Entrevista: Nurcry

 

Desde os sonhos de um adolescente nos anos 80 até à concretização plena de uma banda em 2021, os Nurcry têm trilhado um percurso assente na paixão pela música e na liberdade criativa. Com Renacer, o terceiro longa-duração, a banda marca um novo capítulo, consolidando-se como um coletivo coeso, onde todos os membros contribuem ativamente para a identidade sonora. Em conversa com Angel Gutiérrez, mergulhamos no processo criativo do álbum, nas suas temáticas marcantes e nos planos futuros da banda, que promete continuar a crescer e, quem sabe, em breve cruzar fronteiras para visitar Portugal.

 

Olá, Angel, obrigado pela tua disponibilidade. Antes de mais, podes apresentar os Nurcry aos metalheads portugueses?

Olá a todos os leitores da Via Nocturna! Os Nurcry são uma banda que nasceu dos sonhos de um rapaz de 16 anos nos anos 80, e que se tornou realidade em 2021. Ao longo destes três anos, lançámos um EP e três LPs. Não nos prendemos a um único estilo - fazemos um pouco de tudo: heavy, power, etc. Simplesmente criamos o que vem de dentro de nós, sem nos preocuparmos com o que as pessoas possam dizer ou com o que “deveríamos” estar a fazer.

 

Renacer pode ser traduzido como Renascimento. Podes explicar o significado deste título e de que forma ele reflete o desenvolvimento da banda?

É simples. Os dois primeiros LPs foram criação minha, com a ajuda de músicos anteriores e do produtor. Mas quando formámos oficialmente a banda em 2023, começámos a trabalhar no nosso terceiro álbum. Este foi um álbum em que todos os membros contribuíram - todos partilhámos a nossa visão do que queríamos criar. Foi por isso que lhe demos o título de Renacer (Renascimento) - um novo começo como banda, e o resultado fala por si.

 

De que forma Renacer difere dos vossos álbuns anteriores, tanto musical como tematicamente?

Houve uma evolução total em todos os sentidos. A visão de uma pessoa é boa, mas a visão de seis é ainda melhor. As composições que crio agora têm o dinamismo e a frescura que cada membro traz. Já havia uma evolução do primeiro álbum para o segundo, mas com este terceiro, o progresso é enorme. Quanto aos temas, tivemos total liberdade para escrever as letras. Por exemplo, eu tenho tendência para escrever letras com um foco social, mas neste álbum, tanto o Kike como o Peri escreveram as letras que lhes apeteceu escrever. Não há um tema recorrente específico.

 

Podemos notar um som mais pesado e refinado, misturando heavy e power metal com elementos modernos. O que influenciou esta direção musical?

Os Nurcry têm sempre como objetivo um som mais moderno, embora continuem a inspirar-se na música dos anos 80 e 90. De facto, misturamos heavy com power, rock com power ou heavy metal, mas a qualidade do som é fundamental para nós. Eu não queria ficar preso ao passado e foi aí que o Manu desempenhou um papel fundamental na formação do som deste álbum. Ele tratou da produção, e o resultado foi magnífico. Tem ideias muito claras e está em sintonia com o que eu quero, o que me dá muita confiança.

 

Podes falar-nos do teu processo de composição para este álbum? Houve novas abordagens ou inspirações?

Não havia regras rígidas para compor. Não forço nada - quando a inspiração surge, ponho mãos à obra. Crio as canções e depois passo-as ao Manu ou ao Juanjo, que as refinam com as suas ideias. Nalgumas canções, o Kike contribui com as melodias vocais, enquanto noutras sou eu que as faço. O mesmo acontece com as letras. Finalmente, tanto o Peri como o Jason trazem as suas ideias para o estúdio. A evolução da primeira demo que envio para o resultado final pode, por vezes, ser drasticamente diferente, e eu adoro isso porque reflete o contributo de todos.

 

O álbum tem faixas com títulos intrigantes como Megalomanía e Galileo, entre outros. Que temas ou mensagens centrais exploras nessas canções e no álbum?

Quanto a mim, posso falar de Grita al Cielo, uma canção sobre o abuso de crianças - crianças que sofrem ou sofreram às mãos dos que lhes são mais próximos. Tento exprimir o medo por que passam e as consequências duradouras que isso pode ter no futuro. Depois temos Ciego Errante, que tem uma perspetiva bastante invulgar - é sobre um doente de Alzheimer na fase final das suas memórias, imaginando o que poderia pensar ou desejar se se pudesse lembrar. La Eterna Oscuridad centra-se mais no remorso - quando nos apercebemos que cometemos um grande erro. Estas são as que eu escrevi, mas as outras são muito pessoais, por isso vou deixar os outros membros falarem pelas suas canções.

 

Com a formação atual, como é que a dinâmica da banda evoluiu durante a criação de Renacer?

Bem, acho que já respondi a essa pergunta antes (risos)! Como disse, a evolução tem sido incrível. Estamos a conhecer-nos melhor, a ligar-nos mais e a divertir-nos muito juntos. Tudo isso se reflete na nossa música e no palco.

 

O artwork de Renacer mostra três cavalos a sair de um túnel do tempo, simbolizando o passado, o presente e o futuro. Podes explicar o processo criativo por detrás deste desenho? Como é que o visual complementa a música e os temas do álbum?

Inicialmente, a minha ideia era um cavalo com três cabeças, mas a Dess sugeriu três cavalos separados, e ela tinha razão. Se olharmos para a capa do álbum, os cavalos estão a emergir de um túnel do tempo - um representa o passado (o mais esquelético), outro o presente e o central representa o futuro, avançando. O conceito reflete o nosso novo começo como banda e a evolução da nossa música.

 

Tiveram o concerto de apresentação de Renacer em Madrid, a 16 de novembro de 2024. Como foi a receção do público às novas canções durante esse e os outros vossos últimos espetáculos?

Foi fantástica! Antes de mais, ver o recinto cheio foi fantástico. Divertimo-nos imenso e divertimo-nos a sério e, quando nos divertimos, o público também o sente. Foi incrível, tal como o nosso concerto em Vitória com os Avalanch - ver e ouvir as pessoas a cantar as nossas músicas eleva-nos mesmo.

 

Depois do lançamento de Renacer, quais são os planos dos Nurcry para digressões ou projetos futuros?

O futuro? Só o tempo dirá. Por enquanto, estamos a começar uma digressão com os Cobra Spell. Inicialmente, era suposto irmos a Lisboa e ao Porto, mas não deu certo, por isso vamos ficar em Espanha por enquanto. Mas vamos de certeza passar por Portugal em breve - é algo que tenho em mente. Entretanto, estamos a trabalhar nos bastidores em mais canções, novas ideias e mais espetáculos. Não paramos e esperamos continuar por muito tempo.

 

Mais uma vez, obrigado, Angel. Queres enviar alguma mensagem aos teus fãs ou aos nossos leitores?

Quero mandar uma grande saudação a todos os leitores do Via Nocturna. Apoiem o rock, apoiem as bandas dos seus bairros e do seu país, e vão aos seus espetáculos! É importante apoiar e ajudar a manter a música viva. E se nos quiserem conhecer, ouçam-nos - não se vão arrepender! Um grande abraço a todos!

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