Entrevista: Fat Bastard

 




Vindos diretamente da Antuérpia, os Fat Bastard são uma daquelas bandas que não se leva demasiado a sério… mas que levam muito a sério o seu rock 'n' roll! Depois de Junk Yard Fest, de 2019, a banda regressa em força com Barely Dressed, um álbum que reforça a sua identidade sonora, mas que também abre portas a novas influências incluindo trompetes mariachi, ritmos rockabilly e uma inesperada dose de vulnerabilidade emocional. Sempre com humor, atitude e aquele charme rebelde que só os verdadeiros bastards sabem cultivar. Para nos falar sobre o novo álbum e dos planos para o futuro (que, quem sabe, poderão passar por Portugal), estivemos à conversa com o baterista Kurt Pals, guia desta festa rockeira sem filtros nem vergonha na cara.

 

Olá, Kurt, obrigado pela disponibilidade! Em primeiro lugar, podes apresentar os Fat Bastard aos rockers portugueses?

Olá, Pedro, obrigado pelo convite! É ótimo ver que há interesse português pela nossa música!! Os Fat Bastard são uma banda belga (da região de Antuérpia). Na maioria das vezes, dizemos «pensem em Motörhead, misturado com uma pitada de Peter Pan Speedrock e salpicado com Carl Perkins». Não queremos ser uma cópia dessas bandas. Mas definitivamente podem ouvir quais os géneros que gostamos.

 

Em segundo lugar, parabéns pelo vosso lançamento, Barely Dressed! Já passou algum tempo desde o Junk Yard Fest. Como é que este novo álbum representa os Fat Bastard em 2025, em comparação com os vossos lançamentos anteriores?

A principal diferença, pelo menos para mim, é que colocámos nele um pouco mais de rockabilly e vibrações mexicanas. Mas, mesmo assim, mantivemo-nos fiéis ao rock ‘n’ roll direto e sem rodeios.

 

O título Barely Dressed veio de uma votação dos fãs, como é tradição na vossa banda. Quais foram alguns dos outros títulos candidatos e o que fez com que este se destacasse?

Havia Rough & Pink, Feline Dream (já que a Tiger Queen está na capa) e mais alguns... Mas Barely Dressed não era apenas o favorito dos fãs, mas também o favorito da banda. É um trecho da nossa música mais pessoal já feita. Mas também há nele algo de humorístico (houve até perguntas se iríamos atuar em fatos de banho à Borat... Não... por favor, não!).

 

Vamos falar sobre o vosso cocktail sonoro — Carl Perkins encontra Peter Pan Speedrock com uma dose de Motörhead. Como é que conseguem manter essa mistura explosiva fresca sem perder a vossa identidade depois de todos estes anos?

Essa é difícil... e também é uma das razões pelas quais levamos bastante tempo entre um álbum e outro. Escrevemos mais de 30 músicas diferentes, mas apenas 10 foram para o álbum. O resto foi deitado fora... Não eram boas para os Fat Bastard. Somos bastante rigorosos na seleção. Se um dos quatro não estiver satisfeito com uma música e não conseguirmos fazer com que ela funcione, ela está fora. Só lançamos o que toda a banda gosta. Isso também se reflete no palco!

 

Vocês são descritos como hilariantes e sonoramente devastadores. Quão intencional é o equilíbrio entre humor e poder bruto na vossa música e personalidade no palco?

Como público, querem fazer parte do concerto. Por isso nós, os artistas, precisamos mesmo de interagir com o público! Fazemos música sobre as coisas divertidas da vida (na maioria das vezes), como carros, mulheres, bebidas alcoólicas... Portanto, não há necessidade de declarações políticas. Humor é o que este mundo precisa! E rock ‘n’ roll pesado!

 

Mas, Kill My Soul é descrita como a vossa faixa mais pessoal até hoje. Como foi emocionalmente escrever e gravar uma música tão crua e vulnerável, e por que foi importante para vocês transformá-la num lyric video?

Essa é realmente a nossa música mais pessoal. Como afirmado anteriormente, não falamos sobre política. Mas não somos cegos para outros problemas. O abuso infantil está mais próximo do que se possa pensar. Tentámos colocar um texto pesado numa música rock festiva. (Até pusemos congas polacas nesta música. Vês a contradição?). Embora o objetivo da banda seja entreter as pessoas, sentimos definitivamente a necessidade de as informar também. Este problema é muito maior do que podemos pensar. Por favor, estejam atentos e alertas.

