Cada Qual Na Sua Mente (SOGRANORA)
Independente
Lançamento: 23/maio/2025
Desde a sua estreia discográfica, os Sogranora
têm vindo a trilhar um caminho singular no panorama alternativo português.
Oriundos de uma cena independente cada vez mais fértil em propostas autorais, o
coletivo fez-se notar com vários singles e EPs até chegar ao longa-duração de
estreia Cada Qual Na Sua Mente, onde o trio seixalense eleva ainda mais
o seu universo sonoro. Trata-se de um álbum que não se impõe pela urgência, mas
pela forma como se insinua aos poucos, desabrochando com a calma e a subtileza
de quem respeita o silêncio. Um disco de escuta atenta e de recompensa
profunda, onde o indie serve de base para um cruzamento de influências — do folk
mais contemplativo ao jazz brasileiro, passando por elementos de música
de autor e apontamentos mais atmosféricos. Assente em arranjos meticulosamente
construídos, o disco vive de uma elegância discreta, quase sempre low
profile, mas nunca tímida. A abertura com o tema-título é reveladora: uma
entrada serena no universo da banda, que começa enraizada no indie e
evolui subtilmente até atingir um clímax instrumental com ressonâncias latinas,
a fazer lembrar os devaneios de Santana — um início que revela ambição
estética e apuro técnico. Mas é em Ilha que o álbum atinge o seu ponto
mais alto: um tema portentoso, envolto numa atmosfera onde a guitarra acústica
e a flamenca dançam numa coreografia íntima e arrebatadora. A produção sabe dar
espaço aos instrumentos para respirarem, criando uma sensação de vastidão
sonora que eleva o disco a outra dimensão. A diversidade estilística de Cada
Qual Na Sua Mente não compromete a sua coesão. Há momentos de indie
quase literário, como em Adio o Quanto Conseguir Adiar, com um fraseado
rítmico que evoca o peculiar estilo de Sérgio Godinho; noutros, a
percussão e o baixo assumem protagonismo, como em Azul, onde o groove
se torna veículo de expressão emocional. O jazz brasileiro também deixa
a sua marca em Dente de Leão, enquanto o encerramento com O Fumo
oferece uma das abordagens mais ousadas do disco: spoken word,
declamação quase teatral que se entrelaça com a linha vocal principal, numa
estética que poderia muito bem dialogar com o legado de José Afonso. É
verdade que nem todos os temas atingem o mesmo grau de desenvolvimento — Qualquer
Sonho Meu, por exemplo, parece prometer mais do que entrega — e há faixas,
como Hoje Já Só Bebo Vida, que se ressentem da sua curta duração. Ainda
assim, a consistência geral é notável, e a sensação de que estamos perante um
projeto com identidade e visão artística é clara desde os primeiros minutos. [84%]
Highlights
Cada Qual Na Sua Mente, Conto, Ilha,
Azul, O Fumo
2 -
Qualquer Sonho Meu
3 - Adio o
Quanto Conseguir Adiar
4 – Conto
5 - Sobral
6 – Ilha
7 – Azul
8 - Dente
de Leão
9 - Hoje
Já Só Bebo Vida
10 - O
Fumo
Line-up
Ricardo Sebastião – guitarras, teclados, vocais
Tomás Andrade - guitarras, teclados, backing vocals
Vasco Gomes - bateria, percussão, backing vocals
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