Reviews VN2000: JPCAVADAS; ØRESUND SPACE COLLECTIVE; HOT AIR BALLOON; HERMAN RAREBELL & FRIENDS; THE DEAD DAISIES
Emily (JP CAVADAS)
(2024,
Independente)
Emily, de JP Cavadas,
é um álbum instrumental marcado por suavidade, introspeção e uma forte
componente ambiental. Com 9 faixas instrumentais e uma única canção vocal, é
uma banda sonora ideal para ambientes relaxados, momentos de meditação ou
contemplação silenciosa. A sonoridade evoca por vezes a atmosfera discreta de
um lobby de hotel, com beats suaves, teclados low-profile
e arranjos minimalistas. Mad Line, o single de apresentação,
resume bem o espírito do disco: simples na estrutura, mas envolvente. Mas, do
lado oposto, Mad Adventure destaca-se pela sua energia e tonalidade jazzística,
enquanto Shout e You Are Like This acrescentam intensidade, com
baixo e guitarra elétrica a ganharem maior protagonismo. No entanto, apesar da
riqueza atmosférica, as faixas são demasiadamente curtas, funcionando quase
como rabiscos ou rascunhos musicais. Muitas ideias parecem apenas esboços,
deixando a sensação de que poderiam ser mais desenvolvidas. [70%]
Espaço 2 (ØRESUND SPACE COLLECTIVE)
(2025,
Space Rock Productions)
O álbum Espaço 2,
do coletivo luso-dinamarquês Øresund Space Collective, é mais uma viagem
cósmica e psicadélica, dando continuidade natural ao disco Espaço, com o
qual partilha não só a estética sonora, mas também a origem: sessões de
gravação realizadas em Portugal, em 2023, cuja energia parece ter deixado uma
marca profunda nas improvisações aqui captadas. Dividido em três longos temas, Espaço
2 mantém-se fiel à abordagem livre e meditativa que carateriza o coletivo.
A abertura do álbum, com mais de meia hora de duração, é um mergulho hipnótico
em texturas cósmicas e ambientes flutuantes. A presença marcante da cítara —
cortesia de KG Westman — confere-lhe um sabor distintamente oriental,
evocando paisagens imaginárias algures entre o deserto e as estrelas. O
terceiro e último tema, Espaço Para Você, destaca-se desde logo pelo
título em português — um gesto simbólico que reforça a ligação do álbum ao
local da sua génese. Este tema encerra o disco com uma energia mais suave e
acolhedora, uma despedida sem pressa e contemplativa, que fecha o círculo com
elegância. [71%]
Come This Far (HOT AIR BALLOON)
(2025,
Independente)
Come This
Far é o
segundo álbum da dupla luso-irlandesa Hot Air Balloon, formada por Tiago
e Sarah-Jane, e apresenta uma estética intimista e orgânica,
desenvolvida a partir da simplicidade da guitarra e da voz. Ao longo das sete
faixas deste trabalho, somos envolvidos por delicados arranjos com camadas
sonoras emotivas. Temas como Do It Again e Keep Me Going, que
contam com Carlos Barros na bateria, além de Saoirse — cantada em
irlandês — simbolizam liberdade e raízes culturais. Já os dois temas finais, Layers
e Getting Back To Myself, foram gravados ao vivo nos Estúdios Pancada,
com a colaboração de músicos como Pedro Oliveira, Marco Ferreira
e João Madeira. Apesar de profundamente pessoal, Come This Far
revela-se universal em emoção, conseguindo fazer com que os ouvintes se sintam
como parte dessa história de cumplicidade e transformação. [76%]
What About Love? (HERMAN RAREBELL & FRIENDS)
(2025, Metalville Records)
What About
Love?, o novo
álbum de Herman Rarebell & Friends, é uma celebração vibrante dos
clássicos do rock dos anos 80. Revisitando temas como Sweet
Child O' Mine, Every Breath You Take, In the Air Tonight, What
About Love?, Here I Go Again e Rock You Like A Hurricane,
Rarebell reúne uma seleção de músicos de peso para dar nova vida a canções que
marcaram gerações. Este trabalho surge com o propósito de homenagear
essas músicas, mas também reavivar o espírito apaixonado e positivo que elas
transmitiam. A sua visão artística vai muito além do seu instrumento, já
que ele entende o rock como uma linguagem universal que fala de
liberdade, coragem e, acima de tudo, amor. Esse é precisamente o fio condutor
do álbum: o amor como força criativa. Rarebell acredita que essa essência se
perdeu ao longo do tempo e tenta, aqui, resgatá-la — não com inovações
radicais, mas com respeito, paixão e autenticidade. E, no fim das contas, pouco
importa que este seja um álbum que pouco acrescente a qualquer discografia. O
que importa é que ele é composto por momentos icónicos da história da música —
uma verdadeira carta de amor ao rock e aos sentimentos que ele desperta.
Uma playlist que dá sempre um prazer do caraças ouvir! [81%]
Lookin’ For Trouble (THE DEAD DAISIES)
(2025, Fame
Records/SPV)
Os The
Dead Daisies têm-se afirmado como uma verdadeira força do rock
clássico contemporâneo. Fundada em 2012, a banda é um coletivo de músicos
consagrados do hard rock, cujo som une a energia bruta dos anos 70 com
uma produção moderna. Com um historial de álbuns sólidos e uma dedicação
constante à estrada, os Daisies mantêm viva a chama do rock'n'roll
com uma paixão inabalável. Mas, no seu mais recente álbum, Lookin’ For
Trouble, o pretendido é algo maior: uma homenagem sincera às raízes do blues
e do rock, especialmente aos grandes mestres que moldaram estes géneros.
Assim, a banda mergulha no universo do blues através de poderosas interpretações
de clássicos imortais. Há um destaque especial para os chamados “três Kings” do
blues — Freddy King, B.B. King e Albert King —,
figuras incontornáveis que moldaram o som de gerações. A sua influência é
palpável em faixas como The Thrill Is Gone, onde os The Dead Daisies
prestam homenagem a B.B. King com uma versão respeitosa e emocional,
enriquecida com o órgão Hammond B3, cortesia do convidado de Peter
Kadar. Outro nome incontornável revisitado neste disco é Muddy Waters,
símbolo maior do blues de Chicago, cujas composições ajudaram a definir
o tom para muito do que se seguiria no rock’n’roll. A banda não se fica
pelos nomes consagrados e presta também tributo a vozes menos conhecidas, mas
profundamente influentes, como Huddie “Lead Belly” Ledbetter, cuja fusão
de folk e blues inspirou desde o delta até à eletrificação
urbana do género. As sessões de gravação de Lookin’ For Trouble
coincidiram com os trabalhos de estúdio do último álbum de originais da banda, Light
'Em Up, capturando toda a mística de Nashville e dos Fame Recording
Studios. Lookin’ For Trouble é uma viagem sonora por paisagens
conhecidas, mas com uma roupagem nova, feita com devoção, paixão e uma notável
qualidade de execução. [85%]






Comentários
Enviar um comentário