Entrevista: Isabel Rato

 

Depois de publicar Luz, em 2022, Isabel Rato percebeu que o seu próximo passo seria prestar homenagem à canção portuguesa em especial aos cantautores do 25 de Abril. Assim, com o seu quinteto, assina Vale das Flores que acaba por adicionar outra homenagem: à mulher. Nesta entrevista a cantora e pianista fala deste álbum e da forma como foi trabalhar sobre temas e com nomes icónicos da música nacional.

 

Olá, Isabel, tudo bem? Antes de mais, obrigado pela disponibilidade para nos falares do teu novo álbum. Este é um disco que fala de liberdade e da mulher. Quando decidiste trabalhar num álbum com esta temática?

Obrigada eu pela oportunidade. Eu decidi avançar com este álbum, depois de escrever o meu terceiro disco Luz em 2022, e perceber que fazia todo o sentido dedicar o próximo álbum à canção portuguesa nas suas várias vertentes, em especial ao cancioneiro tradicional e homenagear os cantautores do 25 de Abril. O facto de ter concorrido à SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) e terem apoiado foi uma enorme ajuda e acelerou o processo. E destacar também grandes Artistas Mulheres também do nosso panorama musical português, juntamente com o meu grupo, homenageando assim a Mulher e as lutas de igualdade de género.

 

E, a partir daí, quais foram as diretrizes que traçaste para ti próprio em termos da seleção das canções a partir de um repertório tão vasto?

Uma das coisas que mais fiz, no processo de escolher repertório, foi ouvir muita música, conhecer música que ainda não tinha ouvido, relembrar muita coisa, imaginar possíveis caminhos para as canções no que diz respeito aos arranjos… E perceber quais as canções que mais me tocavam e emocionavam. Que de alguma forma, eu lhes pudesse dar outro caminho ou enquadramento sempre com enorme responsabilidade e respeito. E pensar no meu grupo, e nos meus músicos.

 

Depois, em termos de arranjos, quais foram as tuas principais preocupações? Isto é, como é que se consegue esse equilíbrio entre personalizar as canções, respeitando as matrizes originais?

As minhas preocupações são sempre, essencialmente, respeitar a canção e as melodias da nossa história; respeitar e homenagear os respectivos compositores. Musicalmente, explorar ao máximo (sem exagero), procurar também alguma contenção, se for caso disso. E, no fundo, escrever os melhores arranjos que consigo, fazer o melhor de mim, deixar-me “levar” no processo criativo… Pensar, maturar, ouvir e decidir os melhores caminhos. E ter em conta também as caraterísticas dos instrumentistas e os seus instrumentos (timbres e cores respetivas) que tenho no grupo, e também dos convidados.

 

Mas, para além das versões, tens um tema original, Balança. De que forma sentiste que este original se encaixava na narrativa do álbum?

Sim, é o tema maravilhoso que o nosso saxofonista e compositor João Capinha escreveu para o poema Balança de José Saramago. Já há bastante tempo que queria trazer música dos meus músicos para os meus discos, e queria muito tocar a música do João. E fazia todo o sentido trazer este tema para o disco, sendo uma homenagem à cultura portuguesa, ao José Saramago, individualidade única e singular do livre pensamento e da procura da Liberdade.

 

E, neste caso, sendo um original, acabas por utilizar uma letra de Saramago, que, naturalmente, não foi criada para ser musicada. De que forma conseguiram conjugar esses dois aspetos?

Penso que esta pergunta seria realmente para o João Capinha, que conjugou esses dois aspetos belíssimamente. 

 

Um tema que, curiosamente, é um vencedor, não é verdade? Queres falar desse prémio que Balança conquistou?

Sim, é verdade. Este tema escrito pelo João Capinha teve direito ao 1º Prémio do Concurso Internacional de Composição de Leiria de 2022, na Categoria de Jazz. Foi um Concurso realizado no âmbito das Comemorações do Centenário do nascimento de José Saramago.

 

São vários os convidados que participam neste disco Vale das Flores. Queres apresentá-los e falar um pouco do que trouxeram para os teus arranjos?

Sim, tenho convidadas muito especiais, são maravilhosas e únicas, as três. Representam para mim uma força feminina única. São super Artistas, cada uma na sua área, e são representantes da nossa cultura portuguesa, tocam no nosso país e internacionalmente, levando a nossa língua e a nossa música além fronteiras. Uma das convidadas é a maravilhosa Ana Bacalhau, que se juntou logo a nós neste projecto, e pensei mesmo muito na escolha da sua música, e ficou o Cantiga Bailada da Beira Baixa. Já mesmo quando estava a fazer o arranjo, ouvia sempre a Ana na minha cabeça. Já sempre a guiar-me. (Mesmo antes de a convidar). E cantou-a incrivelmente. A segunda convidada, é a maravilhosa Cuca Roseta. Também aceitou este convite de se juntar a nós num dos meus temas preferidos do Mestre Zeca Afonso Que Amor não me Engana. Foi um momento verdadeiramente especial de estúdio. Deu uma enorme profundidade e intensidade à canção. Sou muito agradecida. A terceira convidada é a maravilhosa Marta Pereira da Costa, que também disse que sim a este convite. A sua guitarra portuguesa deu enormes asas também à canção Que Amor não me Engana, sempre com uma enorme beleza na escolha das melodias que se interligam com a voz da Cuca. São as três fenomenais. Finalmente, o Quarteto Arabesco, o Quarteto de Cordas constituído por Denys Stetsenko no violino, Raquel Cravino no violino, Lúcio Studer na viola d’arco e Ana Raquel Pinheiro no violoncelo. Os quatro com quem já tenho vindo a trabalhar desde o meu segundo disco,  são claramente sempre brilhantes.

 

Como se proporcionaram essas participações? Estavam pensadas desde a génese do projeto ou foram acontecendo com o evoluir dos trabalhos?

Foram tomando forma no evoluir do disco, e depois no processo de escolha das canções. Foi perceber o que cada Artista poderia gostar de cantar ou tocar, e o que fazia também mais sentido.

 

Para quando um novo álbum de originais? Há previsões?

Para já estou ainda muito concentrada neste Vale das Flores. Não há previsão ainda…

 

Quanto a concertos, há projetos para levar este conceito para a estrada? O que nos podes adiantar desde já?

Sim, queremos muito levar este projeto para a estrada. E fazer música para as pessoas. Estamos já com uma tour marcada:

24 de abril - Santa Casa Jazz Fest - Lisboa

9 de maio - Festival Amadora Jazz

15 de junho - Salão Brazil - Coimbra

21 junho - BOTA - Lisboa

6 de novembro - Teatro Municipal da Covilhã

E com mais datas a anunciar brevemente.

 

Obrigado, Isabel! Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores?

Sejam felizes e ouçam muita música.

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