Entrevista: Zurrapa

 


Os viseenses Zurrapa continuam a ter muito em quem bater e, por via disso mesmo, motivos de inspiração é coisa que não falta. E é o que volta a acontecer com Manual de Incitação a uma Vida Boçal, o mais recente e, provavelmente, o trabalho mais consistente do trio punk. Nuno Mendonça também concorda nesta conversa que mantivemos com o baixista.

 

Olá, Nuno, tudo bem? Bom, e como não quer a coisa, aí está mais um disquinho… E a mim parece-me o vosso melhor registo até agora. Concordas?

Tenho de concordar, para mim também é o nosso melhor disco. Mas isso é sempre um pouco relativo, tenho quase a certeza de que o próximo será igualmente o nosso melhor disco. Mas neste momento, sim, penso que o disco ficou como nós queríamos em todos os aspetos, até na produção e artwork.

 

De facto, parece-me que as linhas melódicas estão mais bem desenvolvidas e o teu baixo transmite muita energia. Alteraram alguma coisa na forma de composição ou foi apenas a colheita que saiu melhor?

A forma como o disco foi trabalhado foi um pouco diferente do que costumamos fazer. Normalmente vamos fazendo as músicas nos ensaios enquanto trabalhamos o set para os concertos. Desta vez fomos fazendo uma espécie de esqueletos onde existia essencialmente uma quadra e um refrão ou algo do género e uma linha melódica da voz. E avançávamos para outra. No final pegamos em cada uma e trabalhamos até termos uma música (ou o que entendemos como tal). Definitivamente não é a nossa forma favorita de trabalhar, embora exista outro tempo para se ver arranjos diferentes, no fim acabamos por dar umas retificadas em algumas coisas e cagar nos arranjos.

 

Tematicamente, continuam a ter muito por onde se espalhar. Como é que escolhem é quem é que vão cortar e dilacerar?

Sim, não nos falta em quem bater! Mas os temas vão aparecendo um pouco conforme o momento. Como há sempre tanta merda a acontecer, às vezes fica difícil é malhar em todos! É uma questão de momento mesmo, com exceção de alguns que tem que levar sempre por razões óbvias.

 

Este conjunto de temas são todos recentes ou ainda descobriram algum tipo reserva na vossa garrafeira?

São todos novos, não houve reciclagens nem reaproveitamentos. O único que já existia antes de começarmos o disco era a Valsa porque foi feita para um casamento em que tocamos no verão passado. Mas tudo o resto nasceu dos tais esqueletos e sessões de invenções.

 

Como é que surge este título Manual de Incitação a uma Vida Boçal?

O título é um pouco o retrato do que vemos na nossa sociedade. A falta de cultura (e cultura geral), o não saber utilizar a nossa própria língua (escrita e falada) e o total desinteresse nisso tudo quando tudo está mais acessível que nunca. É um pouco aquela ideia de que se és burro e é assim que queres continuar, toma lá um manual.

 

Sei que não gostas muito de estúdio, mas como correram as coisas desta vez?

Nem é não gostar muito, não gosto mesmo! Numa primeira fase correu tudo mal. Já tínhamos quase tudo gravado e fizemos uma cagada tão grande na captação da bateria que tivemos de a regravar toda, não havia mesmo salvação possível. Andamos ali uns dias a bater mal sem saber o que fazer à vida, mas lá nos decidimos e regravamos a bateria toda e aí sim, ficou mesmo como queríamos. O resultado final é precisamente o que pretendíamos no que há produção diz respeito.

 

Live Fast, Die Drunk é uma homenagem aos Motörhead. Quão influentes foram eles no vosso crescimento como músicos?

Os Motörhead são uma influência gigante para quase toda a gente, acho eu. Pelo menos para nós, de uma forma ou de outra, mais num momento ou noutro, os Motörhead tiveram um papel muito importante no nosso desenvolvimento. Para mim sempre foram uma das minhas bandas de eleição... e sempre serão. 

 

Como é que estamos em termos de palco? Tem havido oportunidades para apresentar estas novas composições?

As datas estão a aparecer a bom ritmo. Não nos podemos queixar, devagarinho a coisa está a compor-se. Estamos a fazer uma setlist com várias musicas do disco novo e as reações tem sido extremamente positivas.

 

Como estão os teus outros projetos, Basalto e Tvmvlo? Há novidades para este ano?

Tvmvlo vamos começar a gravar este mês, temos o disco composto e pronto e é mesmo para avançar já para estúdio. Basalto está numa fase diferente e nos próximos tempos iremos dar novidades.

 

Obrigado, Nuno! Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores e para os vossos fãs?

Nós não temos fãs, temos pessoal que acha piada às nossas músicas e que curte ir aos nossos concertos e beber umas frescas connosco! Mas são as mesmas frases de sempre, que continuem a apoiar as bandas comprando os discos, merch, indo aos concertos, etc., a ver se isto não morre e claro, leiam e apoiem também a malta que se dá ao trabalho de fazer blogs, fanzines, programas de rádio e por aí fora. E mais uma vez muito obrigado a ti Pedro e à Via Nocturna por nos darem este espaço e ajudarem na divulgação! Grande abraço!!!

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