Entrevista: Objeto Quase

 

Os Objeto Quase, banda de rock alternativo lisboeta, apresentam-se ao público com o EP de estreia Falsa Partida, um trabalho que reflete os desafios e aprendizagens desde a sua formação. Inspirados tanto pela diversidade sonora do rock dos anos 90 e 2000, como pela admiração por nomes como Ornatos Violeta, o quinteto aposta numa abordagem colaborativa, repleta de influências variadas. Depois da bem-sucedida noite de apresentação do EO, a banda partilhou connosco o processo criativo, a intensidade emocional do single Licença Para Morrer e a energia contagiante que carateriza as suas atuações ao vivo. Com os olhos postos no futuro, os Objeto Quase prometem novas músicas e a ambição de levar o seu som a palcos por todo o país.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade! Antes de mais, podem apresentar os Objeto Quase aos rockers nacionais?

Somos uma banda de rock alternativo da zona de Lisboa composta por cinco elementos: Gonçalo Alacre (baixo), Duarte Gaspar (guitarra), Rodrigo Rato (guitarra), João Nunes (bateria) e Miguel Moreira (voz). Contamos com este alinhamento há pouco mais de um ano, e desde então temos vindo a fazer música em conjunto e a gravá-la e tocá-la ao vivo.

 

Objeto Quase é o nome de um livro de Saramago. Veio daí a inspiração?

Sim, teve de facto essa inspiração. A escolha do nome foi um processo demorado, começámos por ter uma lista enorme de sugestões e fomo-la reduzindo com votações de todos. Um processo muito democrático, portanto. Acabou por ficar Objeto Quase, nome sugerido por um dos membros que tinha lido o livro há alguns anos e tinha gostado tanto do livro como do nome que lhe ficou sempre na cabeça. Gostámos do nome e, sendo nós uma banda com temas em português, achámos que ter no nome uma referência a um dos grandes nomes da literatura portuguesa fazia sentido.

 

Que nomes ou movimentos mais vos influenciam? Podemos notar nomes como Ornatos Violeta e Jorge Palma, concordam? Como veem essas comparações? Encaram-nas como uma influência direta ou como coincidências naturais do estilo?

Somos 5 elementos, com muitos gostos em comum, mas também como muitas influências distintas que se refletem na nossa música, desde géneros mais próximos de nós como o punk, metal, grunge ou rock progressivo a outros géneros mais distintos como o jazz ou mesmo algum pop mais recente. Todas estas diferentes influências e inspirações juntamente com o facto de que o processo de escrita ser muito colaborativo (todos os membros trazem as suas músicas ou ideias para a banda) fazem com que tenhamos alguma variedade de sonoridades ao longo do nosso repertório e que não seja fácil para nós identificarmo-nos com um só estilo ou artista/grupo. Temos, claro, como base o gosto pelo rock dos anos 90 e 2000 e, por isso, muitas caraterísticas inerentes a esses movimentos estão presentes na nossa música, mas tentamos, cada um à sua maneira, dar o nosso cunho pessoal e tentar acrescentar algo de novo com o que fazemos. Não obstante tudo isso, há de facto uma grande admiração por todos pelos Ornatos Violeta, que são uma inspiração para nós. Já várias vezes nos chegaram essas comparações com eles, que para nós são, claramente, uma grande honra, mas não queremos dar demasiada importância isso. Queremos, sim, fazer o que gostamos, na tentativa de trazer algo diferente e de poder agradar às pessoas que nos ouçam.

 

O título do vosso EP de estreia é Falsa Partida. De alguma forma reflete os desafios que enfrentaram desde a formação da banda até ao seu lançamento? Como é que esses obstáculos moldaram a identidade artística dos Objeto Quase?

Sem dúvida que sim. Desde logo a escolha deste título foi, ela própria, difícil e demorada, tendo chegado a ter sido decidido, anteriormente, um outro nome. Acabou por ficar Falsa Partida que espelha, de facto, o que sentimos que foi o início da banda. Foi um trajeto atribulado: desde as dificuldades que os primeiros membros sentiram ainda em tempos de pandemia ao longo (pelo menos face às nossas, talvez ingénuas, expetativas) tempo de espera até finalmente termos tudo pronto para o lançamento, passando por dificuldades com videoclipes ou em conciliar horários de cinco pessoas com ensaios, gestão de redes sociais e agendamento de concertos. Contudo aprendemos muito com tudo isso, e este tempo extra que tivemos também nos permitiu aprimorar alguns detalhes, preparar o lançamento e fazer as coisas da melhor maneira que pudemos sabendo que fomos cometendo vários erros e que, se tudo correr bem, muitos mais havemos de cometer.

