Reviews VN2000: JOSÉ AFONSO; SHAKAI; GAVIN HARRISON/ANTOINE FAFARD; ØRESUND SPACE COLLECTIVE; WHITE WILLOW

 


Ao Vivo no Coliseu (JOSÉ AFONSO)

(2024, Mais 5)

Gravado ao vivo a 29 de janeiro de 1983, Ao Vivo no Coliseu, de José Afonso, é um dos mais marcantes documentos históricos da música nacional.  Já afetado pela doença, Zeca apresenta um concerto mágico onde as imperfeições fazem parte. Tal como fazem parte do ser humano em geral. E, depois das reedições levadas a cabo pela Mais 5 que contemplou 11 álbuns editados pelo artista nacional, um segundo ciclo foi começado, precisamente com este Ao Vivo no Coliseu. Esta é a primeira vez que este concerto é apresentado na sua totalidade (1 hora e 53 minutos), sem cortes e totalmente remasterizada. Para tal, foram reunidas diferentes fontes sonoras o que permite voltar a disfrutar, a sentir e a ouvir este concerto, como se lá estivéssemos. E mais que um duplo álbum ao vivo, Ao Vivo no Coliseu, retrata uma vida e um percurso musical e poético, que é parte da história do país. E é, também, uma profunda e sentida homenagem ao homem e ao artista. E qual a melhor altura para o fazer se não agora, no ano em que comemoram 50 anos do 25 de Abril? [92%]



 

Fragments (SHAKAI)

(2024, Is It Jazz? Records)

O álbum Fragments dos Shakai, é um trabalho que se destaca no panorama do jazz contemporâneo, marcando a maturidade do quinteto norueguês. Composto por sete faixas, Fragments demonstra a capacidade do grupo em conjugar elementos tradicionais do jazz com uma abordagem moderna e experimental, resultando numa sonoridade única e cativante. Este é um disco onde se juntam sopros espetaculares e arranjos minimalistas, uma complexidade rítmica que desafia as convenções e solos expressivos e técnicos. Cumulativamente, a voz de Gabriela Garrubo adiciona uma camada de profundidade emocional. Outros exemplos da capacidade dos Shakai em criar atmosferas distintas ocorre em Oh Well, onde flui uma melodia introspetiva e melancólica, que contrasta com Dandelion Child que entrega uma energia festiva e vibrante, reminiscente de influências balcânicas e onde os sopros brilham intensamente. Por outro lado, em Not Yours, a guitarra elétrica de Simen Walle introduz elementos de rock e música experimental, ampliando ainda mais a paleta sonora da banda. Este destacado equilíbrio entre técnica e emoção, a notável capacidade de misturar estilos e influências diversas sem perder identidade e a consistência da qualidade das composições são constantes ao longo do álbum, sendo os seus pontos altos. [89%]



 

Perpetual Mutations (GAVIN HARRISON/ANTOINE FAFARD)

(2024, Independente)

Perpetual Mutations, marca a segunda colaboração entre Antoine Fafard e Gavin Harrison. Este álbum é uma jornada sonora ousada e diversificada, explorando uma miríade de texturas e estilos musicais. Com a participação de nove músicos internacionais, cada faixa é uma viagem única e inovadora, evitando a repetição do seu predecessor, Chemical Reactions. A introdução de instrumentos como a guitarra clássica, piano, oboé, violoncelo e sopros, juntamente com elementos menos convencionais como handpans, log drum, vibrafone e marimba, confere ao álbum um caráter distintamente eclético. Faixas como Dark Wind e Objective Reality destacam-se pela sua complexidade rítmica e arranjos inovadores. A presença marcante de instrumentos de sopro e cordas, executados por artistas talentosos como Jean-Pierre Zanella e Ally Storch, adiciona uma profundidade emocional às composições. Perpetual Mutations é uma obra que desafia as convenções, expandindo os horizontes musicais e oferecendo uma experiência auditiva rica e variada. Um must para os aficionados por fusões musicais e arranjos sofisticados. [84%]



 

Espaço (ØRESUND SPACE COLLECTIVE)

(2024, Space Rock Productions)

Oriundos da Dinamarca, os Øresund Space Collective têm vindo a repartir as suas atividades e os seus membros com Portugal. De tal forma que este álbum (que não é o último do coletivo como se percebe por uma consulta ao seu Bandcamp) traz título em português, Espaço, foi gravado no Estúdio Paraíso nas Nuvens (algures na zona central de Portugal) e até conta com a participação de Luís Simões, dos Saturnia. Espaço é mais uma viagem cósmica que transcende o convencional. É uma autêntica odisseia sonora que desafia os limites do psicadelismo, mergulhando profundamente nas águas turbulentas da improvisação. O álbum é apenas composto por duas faixas tamanho XXL, onde os músicos se libertam das amarras da estrutura tradicional e exploram territórios desconhecidos. A diferença para os Doctors Of Space (onde também está Dr Space) é um uso mais alargado de instrumentação: o violino, cortesia de Jonathan em Umma; o berimbau, tocado por Tito e Hasse, em Birim Magic e uma maior dose percussiva, a cargo do mesmo Tito na segunda faixa. De resto, as guitarras reverberam com ecos siderais, enquanto os sintetizadores tecem paisagens etéreas, envoltas em nebulosas de som que ora abraçam o ouvinte com suavidade, ora o lançam em espirais de energia cósmica. [76%]

 

Sacrament (WHITE WILLOW)

(2024, Karisma Records)

Sacrament, o terceiro álbum clássico dos White Willow, é uma joia no mundo do prog rock norueguês. Originalmente lançado em 2000, este álbum foi recentemente reeditado pela Karisma Records com remasterização a cargo de Jacob Holm-Lupo. Esta a primeira vez que é lançado em vinil com a arte de capa original. A criação de Sacrament foi um processo meticuloso e laborioso. A banda dedicou muito tempo ao desenvolvimento das canções e arranjos, procurando criar composições dinâmicas e belas. Após longos ensaios no Instituto Norueguês para Cena e Estúdio, entraram no estúdio Lydkjøkkenet, gerido pelo talentoso engenheiro Øystein Vesaas. Este ambiente permitiu à banda experimentar e explorar diferentes soluções musicais. Quando lançado, Sacrament recebeu críticas unanimemente positivas e registou vendas robustas, alcançando até algum reconhecimento no mainstream. Esta aceitação refletiu-se na motivação moral da banda, numa época em que elementos do prog começavam a infiltrar-se na corrente principal. Esta é a terceira numa série de seis reedições dos White Willow pela Karisma Records. Este lançamento é particularmente atraente para colecionadores e fãs do prog escandinavo, destacando-se pela edição limitada em vinil branco. Esta atenção ao detalhe na remasterização e apresentação faz desta reedição um item essencial para os entusiastas do género. [85%]

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