Com raízes nas composições íntimas de Tiago Jesus,
Javisol foi crescendo de forma orgânica até encontrar a sua voz própria — uma
fusão intensa entre o rock e a profundidade lírica inspirada no fado. Nesta
entrevista exclusiva, a banda fala-nos do percurso desde os primeiros acordes
até ao lançamento do álbum de estreia, passando pelos desafios criativos, a
importância da saúde mental nas suas letras, e o impacto crescente junto do
público. Uma conversa honesta e direta com uma banda que promete não ficar
apenas à margem da música portuguesa. Portanto, palmas para Javisol!
Olá,
pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Para começarmos, podem apresentar
este projeto Javisol – quando surgiu, com que motivações e como tem sido o
vosso trajeto até aqui?
JAVISOL
nasce das canções do Tiago Jesus, quando se juntou com o André Morais
para as trabalhar mais a fundo. Em 2018 começámos a experimentar tocá-las na
rua, com um trompetista (Pedro Barroso) e um baterista (Sadik Afonso).
Mas a banda só foi oficialmente fundada em 2019, quando conhecemos o Bruno
Mimoso (bateria). Em 2022 junta-se o João Aguiar na guitarra
elétrica e, em 2024, depois das gravações do disco, entra o Ricardo
Rodrigues para substituir o Bruno na bateria.
Como
foi o processo de formação da banda e a escolha do nome? Tem algum significado
especial ligado ao vosso som ou temática?
O nome vem da
marca Javisol, que tinha um anúncio adorado pelo avô do Tiago, onde
diziam: “palmas para Javisol”. Essa frase tornou-se um chavão icónico na
família do Tiago, usada nas mais variadas situações — tanto que decidimos ser o
“javisol” a quem batem tantas palmas.
Quais são as vossas principais referências, tanto a nível
musical como temático?
Musicalmente,
nunca houve uma banda que unisse os quatro de forma óbvia, mas partilhamos
várias influências que nos ligam em múltiplas camadas, tanto musicais como
temáticas — como, por exemplo, RHCP, Linkin Park, Linda
Martini.
Desde a vossa formação em 2019 até agora, como sentem que a
vossa música evoluiu e quais foram os principais desafios enfrentados?
Ao longo dos
anos, a nossa música foi evoluindo bastante. Quase todas as músicas passaram
por um processo demorado de descoberta — perceber o que realmente serve cada
uma e como ressoam connosco. Um dos maiores desafios tem sido a divulgação dos
concertos e da própria banda. Chegar a mais pessoas continua a ser uma luta.
O vosso álbum de estreia é descrito como uma fusão de rock alternativo com influências do fado. Como se desenrolou
o processo criativo para alcançar essa mistura de estilos?
No início, as
músicas tinham outras cores, mas sempre com uma base rock. Com o tempo —
e com as pessoas que fomos conhecendo, as dicas que recebemos e a música que
fomos ouvindo — a voz de JAVISOL começou a aproximar-se do fado, que
sentimos ser o lugar onde a letra e a expressão vocal mais se encontram. E era
exatamente isso que queríamos para as nossas canções.
Temas como Na Lama e Corda
Bamba abordam emoções cruas e experiências humanas universais. Como escolhem
os temas das vossas músicas e qual a importância de abordar tais assuntos?
Não houve
propriamente uma escolha de temas. Apesar de haver uma certa linha comum ao
longo do disco, foram apenas as ideias que acabaram por chegar ao papel.
O aspeto lírico é muito importante, com letras que se tornam
verdadeiros poemas musicados. Quem é o autor das letras e que aspetos procura
abordar na sua abordagem?
As letras são
todas do Tiago. Apesar da urgência em falar sobre saúde mental, não há regras
nem limites para os temas das nossas canções.
Também é curioso, porque alguns dos poemas têm pontos de
ligações com outros. Podemos considerar este um álbum conceptual?
Sim, o disco é
como uma viagem pelo pensamento de alguém que não está muito bem. O JAVISOL
sabe que não vai mudar o mundo, mas também sabe que, mesmo que não mude muito…
já muda muito mais do que nada. Inicialmente, havia mais uma música que
concluía o processo de outra forma, mas acabou por ficar fora do disco.
Chamava-se Estou em Mim.
Sendo um projeto novo, como foi o processo de composição e
gravação deste primeiro álbum? Houve desafios inesperados ou momentos de
descoberta no estúdio?
Gravar este disco
foi desafiante desde o início. Começámos em 2020, mas fomos interrompidos pela
pandemia. Entretanto, mudámos de casa e de trabalho, e a banda ficou em pausa
até cerca de 2022, quando o João entrou. Nesse intervalo, o álbum ficou
inacabado e as músicas foram evoluindo nos ensaios, ficando inevitavelmente
diferentes das versões gravadas. Por isso, decidimos regravar tudo. Só em 2024
conseguimos finalmente conciliar os horários (e as finanças) de todos para
terminar o disco com a verdadeira identidade da banda.
Como surgiu a participação especial de Napoleão Mira no
videoclipe de Tempestade e que impacto teve
na narrativa visual do tema?
Quando pensámos
na Tempestade e no videoclipe, sabíamos que queríamos alguém com alguma
idade, que representasse o que é “ser velho”, mas sem ser demasiado velho. O
João andou na escola com uma das filhas do Napoleão e já se tinham cruzado em
estrada com outros projetos. O Napoleão tem um rosto super fotogénico e
carismático — era mesmo a pessoa ideal para o projeto. Fizemos o convite e ele
aceitou. O resto podem ver no clipe.
Aliás, os videoclipes são bastante importantes na vossa
expressão artística. De que forma trabalham a narrativa visual para
complementar as músicas?
Os videoclipes
são talvez uma forma mais literal de mostrar as nossas referências, enquanto
servem também como veículo para ideias que não se exprimem só com música.
Como sentem que Tempestade se possa
posicionar na cena musical atual? Existe um público-alvo que procurem atingir
ou deixam a música falar por si?
Não temos
propriamente um público-alvo com JAVISOL — queremos nos concertos quem
se identificar com as nossas canções! Somos uma banda de rock e não nos
vemos à margem do rock feito em Portugal.
Já agora que falamos em público, como têm sido as reações ao
álbum até agora? Sentem que o público tem captado a essência emocional que
quiseram transmitir?
A receção tem
sido incrível. Saber que todo o tempo que investimos a tocar e gravar estas
músicas está a ter impacto nas pessoas é espetacular. Achamos que é urgente
falar sobre o que sentimos, especialmente aquilo que guardamos só para nós. E o
público tem-nos dito isso — aliás, é dos motivos que mais fazem com que gostem
da nossa música.
O que significou e que impacto teve para a banda receber o
prémio de “Melhor Espetáculo” no Festival Emergente em 2022?
Ganhar o prémio
de Melhor Concerto no Emergente 2022 foi um grande impulso para a
banda. Foi um dos nossos primeiros concertos e deu-nos alguma prova de que
estamos a fazer o que devemos mesmo estar a fazer.
Após o lançamento do vosso álbum de estreia e da tour de apresentação, quais são os próximos passos para os
Javisol?
Depois da tour...
que venha outra, não é? :)
Por
fim, que mensagem gostariam de deixar aos vossos fãs e a quem está agora a
descobrir Javisol?
Quem já nos
conhece sabe que temos mais músicas para gravar — e podem contar com isso em breve.
Quem ainda não conhece, fica o convite: escutem o álbum, vejam os videoclipes e
venham ver-nos ao vivo! Fiquem muita bem. Não fiquem só bem.




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