Entrevista: Mechanic Tyrants

 


Formados em plena pandemia, os Mechanic Tyrants emergiram de Nürnberg, Alemanha, com uma proposta que mistura velocidade e intensidade, marcando a cena speed metal com o seu álbum de estreia, St. Diemen Riots. Nesta entrevista, o líder deste conjunto de guerrilheiros, o vocalista e guitarrista Florian Fait, revela como a banda encontrou a sua identidade sonora e desenvolveu o conceito distópico que envolve a fictícia cidade de Meanhattan, onde opressão e rebelião se cruzam.

 

Olá, Florian, como estás? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podes apresentar os Mechanic Tyrants aos metalheads portugueses?

Olá, nós somos os Mechanic Tyrants, uma banda de speed metal de Nürnberg, Alemanha. No dia 27 de setembro lançámos o nosso primeiro álbum St. Diemen Riots.

 

Os Mechanic Tyrants foram formados em 2021, durante a pandemia. Como é que este período de isolamento influenciou a formação da banda e o seu processo criativo inicial e como é que os desafios desse período moldaram a criação de St. Diemen Riots?

Sem a pandemia, os Mechanic Tyrants provavelmente não teriam sido fundados. As faixas Denied e Carry On Wayward Son foram escritas durante o confinamento, por tédio, digamos assim. O Danny e eu tínhamos outra banda que tocava heavy metal clássico, mas queríamos fazer algo mais rápido e sujo. A outra banda acabou por se separar porque os ensaios se tornaram difíceis devido a mudanças pessoais durante a pandemia. Então o Danny e eu procurámos um baterista e um guitarrista principal (Orlando e Jake) e transformámos o novo projeto paralelo de speed metal numa banda a sério - Mechanic Tyrants. Por isso, pode dizer-se que a pandemia foi importante para a criação do EP Meanhattan e para a formação da própria banda. Mas a pandemia não desempenha um papel tão importante no nosso novo álbum. Começámos a compor depois do lançamento do nosso EP, em 2022, e já não havia restrições relacionadas com a pandemia.

 

A banda é composta por ti na voz e na guitarra, Danny no baixo, Orlando na bateria e Jakob na guitarra. Podem falar-nos da química entre vocês os quatro e de como isso influenciou o processo de gravação do álbum?

A nossa química é ótima! Vivemos todos em Nuremberga, encontramo-nos pelo menos uma vez por semana para ensaiar e somos também muito bons amigos. Não só é essencial para os concertos que nos demos bem uns com os outros, mas também para compor canções. Quando tudo está bem, a criatividade pode fluir. Passámos três quartos do ano só a gravar. Começámos com a bateria - foi o mais rápido. Para as gravações do baixo e da guitarra encontrámo-nos com o Jake no seu estúdio caseiro e gravámos durante meses, experimentámos coisas, aperfeiçoámos coisas até estarmos cem por cento satisfeitos. E, na minha opinião, isso só é possível quando uma boa química de banda permite que se trabalhe de forma criativa e consciente durante um longo período de tempo sem discussões.

 

Vocês já foram comparados a bandas como Metallica, Megadeth e Judas Priest. Como é que equilibram estas influências clássicas com a vossa abordagem única ao speed metal?

Não pretendemos soar como a banda X ou a banda Y. St. Diemen Riots é apenas um resultado de todas as nossas influências - eu, como principal compositor, sou provavelmente mais influenciado por Megadeth, Metallica e Judas Priest, já que essas são as bandas que eu mais gosto no metal. Por isso faz sentido que se encontrem muitos elementos dessas bandas na nossa música. Mas, basicamente tentamos não nos limitar e deixar outras influências seguirem o seu curso - e isso nem sempre tem de ser metal. É por isso que eu não nos limitaria a ficar com o speed metal para sempre - já se pode ouvir no álbum que há também algumas músicas mais lentas ou mais complexas - mas talvez fiquemos com o speed metal. Vamos descobrir no futuro.

 

O vosso álbum de estreia, St. Diemen Riots, pode ser descrito como um álbum semi-conceptual inspirado em temas distópicos. Podes explicar melhor a história por detrás do álbum, particularmente a cidade fictícia de Meanhattan?

Meanhattan já era o cenário do nosso EP de 2022. É uma cidade distópica repleta de crime, violência e desordem - um pouco como Sin City. Em St. Diemen Riots, contamos como é que esta cidade se tornou assim - é basicamente uma prequela. St. Diemen Riots é um distrito de Meanhattan. É lá que se situa a Torre 42, que é onde o governo se senta, oprimindo o povo lá de cima. A tensão entre os governantes e os oprimidos aumenta quando uma mulher inocente é assassinada nas barricadas. Este facto marca o início dos motins de St. Diemen, uma guerra civil brutal que dura anos. Madrugada descreve o momento em que tudo está em ruínas e não se sabe ao certo que lado ganhou. E em Ruins Of The Past, o rude despertar: os governantes opressores originais foram derrotados, mas os horrores da guerra transformaram os antigos revolucionários nos novos tiranos cruéis - e nada mudou para melhor.

