Desde
a última vez que nos cruzámos com os The Twist Connection, em 2018, muita coisa
aconteceu. A banda de Coimbra não parou: mais discos, mais palcos, mais
estrada, mais colaborações — e também mais vida, com tudo o que isso implica de
crescimento, mudança e resistência. Em 2024, voltam à carga com Concentrate Give It Up It’s Too Late, um álbum que nasce
de tempos sombrios, mas que se afirma como manifesto de perseverança, energia e
identidade artística. Conversámos com Carlos
Mendes e Samuel Silva
sobre este novo capítulo. Falámos sobre perdas e reencontros, sobre a urgência
de cantar, sobre o espírito de Coimbra e sobre o lugar (ou não-lugar) do rock
independente em 2025. E, claro, sobre o que realmente importa: continuar.
Olá, pessoal, tudo bem?
Como tem sido a história e vida dos The Twist Connection desde a última vez que
conversámos em 2018?
CARLOS MENDES (CM): Editámos mais três álbuns e três 7”. Demos muitos
concertos em Portugal, andámos por Espanha, onde fomos a banda portuguesa
galardoada com prémio Pop Eye em 2019. Também fizemos datas em França.
Fomos um quarteto e passámos a trio. Trabalhámos com o Boz Boorer, Gregg
Foreman, Michael Purkhiser, Tracy Vandal, Miguel Padilha.
Editámos o penúltimo álbum no Brasil.
Estamos aqui e queremos continuar.
Quanto ao novo álbum,
comecemos pelo princípio: como nasceu? O que é que o motivou artística e
emocionalmente?
CM: Começou em janeiro de 2024, os temas foram surgindo naturalmente na
sala de ensaios, sempre com intenção de não nos repetirmos, obviamente, a nossa
identidade mantém-se, mas pensámos em fazer algo mais pragmático.
Emocionalmente, lembro-me de ser uma fase de cansaço e alguma tensão na minha
vida pessoal, queria dizer com urgência os refrões dos temas do Concentrate,
Robbery, Crime. Em março,
na mesma semana, perdi a minha mãe, foi internada num estado de demência
bastante avançada e o meu pai faleceu passado três dias. Não quis ouvir os
temas gravados durante três meses. Entretanto o Sérgio adoeceu e foi
substituído pelo Pedro Chau. Quando começámos a fazer temas novos já foi
com o Pedro Chau, artisticamente qualquer banda muda quando se muda um
elemento. Emocionalmente, pessoalmente, foi uma fase de maior escuridão. Mas
ainda sabíamos pelo menos para onde não queríamos ir.
O título, Concentrate Give It Up
It’s Too Late, é quase um poema por si só. Qual foi a inspiração para um
nome tão longo e evocativo? Que mensagem ou sensação queriam transmitir logo à
partida com esse título?
CM: Concentração, manter a cabeça no lugar. Desistir? É demasiado tarde para se desistir. Concentrado ou desconcentrado, não se
desiste.
Comparado com os vossos
álbuns anteriores, sentem que houve uma evolução no vosso som? Há novas
influências ou experiências pessoais que se refletiram fortemente neste disco?
CM: Claro que houve evolução. Trabalhámos com pessoas como o John Mercy
que assumiu a coprodução e foi acrescentando sonoridades que nos pareceram
pertinentes. Esteticamente, como referi acima, temos um elemento novo, com uma
perspetiva diferente em relação ao baixo nos temas dos Twist Connection.
As influências passam pela década de 50 do século XX até 2025. É alguma coisa.
Há alguma faixa neste
disco que considerem particularmente especial ou simbólica para vocês enquanto
banda? Porquê?
CM: Smiling Man. Lembro-me muitas vezes do sorriso do meu melhor
amigo. Ele já não está cá.
Este disco conta com
colaborações como Tracy Vandal e John Mercy. Como surgiram estas parcerias e de
que forma moldaram o som ou a direção das faixas em que participaram?
SAMUEL SILVA (SS): O John Mercy é um colaborador com quem já
partilhamos alguma história. Coproduziu os nossos dois primeiros álbuns - Stranded
Downtown e The Twist Connection - e sentimos sempre que é alguém que
não só nos “compreende” como ainda tem a capacidade de acrescentar, de sugerir,
de apontar caminhos e sonoridades pertinentes. Foi um elemento-chave neste
álbum. A Tracy é uma amiga de longa data e uma vocalista e frontwoman
excecional. Em todos os álbuns vemos sentindo necessidade de introduzir na
nossa dinâmica, aqui e ali, quem nos possa oferecer algo diferente... desta vez
foi da Tracy que nos aproximámos!
Coimbra é uma cidade
com uma identidade musical muito própria. De que forma acham que o vosso
percurso e a vossa sonoridade se cruzam com esse "espírito coimbrão"?
SS: A nossa relação com a cidade é inequívoca. Os que de nós não nasceram
em Coimbra já cá vivem há mais de 30 anos pelo que é difícil fugir de uma certa
marca estética identitária... a crença de que o rock´n´roll, de que a
eletricidade, podem mudar o mundo vive em Coimbra desde os anos 90,
nomeadamente entre uma geração de pessoas que já muito ofereceu neste universo
musical. Somos parte dessa geração ou descendemos e bebemos diretamente dela,
no meu caso, pelo que mantemos essas mesmas crenças!
Fala-se muito do
revivalismo no rock e do papel das bandas independentes hoje em dia.
Como veem o lugar dos The Twist Connection nesse panorama?
SS: Sentimos que ainda estamos à procura do nosso lugar. Não que não haja
reconhecimento ou não sejamos até referência para alguns músicos mais jovens,
mas há tanto para trabalhar e tanto para crescer que gostamos de nos sentir
desconfortáveis e deslocados ainda! É importante olharmos para o que fazermos, olharmos para o que conquistámos e
alcançámos e sentirmos que há muito mais caminho para fazer, que há muito mais
para atingir... é preciso sentir “fome”! E a verdade - ou pelo menos a verdade
como a vemos - é que o rock´n’roll é hoje um fenómeno de nicho, de
circuitos independentes, longe - salvo salutares exceções - das massas... pelo
que há muito a conquistar!
A vossa música sempre
teve uma energia muito forte ao vivo. Como pensam levar este novo álbum para o
palco? Podemos esperar novidades nos concertos?
SS: Com a mesma energia a mesma crença no poder do rock’n’roll que
sempre nos caraterizou! Não duvidamos que é em palco, em comunhão com o
público, que a nossa música melhor se expressa e, como sempre, estejamos a
tocar num clube pequeno ou no maior dos festivais, frente a 50 pessoas ou com
10 mil a olharem para nós, vamos dar tudo por aquilo em que acreditamos! As
canções novas vão sendo introduzidas nos setlists e, depois, como sempre
fizemos, vamos vendo quais sobrevivem e acrescentam!
Obrigado, pessoal. Que
mensagem gostariam de deixar aos nossos leitores e aos vossos fãs?
SS: Venham ter connosco! Venham dançar connosco! Sigam-nos nas nossas redes
sociais e apanhem-nos quando passarmos pela vossa cidade, localidade ou
festival favorito! Sem vocês isto não faz sentido!



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