 

Trabalharam com Ira Black em You Know You Are Gone. Como surgiu essa colaboração e o que trouxe ele como produtor e coautor?

Conhecemos o Ira através do nosso (entretanto ex-) guitarrista Mario P. Não demorou muito depois desse encontro para decidirmos trabalhar com o Ira neste álbum. Fizemos algumas videoconferências e conversamos de vez em quando. Mas o Ira é um artista muito ocupado e frequentemente contratado, portanto o processo demorou um pouco mais do que esperávamos inicialmente. Mesmo assim, foi uma ótima experiência trabalhar com um artista internacional! Ele compôs a música de You Know You Are Gone e nós tivemos que encontrar uma letra para ela. Quando ele ouviu a letra pela primeira vez, ficou extasiado! E, por isso, aprovou a sua inclusão no álbum (todos os membros têm de aprovar...). O Ira também nos deu dicas e truques úteis para algumas das outras canções. E assim, a banda teve uma nova oportunidade de crescer.

 

Never Told Me Her Name era uma canção com carga política intitulada Hole In The Wall, inspirada no projeto do muro de Trump. O que vos levou a reescrever a letra e qual é a mensagem da música agora, especialmente com Trump de novo no poder?

Na altura das gravações, Trump já não era presidente. Sentimos que já não havia necessidade dessa letra. Além disso... como disse antes, preferimos não levar política para o palco... Portanto, transformamos a música numa canção mariachi deluxe de rock 'n roll sobre uma noite memorável com alguém que nunca me disse o nome...

 

Quando surgiu a ideia de incluir o trompete ao estilo mexicano? Têm um convidado para isso, certo?

Quando estávamos a gravar na nossa sala de ensaios, fizemos uma pausa. Ficámos do lado de fora e vimos Bert O'Hara a passar. Ele é o trompetista da banda belga de surfabilly The O'Haras. Perguntámos se ele tinha tempo para ouvir essa música em particular e se gostaria de fazer uma colaboração com o seu trompete mágico. O resultado foi fantástico! Mas, por enquanto, em apresentações ao vivo, não usamos o trompete. Mas a guitarra assume o papel com uma vibe à Dick Dale!

 

Come Out And Play foi criada em 15 minutos — alguns dizem que é aí que a magia surge. Com que frequência isso acontece no processo criativo dos Fat Bastard?

De vez em quando, as estrelas, a lua e os Jack 'n Coke's estão perfeitamente alinhados. Foi o caso de COAP. A última vez que isso aconteceu foi com Blood, Sweat And Beer, do Junk Yard Fest.

 

A vossa abordagem perfeccionista significa que levam o vosso tempo entre lançamentos. Num cenário musical acelerado, como o de atualmente, sentem pressão para acelerar as coisas, ou abraçam totalmente o vosso próprio ritmo?

Não aceleramos. Como disse antes, é uma seleção do tipo «tudo ou nada». Temos muitas ideias, mas nem sempre são as melhores. Algumas músicas precisam de tempo para amadurecer, outras ficam prontas instantaneamente. Mas precisamos da aprovação de todos os quatro membros. E, às vezes, é um processo trabalhoso. E não nos esqueçamos: todos nós temos os nossos empregos diários e a nossa vida familiar. E, para ser justo: a família é o mais importante. A música é uma válvula de escape para nós.

 

Com Barely Dressed agora lançado, há planos sérios para finalmente dar o salto através do Atlântico e causar o caos nos EUA ou mais além?

Se tivermos a oportunidade... Claro que sim! Não seria fantástico?! Neste momento, estamos principalmente a promover o álbum e a banda. Esperamos que os promotores nos escolham. Estamos ansiosos por divulgar a nossa música!

 

Por fim, qual é o vosso objetivo final para os Fat Bastard nos próximos anos? Dominar o mundo ainda faz parte dos planos ou há outros sonhos que estejam a perseguir agora?

Dominar o mundo... sem guerra, mas com rock ‘n’ roll pesado! CLARO QUE SIM! E descobrir que as pessoas recebem multas por excesso de velocidade porque os seus rádios estão a tocar Fat Bastard a todo o volume nos seus carros!

 

Mais uma vez, obrigado, Kurt. Queres enviar alguma mensagem aos vossos fãs ou aos nossos leitores?

Fico emocionado por saber que os amantes da música portuguesa nos conhecem! Espero que nos encontremos em breve num palco português! Já estamos a aguardar ansiosamente por isso! Rock hard!

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