Reviews VN2000: LA CHANSON NOIRE; PETER DALTREY; EX NORWEGIAN; BIG BIG TRAIN; PURE REASON REVOLUTION
Missa Negra (LA CHANSON NOIRE)
(2024, Raging Planet Records/Violeta
Exótica/Chaosphere Recordings/Larvae Records)
O mais recente trabalho de La Chanson Noire,
intitulado Missa Negra, apresenta uma proposta inovadora dentro do
repertório sombrio e decadente da banda, aqui reduzida a Charles Sangnoir
apenas acompanhado por Diogo Beleza que insere ritmos percussivos no
tema-título. Este álbum, com uma forte vertente minimalista, destaca-se
sobretudo pelas versões intimistas, orientadas apenas para texturas piano (ora
suaves, ora penetrantes) e voz. Aqui, a densidade emocional é amplificada pela
ausência de adornos excessivos, permitindo que a intensidade das composições
brilhe de forma crua e visceral. Cada faixa assume um caráter quase
confessional, onde o piano, despido de qualquer sobrecarga instrumental,
acompanha a voz de forma austera, mas eficaz. A simplicidade dos arranjos
realça o conteúdo lírico, mergulhado em temas de angústia existencial,
escuridão emocional e uma profunda melancolia. O vocalista, com a sua entrega
teatral e por vezes agónica, evoca um sentimento de desespero contido, como se
cada canção fosse uma espécie de oração profana. Esta sonoridade repleta de
atmosfera cria uma experiência quase litúrgica, respeitando o título do álbum, Missa
Negra, que sugere uma celebração solene e sombria. [86%]
The Leopard And The Lamb (PETER DALTREY)
(2023, Think
Like A Key Music)
Peter Daltrey, uma figura icónica do psicadelismo dos anos
60, apresenta o seu vigésimo sexto álbum, The Leopard And The Lamb, que
mantém o espírito da era psicadélica ao mesmo tempo que adota elementos
contemporâneos. Este trabalho é marcado por uma abertura impactante com belos
arranjos, exemplificados em Here Is The News, onde camadas eletrónicas e
acústicas se fundem para criar uma atmosfera hipnótica e envolvente. Mas é no
conjunto formado por Point Of View, The Time Of Trees e The
Song You Never Heard, que exibem orquestrações suaves e cinematográficas,
onde se reforça uma aura dramática e envolvente, elevando o álbum a uma
dimensão quase visual. O contraste surge no ponto mais enérgico, na faixa Black
Cab, onde a introdução da distorção na guitarra traz um toque rockeiro,
quebrando a tónica melancólica do restante repertório. Apesar das boas ideias
que perpassam ao longo do álbum, há uma falha recorrente na secção rítmica, que
se mostra pouco ambiciosa e bastante básica. Desta forma, o álbum oferece uma
viagem musical rica e diversificada, misturando memórias psicadélicas dos anos
60 com arranjos modernos, mas falha em termos de dinâmica. [73%]
Sketch (EX NORWEGIAN)
(2024, Think Like A Key Music)
Sketch é o segundo álbum da banda de indie rock
Ex Norwegian, de Miami Beach. Foi produzido e lançado originalmente, e
de forma independente, em 2010, com o trio original. Um ano depois, teria uma
nova edição, desta feita a cargo da Dying Van Gogh Records com a música Girl
With The Moustache a substituir Tired Of Dancing. O álbum alcançou a
posição #87 nas tabelas do CMJ, tendo sido o último gravado com a baixista Nina
Souto e com o baterista Arturo Garcia. A nova reedição a cargo da Think
Like A Key Music, editora do mentor do projeto Roger Houdaille, foi
meticulosamente remasterizada pelo Prof. Stoned para uma maior
profundidade sonora. Inclui os dois temas anteriormente referidos, bem como a
performance ao vivo completa do concerto de lançamento de 2010, realizado na Sweat
Records, em Miami. Assim, esta é mais uma oportunidade para recordarem ou
conhecerem um dos mais interessantes nomes do indie rock/powerpop
da Florida. Com música cativante e solarenga, ou não viesse a banda do Sunshine
State, mas com algumas reviravoltas em algumas faixas, este segundo disco dos
Ex Norwegian é um passo em frente comparativamente com a estreia. [73%]
A Flare On The Lens – Live In London (BIG BIG TRAIN)
(2024, InsideOut Music)
Em setembro de 2022, a premiada banda de rock
progressivo Big Big Train, deu os seus primeiros passos experimentais ao
ressurgir como uma banda ao vivo liderada pelo vocalista italiano Alberto
Bravin, após a trágica morte do antigo vocalista David Longdon no
final de 2021. Esses três espetáculos em 2022 no Reino Unido e nos Países
Baixos indicaram que a reconfigurada Big Big Train ainda tinha um futuro
viável e, consequentemente, a banda anunciou uma nova série de datas para
agosto e setembro de 2023 sob a bandeira da digressão The Journey Continues.
