estar mais em casa. Esse sentimento está encapsulado nestas duas frases da música: “Lá eles não sabem o teu nome. Aqui tu mesmo o esqueceste”. É claro que não comparo os meus problemas com os milhões de refugiados e emigrantes da guerra e da fome. Apenas conto a minha perspetiva sobre algo que outras pessoas podem estar a sentir.

 

Onde encontraste essa cantora incrível, Afrodite Elizavet Radisz?

Afrodite é um caso especial de pessoa! Ela é meio grega, meio húngara, mas cresceu na Hungria. Ela canta música folk grega e húngara e, embora jovem, já faz muito sucesso! Ela visitou Graz (onde moro) há alguns anos como parte de uma banda chamada Maybahar. Convidámo-los para um minifestival organizado por uma associação musical de orientação oriental da qual sou membro. Fiquei realmente impressionado com as suas habilidades vocais e basicamente escrevi a música a pensar no seu timbre vocal!

 

Já pode ser considerada a sexta elipse?

Ela cantará connosco nos próximos espetáculos de apresentação do CD, mas não posso contar sobre o futuro. Embora eu pretenda incorporar mais vocais no futuro som e arranjos da banda!

 

Já que falamos de membros, neste álbum dão as boas-vindas a um novo baterista. Desde quando está o Luís está a bordo?

Gosto sempre de colaborar com pessoas em quem posso confiar e que estiveram bem no passado, em todas as áreas. Portanto, naturalmente, eu também queria ter o mesmo músico. Eu considero todos eles amigos e eles também gostam de música! Embora eu tenha tentado acomodar a agenda de Balazs para que ele pudesse vir gravar, simplesmente não foi possível. Ele estava naquele momento num lugar muito especial na vida dele que não permitia tocar connosco. Por isso, a próxima escolha lógica foi Luís. Ele toca de tudo, desde free jazz até deathcore metal! E é muito rápido a agarrar novas ideias e já o conheço há anos. Estudamos na mesma universidade. Foi um prazer gravar e conviver com ele. Nos próximos espetáculos ele com certeza tocará bateria nos Ellipsis. Também é bastante provável que Balazs volte a tocar connosco. Isso porque ser músico é tocar em diversos projetos. Portanto, se o cronograma não funciona com um, talvez funcione com outro.

 

Já teve a oportunidade de colaborar no processo criativo?

Cada músico coloca o seu próprio som e caráter naquilo que toca. Às vezes menos, às vezes mais, dependendo da música. Nesse sentido sim, ele já se colocou na música.

 

Já agora, a respeito do processo criativo de Aristotle’s Dilemma, seguiste o caminho utilizado no álbum anterior ou, desta vez, tentaste algumas abordagens novas?

As músicas do primeiro álbum já estavam cozinhadas há algum tempo. Fosse por mim a fazer alterações nas músicas ou pelos outros membros a adicionar ou a subtrair algo enquanto ensaiávamos e tocávamos. Mas eu fiz principalmente a composição e os arranjos. Havia sempre um bom espaço para interpretar a música. Desta vez, porém, eu mesmo escrevi toda a música e arranjei 95% até as notas. Isso porque eu tinha uma forte ideia para onde queria que as músicas fossem e onde não iriam. É claro que deixo algumas partes abertas para improvisação, e como sou um mero trompetista, deixo para cada um fazer o seu próprio som. Por exemplo, o tom pesado da guitarra durante a gravação foi definido por Tomas e Markus (que é um produtor e engenheiro de áudio muito bom e competente). Acabo por dizer se gosto ou não! Ellipsis Quintet está entre um projeto solo e uma banda. Sei muito bem o que quero que a música diga, mas na maioria das vezes deixo espaço para os músicos se expressarem.

 

Desta vez trabalharam juntos em Graz ou a opção do trabalho remoto foi usada com mais frequência?

Cerca de 95% da música já estava escrita e definida antes de começarmos a ensaiar. Mas quando eu escrevia alguma coisa que não tinha certeza se funcionaria na guitarra, no baixo ou na bateria, pedia-lhes para darem uma olhadela no instrumento e me contarem como ficava enviando-me uma pequena gravação para eu ouvir como soava. Fiquei durante algum tempo trancado numa sala a escrever, portanto estava muito ansioso por poder compartilhar com eles uma ideia que achei boa e esperava que eles também achassem!

 

O álbum foi lançado recentemente, mas já tiveram a oportunidade de tocar estas músicas ao vivo? O que estão a preparar para uma tournée de divulgação deste álbum?

Os dois primeiros concertos agendados foram nos dias 30 e 31 de maio, em Viena e Graz. Aí apresentaremos o álbum pela(s) primeira(s) vez(es). Estou realmente ansioso por isso! As próximas datas virão em breve!

 

Obrigado, Vasilis, mais uma vez. Queres enviar alguma mensagem aos nossos leitores ou aos vossos fãs?

Obrigado, Pedro! Eu recomendo a quem ler esta entrevista que nunca pare de explorar e procurar novas bandas e músicas. Fiquem com fome de arte!


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