Review: Entreparedes (PAULA TELES)

 

Entreparedes (PAULA TELES)

Ethereal Sound Works

Lançamento: 30/abril/2025

 

Com Desencanto, Paula Teles atirou uma verdadeira bomba de fragmentação de efeitos imprevisíveis. A sua forma única de juntar metal com o fado revelou-se uma aposta totalmente ganha e, acima de tudo, demonstrou como dois mundos, aparentemente tão díspares, poderiam resultar bem quando juntos. Depois desse impactante primeiro trabalho, era com enorme expetativa que se esperava a continuidade do projeto. Ela surge agora via Ethereal Sound Works, traz o título Entreparedes e apresenta-se como uma homenagem ousada a duas referências incontornáveis da cultura e da história portuguesa: Carlos Paredes (1925-2004) e o 25 de Abril. Este é um trabalho que, uma vez mais, mergulha num território híbrido entre o fado e o metal, enquanto honra a memória do mestre da guitarra portuguesa. E, com ele, traz uma linguagem artística muito própria, que já começara a ser desenhada no primeiro álbum, mas que aqui se revela mais amadurecida, complexa e emocionalmente densa. Logo desde Prólogo, a atmosfera criada evoca a presença espiritual do fabuloso guitarrista português, como se a sua guitarra, elemento central e diferenciador da obra, servisse de fio condutor entre o passado e o presente, entre a tradição e a reinvenção. Paula Teles não utiliza este instrumento como simples ornamento ou citação, mas como voz ativa e, por vezes, dominante na construção sonora das faixas. Em alguns momentos assume o protagonismo com brilho, noutros recolhe-se, dando espaço à densidade dos riffs e às dinâmicas vocais, sempre com uma função clara e decisiva na narrativa musical. Entreparedes exige escuta atenta. Não é de digestão imediata, e é precisamente essa exigência que o valoriza. As estruturas são complexas, as transições inesperadas, e a justaposição entre o fado — tanto nos timbres vocais como na alma interpretativa — e a agressividade textural do metal cria uma tensão constante que impele o ouvinte a regressar, a tentar decifrar novas camadas. A voz de Paula Teles, surge também aqui, marcada por uma entrega intensa e uma afinação com a alma fadista, muitas vezes colocada em contratempo com instrumentais densos e pesados. É também notório o cuidado com a produção, onde cada detalhe — seja o fraseado da guitarra portuguesa, os coros envolventes, ou os momentos de declamação poética — é tratado com intenção e rigor. Por outro lado, Björn Strid volta a arriscar cantar em português, como já tinha acontecido no trabalho anterior. E este é mais um dos exemplos da ambição estética do projeto: uma escolha simbólica que permite a ponte entre mundos aparentemente distantes (o metal escandinavo e a herança musical portuguesa). No seu todo, este segundo trabalho de Paula Teles é mais do que uma continuação lógica do anterior. É a confirmação da maturidade e visão artística da sua criadora. Um álbum onde é possível descobrir um gesto musical profundamente português e, ao mesmo tempo, radicalmente universal. [90%]

 

Highlights

II Acto, Contra-Regra, Re (Encarnado), Pêndulo

 

Tracklist

1.      Prólogo

2.      Ventre

3.      Pêndulo

4.      Contra-Regra  

5.      II Acto

6.      Ponto Cego

7.      (Re) encarnado

 

Line-up

Paula Teles – vocais, piano

Jorge Lopes – guitarra portuguesa

Hélder Lopes – todos os instrumentos

 

Convidado

Bjorn Strid – vocais (7)

 

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Edição

Ethereal Sound Works   

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