Desde
os seus primeiros passos como artista a solo, Nad Sylvan conquistou uma posição
muito própria no universo do rock progressivo, graças a uma
estética profundamente teatral, uma voz inconfundível e um imaginário rico em
fantasia e emoção. Depois de brilhar ao lado de Steve Hackett nas digressões
dedicadas ao legado dos Genesis, consolidou uma discografia a solo marcada por
uma identidade vincada e conceptual, onde se destacou a trilogia Vampirate.
Agora, com Monumentata, abre um novo capítulo, mais íntimo, mais
vulnerável, mais humano. E é sobre este novo disco, as mudanças criativas e as
histórias por detrás das canções que conversámos com Nad Sylvan.
Olá,
Nad. Obrigada por esta oportunidade. Como estás?
Olá, estou absolutamente maravilhoso.
Acho que nasci assim!
Monumentata é o teu novo
álbum a solo, lançado a 20 de junho. O que podes revelar aos teus fãs sobre
este álbum?
É um álbum muito mais pessoal do que os
que lancei anteriormente. Exceto numa música (I'm Stepping Out), não
coloco nenhuma outra cara além da minha. É um álbum cru, delicado e vulnerável,
no qual me inspiro nas minhas próprias experiências de vida.
Monumentata é um nome
muito interessante para um álbum. Podes explicar o significado por trás dele?
O meu pai faleceu em julho de 2024, e
isso despertou algo dentro de mim. Como a minha mãe já tinha falecido há muito
tempo, de repente percebi que agora sou o mais velho da nossa família e,
cronologicamente, o próximo a partir. Isso tornou-se monumental para mim.
«Tata» significa «papá» em algumas partes da Hungria, e o meu pai era meio
húngaro, meio escocês. Portanto, combinei Monumental e tata – et
voilà – tive uma nova palavra, que expressa um sentimento de perda. A perda
do meu pai e as possibilidades de compensar o tempo perdido. Ele estava sempre
nos EUA e eu na Suécia.
E
desta vez decidiste deixar a trilogia Vampirate para trás e
concentrar-te mais em algumas das tuas experiências de vida. O que motivou essa
mudança?
Bem, era uma trilogia, certo? Então, o
que vem a seguir? A minha própria vida. A minha pessoa real. Acho que estava
pronto para dar esse passo.
Que
tipo de experiências de vida e histórias contas neste registo? Podes falar
sobre algumas delas?
O álbum começa com Secret
Lover, uma canção sobre todos as amantes covardes e sem carácter que tive
na minha vida. Assim que começaram a desenvolver sentimentos por mim,
simplesmente desapareceram sem qualquer explicação. Isso acaba por magoar.
Histórias de amor sem final. Também tenho canções sobre estar perdido em
diferentes culturas, onde fui exposto a bullying e mal-entendidos. Há
canções sobre estar na estrada, solidão e o anseio por amor. E a faixa-título é
uma canção sobre a perda de um pai que nunca se importou realmente comigo.
Como
foi o processo de composição deste álbum? Mudaste alguma coisa a esse nível?
Eu escrevo muito no momento.
Algumas canções desenvolvem-se facilmente, enquanto outras exigem alguma
meditação e tempo. A faixa-título Monumentata foi estranha. Tive essa
ideia para uma canção, que ficou na minha cabeça durante 6-7 anos. Quando
chegou a altura de a começar a gravar, senti que era muito genérica e cheesy.
Eu estava prestes a desistir dela, quando de repente uma nova melodia apareceu
na minha cabeça sobre a sequência de acordes já concluída nos refrões. Era
muito melhor do que a ideia original que eu tinha para a música. Wildfire
tinha uma introdução e um final diferentes. Não era tão linear, as coisas não
estavam realmente no lugar durante o primeiro ano (2021) quando comecei a
escrevê-la. Fico feliz por ter persistido, porque senti que tinha algo
realmente forte aqui.
Monumentata está acima
de todas as definições de géneros. É arte, mais do que qualquer outra coisa,
como fizeste nos teus álbuns a solo anteriores. Por que escolhes esta
abordagem?
