Review: Venham Mais Vinte (2004-2024) (DUARTE)

 

Venham Mais Vinte (2004-2024) (DUARTE)

AVM

Lançamento: 22/novembro/2024

 

Post fado? Neo Fado? Alt fado? Se estes conceitos não existem, certamente passarão a existir com Duarte. Por isso, Venham Mais Vinte (2004-2024) é muito mais do que uma celebração de duas décadas de carreira; é um ato de reinvenção artística, onde a ousadia e a vulnerabilidade se entrelaçam para criar uma obra que desafia os limites, desconstruindo completamente o fado tradicional. Tal acontece pela abordagem inovadora em termos de arranjos e de uma postura pouco ortodoxa e até politicamente incorreta ao nível lírico. E, enquanto desconstrói o fado, Duarte constrói pontes para muitos outros sons e tons. Aqui se incluem pormenores que vêm do classicismo, do jazz, da música francesa, brasileira e tradicional portuguesa (onde não falta o cante), da música contemporânea, da eletrónica e até do rock. Tudo reunido num universo musical rico em texturas e emoções, numa jornada musical multidimensional. E se o título deste álbum antevia uma olhar para trás, para os vinte anos da sua carreira, Duarte não faz isso. Continua a olhar para a frente, de tal forma que apenas Maria da Solidão e ReViraVolta vêm dos seus trabalhos anteriores, ambos de No Lugar Dela, e mesmo esses com diferentes trabalhos instrumentais e vocais, ganhando uma vida e alma novas. Este trabalho abre com Estado Limite, onde uma guitarra ondulante dá lugar a uma guitarra elétrica distorcida, criando uma atmosfera tensa e emocionalmente carregada, naquele que é o primeiro, de muitos momentos de surpresa presentes neste álbum. E encerra com Fim, uma versão marcante de um tema que os Resistência popularizaram, em que a bateria assume tons de marcha fúnebre, criando uma atmosfera sombria e contemplativa, que ressoa como um fecho magistral para esta obra ousada. Ao longo desta viagem deixem-se deliciar pelo magistral trabalho de acordeão, contrabaixo e piano; pelo fundamental input trazido pelos convidados vocais, com destaque para o Coro de Cantares de Évora; pela profundidade do recurso às tradições e pela beleza e ousadia. Em tons de conclusão, diremos que Venham Mais Vinte (2004-2024) é um disco que transcende o simples fado, explorando novas fronteiras sonoras e emocionais. Duarte não se limita a celebrar 20 anos de carreira; reinventa-se, arriscando-se em territórios desconhecidos com coragem e autenticidade. É um álbum que desafia convenções, emociona e, acima de tudo, redefine o que significa ser fadista no século XXI. Um convite corajoso para que venham, de facto, mais vinte anos. [95%]

 

Highlights

Estado Limite, Meus Olhos Que Por Alguém, Deixou de Ser Outra Coisa, Likes, Não Importou Que Ficasse, Do Vagar, Fim

 

Tracklist

1. Estado Limite

2. Não Inventes

3. Meus Olhos Que Por Alguém

4. Deixou de Ser Outra Coisa

5. Likes

6. Maria da Solidão

7. Não Importou Que Ficasse

8. Obrigado

9. ReViraVolta

10. Do Vagar

11. Fim

 

Músicos

Duarte – vocais

Pedro Amendoeira – guitarra portuguesa

João Filipe – viola de fado

Carlos Menezes – baixo, contrabaixo

Salomé Pais Matos – harpa (2)

Filipe Raposo – piano (6, 7)

Luciano Maia – acordeão (4, 5, 10)

Miguel Monteiro – guitarra elétrica (1)

João Pita – violão de sete cordas (8)

Mário Lopes – tarola, percussões (4, 11)

Pedro Segundo – percussões (8)

Mema – vocais, guitarra elétrica, eletrónica (9)

Vitorino – vocais (6)

Ricardo Ribeiro – vocais (10)

Pedro Calado – vocais (10)

Grupo de Cantares de Évora – coros (10)

 

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Edição

AVM  www.alainvachier.com

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