Reviews VN2000: VOODOO DRUMMER DUO; DARKFISH; WIPEOUT BEAT; SO DEAD; CONTRALUZ

 


HellAs Spells (VOODOO DRUMMER DUO)

(2025, Independente)

No seu álbum de estreia, o duo grego Voodoo Drummer Duo (Chris Koutsogiannis e Stavros Parginos), composto por uma improvável associação entre bateria e violoncelo, oferece-nos uma viagem ritualista e profundamente original. HellAs Spells mistura percussão tribal, violoncelo, Weirdofon (balafon metálico desafinado), ruídos, palmas, vozes distorcidas e até serra musical, criando uma atmosfera de transe hipnótico com a fusão entre o primitivo e o vanguardista. Composto por um misto de originais e versões ousadas, como a fusão de Set The Controls For The Heart Of The Sun com A Love Supreme, reimaginada em compasso grego 7/8, o álbum mostra uma identidade própria, profundamente helénica e cosmopolita, e que celebra a herança do rebetiko como o jazz espiritual. Cru, ritualístico, primitivo e, ao mesmo tempo, intelectualmente sofisticado, HellAs Spells responde com feitiços sonoros que recusam compromissos fáceis. Recomendado para quem procura música fora do comum, com raízes fundas, espírito livre e a harmonia no caos. [74%]



 

Beyond (DARKFISH)

(2025, Independente)

Beyond é o álbum de estreia do alter ego Darkfish, projeto de Sheila Maloney, e reúne faixas que começaram como banda sonora para um vídeo educativo sobre o universo e evoluiu, ao longo de 30 anos, culminando na inspiradora Planet Earth Is Blue. Em Beyond abundam paisagens sonoras envolventes, com sintetizadores que remetem para sonoridades como Tangerine Dream, Vangelis e Brian Eno. Tudo numa abordagem frequentemente tranquila e introspetiva, embora surjam alguns mais intensos ritmicamente e até, como acontece na já citada Planet Earth Is Blue, com um monstruoso solo de piano. Ao longo de 9 temas sentimo-nos numa viagem espacial, onde as sonoridades ambientais, sintéticas e sinfónicas provocam uma profunda reflexão existencial. Como se, cada faixa orgânica, evocativa e bem estruturada, representasse uma etapa na exploração espacial. Beyond é um álbum atmosférico e cintilante, que convida a uma autêntica viagem interior com os olhos postos no cosmos. O seu caráter contemplativo e cientificamente inspirado faz lembrar uma autêntica banda sonora para os programas de Carl Sagan. Podemos, sem exagero, perguntar: estaremos perante uma forma de rock científico ou cosmológico? [83%]



 

It Happens Because We Are Not Because We Exist (WIPEOUT BEAT)

(2025, Lux Records)

Acontece porque somos. Não porque existimos. Eis a premissa que dá título ao novo álbum dos Wipeout Beat, mais um registo teimosamente medido pelas pulsações de um Casio SA-21, de um Roland CR-8000, ou de Casiotone MT-800 e de uma parafernália de outra maquinaria. Um coração cibernético que impõe o ritmo com convicção e arrogância maquinal. The Beat, tema inaugural dança entre sombras, guitarras e sintetizadores como se não soubesse muito bem se quer ser gótico, punk ou dançável. Já em Dark Room, os contrastes tornam-se ainda mais evidentes com a constante tensão entre luz e obscuridade. A fechar, The Duel é a faixa mais longa, onde a repetição hipnotiza, como se fosse uma jam feita à beira do abismo. Este terceiro registo dos Wipeout Beat nasce de uma liberdade onde o punk é um estado de espírito, o krautrock é o veículo, o synthwave a paisagem, e o minimalismo a bússola. Há ecos de Suicide e sussurros de Philip Glass, mas há, sobretudo, uns Wipeout Beat sem refrões fáceis, nem solos heroicos. No fim, este é um disco cru e direto, sem preocupações de adornos ou virtuosismos. Porque há coisas que só acontecem quando alguém decide ser, e não apenas existir. [71%]



 

A Wet Dream And A Pistol (SO DEAD)

(2025, Lux Records)

Terceiro disco em três anos. Um ritmo alucinante que espelha bem a urgência criativa do coletivo conimbricense que parece não conseguir estar calado, e muito menos parado. Depois da estreia com Wait To Die (2022) e da confirmação com Play Me Like A Doll (2023), os So Dead chegam agora a A Wet Dream And A Pistol com o seu formato de trio consolidado e uma identidade sonora mais vincada que nunca. Contudo, essa urgência criativa que referimos, e que tão bem define os So Dead, começa aqui a revelar alguma saturação. Sem dúvida que este novo capítulo soa mais denso e musculado do que os seus antecessores. A mistura entre synth punk, industrial, noise e no wave ganha aqui uma nova espessura e dose de sujidade, sentindo-se o pulso mais firme e o som mais robusto. É um disco poderoso e direto, sim senhor, mas por vezes sente-se que poderia beneficiar de mais tempo de maturação. Por isso, é um trabalho onde fica a sensação de que a pressa em editar se sobrepôs à necessidade de refinar. Desta forma, apenas em Creeper, com a inclusão de um saxofone insano (cortesia do convidado Filipe Fidalgo), e também em Sleep Mode, com eletrónica a cruzar-se com o spoken word, dois momentos alienantes, o álbum consegue imprimir algum interesse. [70%]



 

Batequebrafura (CONTRALUZ)

(2025, Independente)

O título não engana! Este é um álbum que bate, que quebra e que, inevitavelmente, fura. Com apenas seis temas, o segundo disco dos Contraluz, Batequebrafura, afirma-se como uma das vozes mais criativas e inquietas do rock independente nacional. Num disco que vive da tensão entre urgência e contemplação, a banda lisboeta arranca com guitarras afiadas, quase a piscar o olho ao metal, para logo depois mergulhar num groove contagiante onde o baixo dita leis e o funk espreita sem pedir licença. A diversidade rítmica é um dos trunfos da obra. Por entre fraseados assentes no pormenor e arranjos surpreendentes, a energia nunca se dissipa, mesmo quando o disco se aproxima de territórios mais indie. Num disco curto, mas pleno, o vocalista brilha com entrega e expressividade, sustentado por uma secção instrumental de grande maturidade. Desta forma confirmam-se os Contraluz como uma banda com voz própria, visão clara e capacidade de nos fazer sentir, criando uma abordagem a um rock que não se acomoda. [86%]

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