Digamos que foi uma decisão consciente
não me repetir. Tento sempre abrir novos caminhos para mim mesmo. Para
surpreender a mim mesmo e aos meus ouvintes. Mas, mais uma vez, todas as
músicas que escrevo surgem naturalmente para mim. É como se um poder superior
me guiasse – o meu destino, se quiseres.
Apesar
de te afastares da trilogia Vampirate, ainda conseguiste
adicionar algum nível de teatralidade e narrativa visual. Como conseguiste
isso?
Isso surge naturalmente. Sou um contador
de histórias, sempre fui assim. Nunca me propus a ser, é apenas a forma como me
expresso.
Uma
das faixas com mais groove do álbum é o single That’s Not Me. Como
é que essa música surgiu?
Estava a tocar sozinho na minha guitarra
elétrica e, de repente, surgiu o riff principal. Sabia que tinha algo
que valia a pena trabalhar. O dedilhar funky da guitarra acústica veio
de um padrão rítmico que eu tinha cantarolado no meu telemóvel (eu mantenho uma
vasta biblioteca de ideias para músicas assim). Se essa semente me inspira, eu
facilmente tenho uma música. Tudo se encaixou muito rapidamente. Depois, criei o
segundo refrão elaborado para os versos da faixa-título. Uma coisa muito proggy
de se fazer!
E
quanto ao teu trabalho vocal? Tentaste algo novo desta vez?
Eu trabalho sempre na minha dicção. Como
expressar melhor as coisas. Livrar-me dos tons nasais que tinha no passado
também foi um passo em frente. Certificar-me absolutamente de que a música está
numa tonalidade ideal para mim. Hoje em dia sou praticamente um barítono e
sinto que esse é o meu lugar. No entanto, eu alongo algumas partes nas regiões
mais agudas para obter efeito.
Mais
uma vez, convidaste alguns músicos para ajudar a concretizar a tua visão.
Gostarias de os apresentar?
Claro. Nas guitarras, além de mim, tenho David
Kollar, Randy McStein e Neil Whitford. No baixo – Tony
Levin, Jonas Reingold e Nick Beggs. A bateria é tocada por Marco
Minnemann, Felix Lehrmann e Mirko De Maio. Violino – Joe
Deninzon (I´m Stepping Out). O solo de sintetizador (em Wildfire)
é de Lalle Larsson. As vocalistas femininas adicionadas em Make
Somebody Proud são Jade Ell e Sheona Urquhart Smångs, que já
trabalharam comigo no passado.
Como
foi o processo de trabalhar com um grupo de músicos tão talentosos?
Muito profissional. Pouquíssimas dúvidas.
Todos estavam muito empenhados em entregar exatamente o que eu queria. Também
tiveram a oportunidade de se expressar mais livremente durante as gravações
alternativas, sendo Tony Levin um exemplo perfeito disso.
Há
planos para uma digressão para promover este álbum ao vivo?
Ah, a pergunta de um milhão de dólares. A
resposta é não, mas adoraria. Enquanto Steve Hackett me mantiver
ocupado, não há tempo para sair por conta própria. Nem dinheiro. Precisaria de
uma gestão e de um patrocínio adequado, algo que não tenho de momento. Mas
acredita quando digo que estou ansioso para sair em digressão a solo.
Por
fim, o que esperas que os ouvintes retirem de Monumentata,
tanto emocional como intelectualmente?
Espero que se sintam mais ligados a mim,
tanto como pessoa, mas também que a história da minha vida lhes diga algo até
certo ponto. Seria bom saber que, desta vez, toquei os seus corações e almas,
talvez um pouco mais profundamente.
Obrigado,
Nad. Gostarias de enviar alguma mensagem aos teus fãs portugueses?
Sim. Gostei muito de tocar em Lisboa no
ano passado, no Campo Pequeno. Em apenas um dia, tornou-se a minha cidade
favorita na Europa. A beleza e a simpatia foram tão cativantes que me fizeram
querer voltar. Espero fazê-lo muito em breve. Obrigado a todos!




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