Os
Grievance são uma banda portuguesa de black
metal formada em 1997 por Koraxid e Azarath, passando a formato one-man-band
em 2011, apenas com o primeiro. Antologia 1997-2024 é a derradeira
compilação desta banda de culto, trazida aos fãs pela Haloran Records, e incluindo
5 faixas inéditas e as 2 demos da banda Por Entre A Escuridão
Outonal (1997) e The New Millenium Sessions (2007). Na conversa com Diogo
Trindade, aka Koraxid, falámos deste lançamento e do futuro dos
Grievance.
Olá, Diogo, tudo bem? Obrigado pela
disponibilidade! Podes começar, por explicar como surgiu esta possibilidade de
lançar esta Antologia?
Saudações! A possibilidade de lançamento da
Antologia partiu de um convite da parte da Haloran Records para
lançar em formato físico as duas demos da banda, as quais nunca tiveram
uma edição concreta, sendo a primeira passada entre mãos de vários conhecidos
em cassetes na época e a segunda nunca tendo uma edição física sequer. Respondi
ao desafio, e aproveitei para acrescentar alguns temas inéditos, o single
Perante o Céu Infernal e um tema novo, no qual estava a trabalhar há já
algum tempo, sendo este o primeiro tema da tracklist, pois esta está
feita em ordem cronológica.
Este trabalho conta com as reedições das demos de 1997 e 2007. Os temas surgem agora como foram
gravados na altura ou sofreram algum trabalho atual, como serem regravados,
remasterizados ou remisturados?
Os temas estão no seu formato original, apenas foram
remasterizados para se tentar obter o melhor equilíbrio possível de volume em
relação aos temas mais recentes. Nada foi regravado ou remisturado, a meu ver
não faria sentido adulterar ou regravar estes temas, são um artefacto quase
arqueológico, que marca os primeiros tempos da banda.
E há também temas inéditos dos últimos anos,
período a que corresponde, mais ou menos, ao período da vossa maior atividade
discográfica. Por que razão esses temas não estão nesses álbuns?
Sou um compositor muito exigente com tudo o que
faço, acho que fazer música só por fazer não faz o mínimo sentido, alias já há
bandas demais a faze-lo, na minha opinião. Por este motivo fui pondo alguns
temas de parte quando achei na altura que eram os mais fracos dos lançamentos
que fiz, no entanto guardei estes temas e na minha opinião acho que a sua
qualidade, vendo agora ao longe, não fica nada atrás, pelo que decidi acabá-los,
já que alguns deles estavam incompletos. Foi uma experiência deveras
interessante voltar a mexer em material antigo, mas estou confiante que o
resultado valeu a pena.
Desses temas, o único que já tinha sido lançado
é Perante o Céu Infernal, que antecedeu
o álbum Pilar, Pedra e Faca, embora não tenha sido nele incluído.
Porquê?
Este tema não foi incluído no álbum porque na altura
não me pareceu oportuno. Queria capturar a sessão de gravação do álbum,
especialmente a captação da bateria estava completamente diferente, esse foi o
motivo, simplesmente. Queria que o álbum soasse como um bloco, sem temas com
produção diferente. No entanto caso haja uma reedição desse álbum provavelmente
este tema será incluído como um extra.
Como tem sido a vida atualmente dos Grievance?
A banda continua ativa e a subir frequentemente a palco?
Grievance é um projeto a solo desde 2011, pelo que nas
aparições ao vivo a banda tem uma formação composta por 4 músicos de sessão, o
que por um lado é excelente, já que assim posso atuar ao vivo, mas há mais
complicações a nível logístico, já que eu tenho de coordenar todo o processo de
marcação e organização de toda a logística para cada evento em que participamos.
No entanto temos feito alguns eventos e as perspetivas são positivas nesse aspeto
no futuro.
Sendo que o último trabalho de originais foi Nos Olhos da Coruja, já datado de 2020, há novidades
quanto a um próximo trabalho?
Sim, há, mas como disse antes se quisesse fazer um
álbum à pressa, este já estaria lançado há vários meses, mas quero aprimorar,
melhorar e acima de tudo compor algo inspirado e inspirador. Já houve várias
tentativas de começar o processo, mas nenhuma me satisfez, pelo que vou
regravar todas as linhas de bateria que já compus. No meu caso, a bateria é primeiro instrumento
a ser gravado quando começo a fazer um álbum. Neste verão espero sim já ter um álbum
composto, a atividade não para, mas é como digo, não farei nada por fazer. Tem
de haver inspiração.
Pelo meio houve um split com os Thy Black Blood. Como surgiu essa
possibilidade?
O convite partiu da parte do D. Sabaoth, com quem já
tinha trabalhado antes como baixista em Flagellum Dei. Curiosamente,
durante a pandemia tinha composto 5 temas que estavam ainda incompletos e não
estavam planeados para ser lançados, já que não tinham tempo de duração
suficiente para um álbum. Sendo assim, a ideia de fazer um split
agradou-me, pois assim poderia usar este material para alguma coisa, aceitei o
desafio e saíram estes 5 temas, dos quais tenho imenso orgulho no seu resultado
final.
Nesse split
voltas a utilizar o inglês nas letras, coisa que não acontecia desde a demo
de 2007. Será para manter ou irás voltar ao português?
Acima de tudo quero dispor da liberdade para, caso
ache oportuno, cantar em inglês, no entanto vou manter o uso do português como língua
essencial em Grievance, portanto poderás esperar mais temas feitos na
nossa língua nativa. É sem dúvida a minha preferência quando escrevo letras para
Grievance.
Apesar de nas demos terem gravado como um duo e um trio, a partir de
certa altura ficaste sozinho e assim tem sido nos últimos anos. É a melhor
forma de trabalhares? É uma necessidade ou contingência?
Depois de muitos problemas, desilusões e
complicações em vários projetos dos quais fiz parte, não tenho mais vontade de
me associar com outros músicos, pelo menos em Grievance, a não ser que
o cofundador, Azarath, volte a tempo inteiro a integrar a banda, o que
será complicado pois ele vive há muitos anos e constituiu família em Algeciras,
no sul de Espanha, ou seja, é improvável haverem mais alterações de alinhamento
em Grievance, mas deixo sempre uma janela de oportunidade para
que isso aconteça. A ver vamos.
De alguma forma ponderas poder voltar a alargar
a base de músicos do projeto no futuro?
A resposta foi dada acima, tal como disse, a
hipótese de isso acontecer é muito remota, mas quem sabe? O futuro o dirá.
Obrigado, Diogo. Queres acrescentar mais alguma
coisa que não tenha sido abordada?
Quero agradecer o teu interesse na banda e desejar
que tudo corra pelo melhor com a Via Nocturna. O espírito do black metal
português está vivo, de boa saúde, e em expansão. Que os deuses antigos nos
guiem na tarefa de criar mais e melhor música!
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