 

A inspiração vem do 2112 dos Rush, certo? Como é que esse álbum foi importante para o vosso crescimento musical?

Todos nós adoramos o álbum 2112 dos Rush. Mas, para ser honesto, a única coisa que nos influenciou nesse álbum foi a estrutura. O Danny, que escreveu todas as letras, disse a dada altura que a história não era suficiente para o álbum inteiro. Teria sido um disparate esticar a história desnecessariamente. Por isso disse: Vamos fazer como os Rush em 2112 e ter o lado A com uma história coerente, enquanto o lado B é desvinculado dela.

 

Speed Metal Guerrilla, o primeiro single, é uma faixa de destaque com uma vibração divertida e rebelde. Podes partilhar a inspiração por detrás desta canção, a sua ligação ao resto do conceito do álbum e porque a escolheste para esse fim?

Tivemos a ideia do título da canção durante a digressão do ano passado. Acho que começou como uma piada, mas achámos que o nome Speed Metal Guerrilla era fixe. Escrevemos uma música que faz jus ao título. A música cobre os tópicos típicos comuns no thrash e speed metal inicial: morte ao falso metal, crítica ao negócio da música mainstream, e assim por diante. E achamos que ela tinha a pegada perfeita e ainda era a mais próxima musicalmente do EP para ser escolhida como primeiro single.

 

A vossa faixa Madrugada mostra um lado mais melódico da banda. Como é que esta faixa se encaixa na narrativa mais ampla e na paisagem sonora do álbum? E, já agora, como é que uma palavra portuguesa aparece no título?

Como mencionámos, Madrugada representa o momento em que a guerra acabou e tudo está destruído, e ainda não é claro quem ganhou. Pensámos muito sobre como descrever este momento. No final, chegámos à palavra espanhola para amanhecer - portanto, está a amanhecer lentamente e o início do dia revela a terrível verdade. Não sabíamos que a palavra Madrugada também existe em português. Só queríamos continuar a tradição de ter um título em espanhol em cada lançamento.

 

O vosso álbum apresenta uma energia incansável e muita diversão, mas também lida com temas mais pesados como a rebelião e a opressão social. Como é que equilibram estes tons contrastantes na vossa música?

Claro que isso tem muito a ver com o facto de só a primeira metade ser uma história coerente. Além disso, achamos que é preciso uma boa mistura de diferentes estados de espírito para manter o álbum interessante.

 

A Jawbreaker Records é a casa da vossa estreia. Como é que a vossa colaboração com a editora ajudou a moldar o lançamento e a promoção do St. Diemen Riots?

Estamos muito gratos por estarmos a trabalhar com a Jawbreaker. É uma editora pequena e exclusiva que cuida muito bem de cada uma das suas bandas. Este é o nosso primeiro lançamento de álbum com uma editora e não podíamos estar mais felizes. A Jawbreaker tira-nos muito trabalho das mãos, especialmente no que diz respeito à produção e promoção dos nossos discos. A atenção que já recebemos nunca teria sido possível sozinhos.

 

Quais são as vossas ambições para o futuro dos Mechanic Tyrants, em termos de evolução musical? Há alguma nova direção ou conceito que queiram explorar em futuros lançamentos?

Já temos muitas ideias novas para o próximo álbum e já estamos a escrever coisas novas. Acho que seria fixe se nos pudéssemos afastar ainda mais do pensamento de género para nos tornarmos mais nós próprios. Acho que as músicas futuras podem ser um pouco mais complexas e progressivas - mas não à custa de serem cativantes. Acho que esse é o desafio: mostrar o que se pode fazer musicalmente e como compositor, mas ainda assim ser cativante.

 

Por último, agora que o álbum já foi lançado, quais são os vossos planos para a digressão tanto na Alemanha como a nível internacional?

Ainda temos alguns concertos para fazer este ano e já fomos selecionados para alguns festivais no próximo ano. Queremos mesmo fazer uma digressão no próximo ano, mas ainda não temos um plano definido. E claro que também gostaríamos de tocar em Portugal um dia.

 

Mais uma vez, obrigado, Florian. Queres enviar alguma mensagem aos nossos leitores ou aos vossos fãs?

Juntem-se à Guerrilha ou morram!


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