Entrevista: GaiaBeta

 


Com uma paixão declarada pelo heavy metal clássico das décadas de 1980 e 1990, os GaiaBeta surgem na Bahia como uma das propostas mais sólidas e inspiradas do novo metal brasileiro. Liderados por Marcos Diantoni, o grupo estreia-se com Gate Of GaiaBeta, um disco que combina composições sonhadas (literalmente!) e uma produção cuidada, afirmando-se assim como uma verdadeira força criativa. A propósito deste auspicioso início de percurso, estivemos à conversa com o mentor da banda, para conhecer melhor o passado, o presente e o futuro desta formação promissora.

 

Olá, Marcos, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Comecemos pelo início: os GaiaBeta formaram-se em 2017, em Feira de Santana. Como surgiu a ideia de criar a banda e qual foi a vossa visão inicial para o projeto?

Saudações, caros irmãos portugueses. Bem, eu, Marcos Diantoni criei o projeto do zero e sozinho. Eu sabia que, apesar do local onde moramos (Bahia) ser considerado a “terra do metal extremo”, eu tinha a certeza que existia um público enorme e saudosista do heavy metal dos anos 1980 e 1990. Quando na nossa primeira apresentação tocamos canções de Malmsteen, Black Sabbath, Iron Maiden e duas canções autorais, o público foi à loucura. Nesse momento tive a confirmação que estava no caminho certo.

 

Ao longo destes anos até ao lançamento do primeiro álbum, como descreverias a evolução do vosso som? Houve momentos decisivos ou mudanças de rumo na vossa identidade musical?

Mudanças de rumo, nunca houve. Sou muito focado e decidido nas coisas que me proponho a fazer. Além do mais, como disse antes, em todos lugares onde tocávamos, a resposta do publico era sempre positiva. Porém, como em praticamente todas as bandas iniciantes, houve momentos decisivos por causa do já conhecido ‘choque de egos’ entre os integrantes. Eu já tinha observado noutras bandas que alguns integrantes podem sabotar os projetos mesmo sem querer fazê-lo. Portanto, quando esses momentos surgiam, eu já estava preparado.

 

Para quem ainda não vos conhece, como descreverias os GaiaBeta?

Hoje somos um grupo focado na proposta sonora. Somos comprometidos, muito divertidos e desenvolvemos ao longo desses anos um sentimento de irmandade. Estamos muito felizes com a excelente repercussão do álbum e ansiosos para fazer uma tour pela Europa pois é aí o lugar para nosso som.

 

O nome GaiaBeta tem uma sonoridade forte e mística. Qual é o significado por trás deste nome e o que representa para vocês?

Inicialmente, quando estava a procurar um nome, eu sabia que não podia ser um nome em inglês pois correria o sério risco de em algum momento saber que já existiria alguma banda com o mesmo nome e isso traria desconforto em ter que trocar o nome ou até trazer problemas  legais, como registo de patentes e marcas. Portanto, tinha que ser um nome em grego ou latim. Nas minhas leituras de adolescente, eu vi que a mãe do semi deus Hercules era a deusa da terra e chamava-se Gaia. Um bom nome que carregava uma boa simbologia... mas faltava algo: Gaia de que? Como um bom roqueiro, eu penso que os sistemas políticos, religiosos e económicos estão falidos e vejo que a humanidade insiste em não evoluir, por isso encontrei o ‘Beta’. Segunda letra do alfabeto grego. Portanto, GaiaBeta pode ser uma segunda Terra, fisicamente falando mas também um segundo estado de espírito.

 

Sabemos que já atuaram em alguns dos maiores eventos de metal no Brasil. Que impacto tiveram essas experiências no vosso crescimento artístico e na criação deste disco?

Inicialmente, o primeiro impacto foi de que ainda precisávamos melhorar, inclusive emocionalmente, para controlar o nervosismo de estar sob a apreciação de uma grande plateia. Com as tours pelo país, evoluímos, amadurecemos e acertamos o que precisávamos. Enquanto isso, as últimas canções eram finalizadas. Tudo correu bem.

 

Gate Of GaiaBeta é uma estreia impressionante, com um trabalho meticuloso de composição e execução. Quanto tempo demoraram a preparar este álbum e como decorreu o processo de gravação?