São esses espetáculos no Cadogan Hall que são capturados em A Flare
On The Lens – Live In London. Ao longo da digressão The Journey
Continues, a banda optou por variar o set-list todas as noites para
manter as coisas frescas, tanto para o público como para eles próprios, e
aproveitar a oportunidade para mostrar o seu catálogo o mais amplamente
possível. A Flare On The Lens – Live In London apresenta o espetáculo
completo da banda no Cadogan Hall na segunda das duas noites do ano
passado e também inclui sete canções que foram tocadas apenas na primeira
noite. Como tal, o Blu-ray tem cerca de 3 horas e contém nada menos do
que 17 canções mais um medley acústico de 3 canções, incluindo os
favoritos do catálogo como East Coast Racer, Hedgerow, Folklore,
Judas Unrepentant, Curator Of Butterflies e Victorian
Brickwork, A Boy In Darkness tocada pela primeira vez ao vivo, o tour
de force instrumental ao vivo Apollo, a brincadeira com bateria e
sopros Drums & Brass e os futuros clássicos Love Is The Light
e Oblivion. Estas duas últimas canções seriam posteriormente incluídas
no aclamado novo álbum de estúdio da banda, The Likes Of Us, lançado em março
deste ano. A Flare On The Lens – Live In London é a visão e o som de Big
Big Train de volta a uma curva ascendente e restabelecendo-se como uma das
bandas ao vivo mais atraentes da cena rock, mostrando-se muito bem
oleada e sempre interativa com o público. [90%]
Coming Up To Consciousness (PURE REASON REVOLUTION)
(2024, InsideOut Music)
O álbum Coming Up To Consciousness dos Pure
Reason Revolution, sexto registo da banda, e terceiro desde o seu regresso em
2020 com Eupnea, surge como uma obra profundamente pessoal e
introspetiva, revelando um lado mais sombrio e emocional. Esta nova proposta
mantém a assinatura sonora típica dos britânicos, numa mescla de rock
progressivo com elementos de pop e atmosferas oníricas. Todavia,
apresenta-se muito mais limitado em termos de duração, com os temas a variar
entre os quatro e sete minutos, tornando-os mais concisos e permitindo uma
exploração sonora mais direta. Uma das novidades significativas neste álbum é a
inclusão de Guy Pratt, trazendo uma complexidade e profundidade
adicional às linhas de baixo. Além disso, a entrada de Annicke Shireen
como vocalista, substituindo Chloe Alper, adiciona uma nova dimensão e
identidade à banda. Coming Up To Consciousness é um álbum emocionalmente
carregado. A influência de géneros e artistas variados, como Talk Talk,
Elliot Smith e até Arctic Monkeys, além dos habituais Pink Floyd,
é evidente, resultando num som que, embora familiar, também se aventura em
novas direções. [83%]
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