Entrevista: Höt Föxx

 

Numa era em que a autenticidade muitas vezes se perde entre filtros e fórmulas, há bandas que surgem para lembrar o que é rock sem compromissos. Os Höt Föxx, oriundos de Aveiro, são um desses casos raros: uma explosão de energia crua, atitude desavergonhada e riffs que cheiram a gasolina e noites longas. Com um nome que grita neón e uma sonoridade que mistura sleaze, hard rock e o que mais lhes apetecer, esta jovem banda nacional está a deixar a sua marca nos palcos e nos ouvidos mais atentos. Na companhia de Carlos Nicolau mergulhamos no universo elétrico dos Höt Föxx, desde as origens pouco ortodoxas à ambição feroz que os move.

 

Olá, Carlos, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Para quem ainda não vos conhece, quem são os Höt Föxx e como nasce esta aventura musical?

Olá, Pedro, obrigado nós pelo convite. Os Höt Föxx nasceram de uma vontade que já borbulhava há mais de 10 anos. Eu (guitarra), o Daniel (guitarra) e o Gonçalo (baixo) conhecemo-nos no secundário — éramos os três gajos com o cabelo mais comprido de Aveiro, o que facilitou o encontro. Tentámos formar várias bandas, mas a dificuldade de encontrar o lineup certo destruiu todas as tentativas. Recentemente, reencontrámo-nos no Milagre Metaleiro e isso bastou para reacender a chama. Voltámos a escrever músicas (e desta vez prestavam). O Jorge, nosso amigo de longa data, tinha, entretanto, pegado na bateria, e a última peça foi o Luke (voz), que se mudou do Brasil para Portugal. Uma jam na cave do Jorge foi o suficiente para percebermos que, desta vez, apanhámos o relâmpago.

 

O nome Höt Föxx é, no mínimo, curioso e marcante. Qual a história por detrás do nome?

Queríamos algo que cheirasse a Drakkar Noir, gasolina e eletricidade, tudo misturado numa betoneira a alta rotação. Na altura fizemos uma lista de sugestões, mas, no final, riscámos aquilo tudo e escolhemos Hot Fox - que nem sequer estava lá. Ainda assim, faltava um toque de sujidade e charme promíscuo. Höt Föxx soa rápido, é fácil de gritar e fica brutal escrito em néons. É exatamente a imagem que queremos passar.

 

Como definiriam o vosso som? Sentem-se mais próximos de algum estilo específico ou preferem manter uma abordagem mais livre e eclética?

Para mim soamos a motas velhas, casacos de cabedal com franjas, jatos F-14, óculos de aviador... Seja lá que estilo for esse, é o nosso. Nunca quisemos soar a algo específico — tocamos o que nos soa bem. Se a música pedir sleaze, hard rock, flamenco ou synthwave, é isso que vai ter.

 

Quais são as principais influências que moldam o vosso processo criativo? Há alguma banda ou artista que sirva de bússola para o vosso percurso?

Podia despejar aqui aquela lista clássica de bandas que, em atitude ou som, nos influenciam — mas toda a gente vai adivinhar quais são. O que realmente alimenta o nosso processo criativo são cenas do dia a dia: frases grafitadas em muros, conversas roubadas num bar, filmes de ação série B... Quando isto se transforma num riff, o resto da música descola sozinha. Não temos bússola, mas sabemos para onde vamos.

 

Qual foi o momento em que perceberam que estavam prontos para levar a banda a um outro nível, seja em termos de gravações, concertos ou visibilidade?

Desde o dia 1 que o nosso propósito foi sair da cave. Assim que conseguimos tocar um set de uma hora de originais — a fazer piruetas sem nos enfaixarmos uns nos outros — partimos para os concertos. Logo na estreia tivemos casa cheia e uma confirmação clara: temos o que é preciso. Isto deu-nos um impulso para escrever mais material, melhorar o espetáculo e procurar mais palcos. O passo seguinte tornou-se óbvio: iniciar as gravações. Aconteceu tudo de forma orgânica.

 

O circuito nacional tem vindo a abrir mais portas a projetos emergentes, mas ainda assim continua exigente. Como têm sentido a receção por parte do público e dos espaços onde atuam?

O público tem reagido como queríamos: com suor, gargalhadas e braços no ar. Os espaços reconhecem que somos profissionais porque levamos sempre um XLR a mais. São concertos intensos, cheios de movimento e cor e é isso que os deixa cravados na memória. Nunca subimos ao palco só para tocar, o que deixa a sua marca.

 

Para já, Risky Business foi a primeira amostra que despertou interesse em muita gente. Já têm outros temas prontos a serem lançados? 

Fica aqui o anúncio oficial: vamos lançar mais dois singles durante os próximos meses. Sigam-nos no Instagram (@_hot.foxx) ou Facebook (@hotfoxxband), para não perderem nada.

 

Têm tido oportunidade de partilhar palco com outras bandas ou participar em eventos que considerem marcos importantes no vosso percurso?

Curiosamente, ambas as partes dessa pergunta têm a mesma resposta: fomos convidados pela Electric Chaos, em março, para abrir para os Affäire no Buraco Pub. É definitivamente um daqueles momentos que ficam. Já acompanhávamos os Affäire há muitos anos, ter a oportunidade de partilhar o palco com eles foi brutal.

 

Sendo uma banda jovem, quais são os maiores desafios que têm enfrentado até agora? E que conquistas mais vos enchem de orgulho?

Tudo é um desafio, tudo tem sido feito à porrada. Costumo dizer meio a brincar, mas é quase verdade: desde que arrancámos, passo mais tempo a mandar e-mails do que a tocar guitarra. Definitivamente, a parte mais complicada tem sido arranjar concertos — a nossa imagem fecha algumas portas, mas temos sempre o pé-de-cabra. Depois há o resto: edição de fotos, gravação de videoclipes, escolha de distribuidoras, contactos com o meio, decoração de palco, press kits... tudo feito por nós. É uma luta diária. Quanto a conquistas, estou satisfeito com o que já alcançámos, mas orgulho ainda não é a palavra certa. Ainda não chega. Queremos mais — e vamos sempre querer.

 

O que podemos esperar dos Höt Föxx nos próximos tempos?

A primeira coisa que vem aí é o lançamento dos próximos singles e, claro, concertos. Neste momento, o objetivo é simples: expandir o público o máximo possível. Paralelamente, vamos também arrancar com a nossa linha de merch. Já não aguento mais pessoal na frontline a tentar roubar-me a camisola! Num futuro mais distante, temos muitos temas que queremos gravar — por isso, se alguma editora estiver a ler isto, mandem os papéis!

 

Por fim, que mensagem gostariam de deixar a quem está a descobrir agora o universo Höt Föxx?

Se já estão fartos de música envernizada, bem-vindos à matilha. Vemo-nos na estrada.

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