The Voodoo Drummer Duo é uma das propostas mais ousadas e
intrigantes da cena musical grega atual. Liderado por Chris Koutsogiannis, baterista
inspirado pelas raízes do ritual vudu africano
e da espiritualidade dionisíaca, e acompanhado pelo versátil violoncelista
Stavros Parginos, este projeto navega entre o jazz, o rock
psicadélico, a música contemporânea e a tradição. Para saber mais sobre este
universo sonoro tão singular, onde se cruzam improvisações, instrumentos
exóticos, referências mitológicas e colaborações improváveis estivemos à
conversa com Chris Koutsogiannis.
Olá, Chris, obrigado pela disponibilidade! Para começar, podes apresentar-nos
os The Voodoo Drummer Duo? Como surgiu a colaboração com Stavros Parginos e quais
foram os objetivos artísticos por trás da criação de um formato tão pouco
convencional, bateria e violoncelo?
Conheci o violoncelista Stavros
Parginos quando ambos trabalhávamos num espetáculo de teatro de marionetas
em 2004. Quando decidi fazer algo mais pessoal e criativo, ele foi a primeira
pessoa que me veio à cabeça. Sempre adorei o violoncelo, por isso formar um
dueto assim pareceu-me muito interessante. O Stavros é um grande improvisador e
compositor também (a sua Yomo’s Dream é uma beleza no álbum). Estou-lhe
muito grato! Inspirado pelo grande Max Roach e especialmente pelos seus
duetos ousados, o objetivo principal é ser criativo, compor música
(principalmente em ritmos ímpares) e improvisar, para que possamos
expressar-nos (sob o espírito do drama grego antigo!).
A tua jornada artística deu uma reviravolta fascinante depois de
assistires a um funeral no Benim e atuares em Nova Orleães. Como é que essas
experiências moldaram a tua identidade rítmica e a persona do Voodoo Drummer?
Sempre fui fascinado pela
tradição vudu de Nova Orleães e apaixonado pela música da cidade. Quando
visitei Porto Novo, no Benim (África Ocidental), e tive a oportunidade de tocar
com todos esses músicos num funeral, senti a energia da música ritualística da
qual apenas tinha lido! Combinar essa tensão com o notório libertino Dionísio, o
nosso deus do vinho, do teatro, da fertilidade e da loucura ritualística,
parece ser a única maneira!
O som de Hell’s Spells surge
descrito como afro-dionisíaco, primitivo, minimalista e ritualístico. Como
definirias, pessoalmente, a identidade estética e sonora do álbum?
Com a grande contribuição
do violoncelista Stavros Parginos, estas melodias estranhas podem levar
uma mente aberta a novos níveis. O som mágico do violoncelo misturado com o
exótico Weirdofon e as batidas rituais podem criar novos sons incríveis!
Referes-te à inclusão de um Weirdofon, um balafon de metal desafinado, entre
outros elementos sonoros curiosos. Que papel a experimentação e a imperfeição
desempenham na sua música?
A música não pode ser
diferente da vida. A palavra «perfeito» existe apenas como palavra. Em momentos
específicos, podemos sentir-nos perfeitos, mas somos apenas exploradores de
coisas que existem entre o bom e o mau, a beleza e a fealdade!
O álbum apresenta quatro interpretações marcantes de covers,
incluindo Set The Controls For The Heart Of
The Sun, dos Pink Floyd, e A Love Supreme, de John Coltrane,
reimaginadas num tempo 7/8. O que guiou a tua escolha por essas peças em
particular e como abordaste a sua adaptação a um formato tão distinto?
Eu estava a ouvir Set The
Controls do álbum Live In Pompeii e, de repente, converti-a num
ritmo 7/8. O ritmo grego Kalamatianos. Anos mais tarde, enquanto ouvia o
disco A Love Supreme de John Coltrane, simplesmente «ouvi» esta
famosa linha de baixo na versão 7/8 dos Pink Floyd. Adrian Stout,
do musical Saw, traz uma vibração psicadélica à música!
Uma das faixas mais intrigantes é Frogs, de Aristófanes, que conta com Martyn Jacques e Blaine
L. Reininger. Podes contar-nos mais sobre a inspiração por trás dessa peça e
como surgiu essa colaboração?
Escrevi a Rapsody Of The
Frogs quando fiz uma adaptação da peça de Aristófanes que estreou na Ópera
Nacional da Grécia. Lá, Dionísio deve trazer o maior dramaturgo de volta dos
mortos. Caronte transporta-o através do lago onde os sapos gritam! Finalmente,
ele chega ao Hades, o submundo. Sou um grande admirador de Martyn Jacques,
muito antes de começar a atuar com os Tiger Lillies. Agora, como
colaborador, pedi-lhe para tentar esta famosa frase da peça: «Vre ke ke kex
Koax Koax». Estou grato por ele ter aceitado. Blaine L. Reininger (Tuxedomoon)
no violino também fez um trabalho maravilhoso.
Também convidaste Mamadou Diabate e Louisiana Red, duas figuras
de tradições muito diferentes. O que trouxe a sua presença para a tapeçaria
cultural e sonora do disco?
Mamadou Diabate, do
Burquina Faso, é um mestre do balafon e traz o toque africano que o
álbum precisa para ser abençoado! Lousiana Red (RIP) trouxe a magia da
Louisiana, o estado da minha amada cidade, Nova Orleães! O seu estilo blues
cru conduz perfeitamente ao final, enquanto Martyn Jacques narra as
palavras de Bukowski: “... vivamos as nossas vidas tão bem que a morte
trema ao levar-nos”.
O álbum é lançado sob a bandeira de Mr. Avant & Mrs.
Garde do Rejected Artists Movement. Qual é a
filosofia ou o manifesto por trás desse movimento?
O título do álbum tem um
A como apóstrofo: HELLaS SPELLS. Hellas, oficialmente República
Helénica, é o país conhecido como Grécia, e Hell é o lugar onde muitos de nós
vamos acabar mais cedo ou mais tarde! A situação dos músicos criativos aqui (e
provavelmente em todo o lado) é dececionante. O Rejected Artists Movement lembra-nos que isso não acontece
apenas connosco. Mr. Avant & Mrs. Garde parecem ser os únicos que podem
gerir uma editora discográfica como esta! Esta declaração com estes SPELLS
mostra que não vamos desistir!
Finalmente, agora que Hell’s
Spells está cá fora, o que vem a seguir para o The Voodoo Drummer Duo? Há planos
para rituais ao vivo, novas colaborações ou até mesmo um lançamento
subsequente?
Está na altura de eu e o
Stavros apresentarmos estes 9 feitiços juntamente com outros que temos. Começamos
em Atenas, em setembro. Estamos ansiosos para ir a Portugal e a todo o mundo!
Mais uma vez, obrigado, Chris. Queres enviar alguma mensagem para
os vossos fãs ou para os nossos leitores?
Obrigado, caro Pedro, pelo teu apoio. Como mencionámos no nosso comunicado de imprensa: «Podes encontrar mais harmonia nesta dupla afro-dionisíaca do que no nosso mundo.»
P.S.: APOIEM os ARTISTAS antes que eles acabem no INFERNO.



Comentários
Enviar um comentário