 

Cada uma das cinco faixas do EP apresenta diferentes orientações e moods. Como trabalham enquanto grupo para alcançar essa diversidade sem perder a coerência sonora?

Como dissemos numa das anteriores perguntas, todos na banda compomos e isso faz com que o processo de escrita possa ser muito diferente de música para música. Além disso não nos queremos colar a apenas uma ou duas ideias de sonoridades ou de mensagem a transmitir. Tentamos com a nossa música ir até onde esta nos levar, independentemente de ser um lugar mais alegre ou sombrio, ter um tom mais sério ou mais cómico, com produção e instrumentação muito grande ou apenas com a voz do Miguel e meia dúzia de acordes de guitarra. Claro que há depois uma fase de seleção para cada trabalho de forma que os vários temas funcionem em conjunto, mas mesmo isso acaba por ser algo pessoal e onde alguns de nós veem dois temas distintos outros encontram uma ligação entre os mesmos. Para o bem e para o mal é isso que podemos prometer aos nossos ouvintes - que iremos continuar a explorar-nos a nós próprios ao que temos para dar, seja isso semelhante ao que já fizemos ou algo totalmente diferente.

 

Licença Para Morrer, o primeiro single do EP, destaca-se pela intensidade emocional. Como foi o processo de composição e produção desta faixa?

A Licença Para Morrer foi composta essencialmente pelo Miguel, o nosso vocalista, numa época complicada da vida dele, daí o caráter tão emocional e introspetivo da mesma. Apesar do som pujante que tem agora, a primeira vez que foi tocada foi numa guitarra acústica. Só depois em ensaio foi tomando forma até se tornar no que é hoje. Embora tenha um tom mais negro do que as outras canções, não deixa de ser uma música com muita ironia à mistura. Uma das manifestações mais óbvias desse tom mais cómico foi precisamente terminar o final da música com gargalhadas, que apesar de não ser uma decisão artística inicialmente consensual, achámos que devíamos incluir na altura da produção, tendo ficado muito contentes com o resultado.

 

O EP teve apresentação recente no Titanic Sur Mer onde incluíram algumas surpresas e um repertório variado. Podem partilhar algo mais sobre a experiência dessa noite?

Foi uma noite inesquecível para nós, desde logo pelo simbolismo da mesma, estarmos de certa forma a fechar este primeiro ciclo da banda, esta (falsa) partida, ainda para mais junto de bandas amigas, os The Orange Buzz Band e os COMBi, que curiosamente conhecemos na mesma noite, num concurso no início deste ano. Correu muito bem, as atuações das duas bandas convidadas foram excelentes, sentimos que o público gostou, mesmo quem não os conhecia, e o nosso concerto também correu super bem. Tínhamos algumas surpresas preparadas. Por um lado, apresentámos, além do EP, alguns temas novos e no fim, aquele que para nós foi o momento alto da atuação, uma referência ao videoclipe que lançamos recentemente para O Gajo do Costume, onde aparecemos vestidos de Teletubbies. O feedback foi ótimo, sentimos que o público gostou, o que claro que nos deixa muito satisfeitos. Esta primeira etapa da banda, que superou todas as expetativas que pudéssemos ter quando começámos esta aventura, terminou de uma excelente forma.

 

Quais são os planos a curto e médio prazo para os Objeto Quase? Podem desvendar alguma coisa?

Para já não temos nada em concreto planeado para o futuro. Temos como objetivo para os próximos meses continuar a escrever música nova, tanta quanto possível, e ao mesmo tempo continuar a tocar ao vivo por aí. Queremos muito levar a nossa música a mais zonas do país, não só aqui à região de Lisboa, e no Verão gostávamos de tocar em alguns festivais, mas o futuro o dirá. O que podemos garantir é que nos vamos manter fiéis a nós próprios, continuando a escrever e tocar as nossas canções sempre que possível e a fazê-lo, sempre, com a maior alegria do mundo, pois isto é o que mais gostamos de fazer.

 

Obrigado, pessoal. Querem deixar alguma mensagem final?

Um grande obrigado a todos os que nos têm acompanhado nesta aventura, seja a ouvir-nos ao vivo ou em casa, ou a partilhar o palco connosco. Continuem a apoiar a música portuguesa e todas as bandas incríveis a fazer música pelo país a fora. Da nossa parte esperamos ver-vos em breve num palco qualquer!

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