A minha primeira composição foi Second Flame. Iniciei-a em 2003 (ainda estava impregnado de Maiden e Heloween) mas não a tinha concluído. Em 2017 recebi a introdução dela num sonho (acreditem!). Portanto, tornou-se fácil concluí-la.  Como a banda tem 8 anos, enquanto entravam e saiam companheiros, eu ia compondo. Conheci Kitaro em 2022. Na altura ele estava a estudar captura e mistura de áudio, por isso, enquanto eu compunha ele ia-se aperfeiçoando e o resultado é esse presente no álbum. Passamos mais de um ano a trabalhar na produção do álbum, até à sua finalização. Nesse tempo, ele entendeu qual era o direcionamento musical escolhido e presenteou a banda com a bela e poderosa melodia de Get Your Freedom. Eu adorei, pois, é bem diferente de como eu componho.

 

As letras exploram temas como mitologia, história e os conflitos humanos. De onde nasce essa inspiração e como escolhem os tópicos que abordam nas vossas músicas?

As letras são escritas por mim e são fruto de minhas leituras. Fui criado num lar cristão onde para os meus pais, quase tudo era pecado. Só me restava ficar em casa a ler e a estudar.

 

Como surgiu a oportunidade de assinarem com a Pitch Black Records? Foi um objetivo traçado ou um acaso feliz?

Eu já conhecia bem a Pitch Black pois uma das maiores bandas de doom metal do Brasil (The Cross) trabalhou com ela durante muito anos e eu conheço o líder e fundador da banda, o Eduardo Slayer. Ele é um sujeito sério e muito parceiro, por perguntei-lhe sobre o selo.  Ele deu-me excelentes referências acerca do senhor Phivos. Submeti a banda à Pitch Black Records e resultou.

 

De que forma a colaboração com uma editora europeia como a Pitch Black vos ajudou a projetar o vosso trabalho para fora do Brasil? Já notaram uma receção diferente por parte do público europeu?

Não há dúvidas que associar o nosso nome a uma editora de respeito como a Pitch Black tem-nos ajudado muito não apenas na Europa (temos recebido excelentes reviews de diversas partes do continente), com também aqui no Brasil. Aqui, os artistas precisam ser validados fora do país para depois ‘serem vistos’ internamente. Os excelentes comentários, vindos diretamente do continente que realmente entende de heavy metal faz com que sejamos mais respeitados e bem vistos aqui. O Amilcar Christófaro, grande baterista dos Torture Squad fez um vídeo a elogiar-nos e a dar os parabéns, e também o lendário guitarrista dos EUA, Jack Starr.

 

Na versão em CD incluem três temas extra [The Last Warriors, Ashes From The Stars e Back To The Past (Nevermore)] que já tinham sido lançados anteriormente. Porque decidiram integrá-los agora neste álbum?

São canções fortes, poderosas e que o público já canta nas nossas apresentações. Não poderiam ficar de fora do álbum de estreia. Ficamos felizes pela sensibilidade da Pitch Black em entender o nosso apelo.  

 

Desconsiderando esses temas bónus, o álbum encerra com Victory Is Coming, um tema com uma energia triunfante. Foi essa a intenção ao fechar o disco com este tema? Há aqui uma mensagem de conquista ou superação?

Exatamente. Perfeita a tua observação. Ela começa explosiva, feliz e no meio dela tem um trecho triste que faz alusão à marcha fúnebre de Frédéric Chopin. Esse trecho retrata as dificuldades e problemas que podem existir no nosso caminho, porém, isso é só um instante pois logo ela ressurge poderosa, enchendo de adrenalina o ouvinte e instigando-o a erguer orgulhoso sua cabeça e ir em busca do seu prémio.

 

Com o lançamento de Gate Of GaiaBeta, quais são agora os vossos planos de futuro? Há concertos fora do Brasil na agenda ou planos para um segundo disco já em vista?

Apesar da excelente receção do álbum, procuramos manter os pés no chão. Sabemos que ainda temos um caminho longo pela frente até atingir o que desejamos (o importante é que já começámos a caminhada) mas já tivemos sinalização de uma possível tour pela Europa para 2026, sem falar de festivais maiores por aqui. Quanto a um segundo álbum, sim, eu já tenho algumas composições 50% feitas. Vamos trabalhar a divulgação desse álbum e ver como deve ser o segundo.

 

Para terminar, que mensagem gostarias de transmitir aos vossos fãs e aos nossos leitores?

Quero agradecer, em nome da família GaiaBeta, à Via Nocturna por esse espaço de grande projeção. Agradecer também ao  apoio que temos recebido de varias partes do mundo. Isso tem sido uma sinalização muito boa de que estamos a fazer a coisa certa. Sintam-se à vontade para visitar as nossas redes sociais, sigam-nos, entrem em contacto. Responderemos a todos os comentários. Obrigado!

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