Chegámos ao Início (MOSTARDA NO PREGO)
(2025,
Independente)
Os Mostarda
no Prego estão de regresso com Chegámos ao Início, um álbum que
traduz com nitidez o percurso de amadurecimento de uma banda que nunca teve
receio de cruzar géneros ou afirmar identidade. O disco começa com uma
sonoridade algo juvenil, apaixonada e quase ingénua, mas rapidamente se adensa,
tanto em termos líricos como musicais, revelando maior solidez e consciência
artística. Com influências bem vincadas do rock, é nos coros que o grupo
mais brilha, aproveitando harmonias bem conseguidas para acentuar refrões
memoráveis. As bases acústicas dominam grande parte do registo, mas também há
uma clara intenção de explorar outras dinâmicas e texturas — ora com baladas de
piano ambiental, ora com explosões punk-funk de fraseado quase hip
hop, teclados densos e ritmos sincopados. Desta forma, Chegámos ao
Início é um disco que vai deixando fluir as melhores influências nacionais:
dos hinos à lá Alcoolémia à irreverência rockeira dos UHF,
passando pelo fraseado inconvencional de Jorge Palma. No fundo, este é
álbum que celebra a identidade múltipla da banda com canções bem trabalhadas e
uma atitude descontraída, mas madura.
[76%]
Luminous Voyage (EXO-X-XENO)
(2025,
Independente)
Chega-nos finalmente o
tão aguardado álbum Luminous Voyage, a nova aventura progressiva concebida
por Craig Maher sob o enigmático manto de exo-X-xeno. Acompanhado
por uma autêntica constelação de estrelas, onde se incluem Billy Sherwood
(Yes, Toto), Jay Schellen (Asia, Yes) e Patrick
Moraz (Refugee, Moody Blues, Yes), Maher oferece sete
faixas imersivas, paisagens musicais intricadas e múltiplas camadas
instrumentais. Sherwood e Schellen injetam a habitual dinâmica e coesão na
secção rítmica, enquanto Moraz, com a sua habitual sofisticação, acrescenta cor
e densidade harmónica aos temas. Recomendado para fãs de Yes ou Steve
Hackett, Luminous Voyage demonstra ser um bom álbum de prog rock,
capaz de criar algumas boas paisagens e preenchido com destacadas variações, embora
raramente consiga ser verdadeiramente empolgante. [76%]
Love (THE FLOWER KINGS)
(2025,
InsideOut Music)
Com mais de
três décadas de carreira às costas, os suecos The Flower Kings continuam
a trilhar um caminho seguro, mas não menos grandioso, dentro do espectro do rock
progressivo sinfónico. O novo álbum, Love, é mais uma prova da
consistência criativa da banda liderada por Roine Stolt, onde, ao longo
de doze faixas e cerca de setenta minutos de duração, volta a mergulhar nos
sons cristalinos e nas atmosferas caleidoscópicas que definem o seu ADN. A
proposta é tudo menos contida: guitarras melódicas, sintetizadores com sabor vintage,
secções instrumentais extensas e composições que oscilam entre o épico e o
contemplativo. A herança dos Yes continua a ser evidente (por vezes
talvez até demais), mas os The Flower Kings conseguem imprimir
personalidade própria a esta estética. Ainda assim, há espaço para
algumas reservas. A fórmula, embora eficaz, começa a apresentar sinais de
desgaste e a sensação de familiaridade entre faixas pode tornar a audição menos
desafiadora para quem procura inovação no género. É um disco confortável, e
isso é o seu maior mérito e, paradoxalmente, a sua maior limitação.
Melodicamente é agradável, tecnicamente é bem executado, mas a verdade é que os
suecos há muito que deixaram de surpreender. [83%]
We Still Rock… The World (V/A)
(2025, Art Of Melody Music)
O selo italiano Art Of Melody Music, em colaboração com a Burning
Minds Music Group, apresenta We Still Rock... The World, uma compilação
cuidadosamente construída para celebrar e renovar a paixão pelo rock
melódico. Este novo capítulo surge nove anos após o bem-sucedido We Still
Rock – The Compilation (2016), que chegou mesmo ao 92.º lugar das tabelas
digitais na Suíça, confirmando o impacto da primeira edição entre fãs e
colecionadores. A nova compilação reúne 16 faixas, incluindo inéditos
absolutos, versões alternativas e remasterizações de alguns dos nomes mais
respeitados da cena AOR/melodic rock italiana e internacional. O
alinhamento conta com artistas já bem conhecidos dos seguidores do catálogo da
editora, como os Soul Seller, Room Experience, StreetLore,
Mindfeels, Firesky e Night Pleasure Hotel. A estes
juntam-se contributos de elevado calibre vindos de fora, como Kastadian
(num tema poderoso com a participação de Toby Hitchcock), No Limits
(com Robbie LaBlanc e Stefano Lionetti), Füel For Tunes
(com Alessandro Del Vecchio e Pierpaolo "Zorro" Monti)
e Broken Carillon (com Gianluca Firmo). Também digno de destaque
é o regresso inesperado de Shining Line, com a faixa inédita I’m
Alive, interpretada por Lexyia — uma verdadeira joia exclusiva desta
edição. Os fãs mais atentos encontrarão ainda surpresas como duas demos
raras da formação internacional Laneslide (com nomes como Frank
Vestry, Erik Martensson, Bruce Gaitsch e Michael Bormann),
versões acústica e orquestral dos StreetLore e uma versão alternativa de
A Thousand Lies, dos Room Experience. We Still Rock... The World é um grito
afirmativo de que o rock melódico, longe de estar confinado ao passado,
continua vivo, criativo e apaixonante. Para colecionadores e novos ouvintes em
busca de melodias poderosas e refrões memoráveis, esta é uma paragem
obrigatória. [83%]
Prophecy (REACH)
(2024, Icons
Creating Evil Arts)
Depois de nos terem
surpreendido com The Promise Of A Life, os suecos Reach regressaram,
em 2024, com Prophecy, uma afirmação clara de maturidade e identidade
própria que aprofunda a sonoridade híbrida que os distingue, elevando ainda
mais a fasquia criativa. O trio de Estocolmo cruza melodias pop,
estruturas rock alternativas e uma teatralidade glam, tudo isto
com uma produção arrojada e arranjos que não têm medo de ser bombásticos. Prophecy
é um cocktail sonoro inesperado e refrescante, onde nomes como Muse,
The Ark, Panic! At the Disco ou até Avenged Sevenfold vêm
à memória, mas apenas como pontos de referência. Há aqui também um travo de AOR,
uma pitada de metal moderno e, sobretudo, uma ousadia melódica rara. Prophecy
é um álbum coeso, com uma energia contagiante e uma produção refinada, que mesmo
nos seus momentos mais pop, apresenta sempre um toque de risco e
profundidade que nos prende. Um trabalho cativante e distinto, para quem
procura melodias bem trabalhadas. [94%]






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