Entrevista: Fell Harvest



Os Fell Harvest são como que os sucessores dos Thorns Of Acanthus. Joseph Fell, a mente criativa por trás dos dois projetos, sentiu que o nome e a identidade já não se encaixavam e a evolução para Fell Harvest foi natural. E com o surgimento da pandemia (que deixou marcas visíveis na sua forma de cantar) o power trio viu-se encerrado e... a solução foi acabar de construir este álbum que agora nos leva à conversa com o vocalista/baixista americano.

 

Olá, Joseph, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podes apresentar a banda aos metalheads portugueses?

Olá, estou ótimo. O meu nome é Joseph Fell e sou o baixista e vocalista dos Fell Harvest, de Cheyenne Wyoming, nos Estados Unidos. Obrigado por me contactares.

 

O que significa Fell Harvest, como nome de banda?

O nome da banda veio de um poema que escrevi há vários anos, inspirado por um sonho que tive onde estava a vaguear por um vinhedo composto de árvores de ossos branqueados e carne podre. Em inglês, o nome significa algo como “colheita do mal ou terrível”. Isso ressoa para mim porque me lembra do velho ditado “só colhes o que plantas”. Quando penso no estado do nosso mundo, no nosso meio ambiente e sociedade, essas são coisas que foram semeadas há muito tempo. Nada desse mal é novo, é uma colheita que temos cultivado ao longo de gerações.

 

Fell Harvest é um projeto relativamente novo. Podes contar-nos como esta jornada enquanto banda começou e quais objetivos que tentam alcançar?

As raízes desta banda estão diretamente ligadas a outro projeto meu chamado Thorns of Acanthus. Essa banda era muito parecida, tendo raízes no melodic death e doom metal com muita influência lírica da minha infância religiosa. Depois de fazer uma pausa, quando voltei, senti que o nome e a identidade já não se encaixavam. Eu queria algo um pouco menos específico para me dar a mim e à nova formação espaço para encontrar uma identidade própria. E, depois de apenas um ou dois espetáculos, Thorns cessou e Fell Harvest nasceu.

 

Que nomes ou movimentos citarias como as vossas principais influências?

Há muitos. Pessoalmente, os Metallica foi a minha primeira inspiração e ainda molda muito a forma como escrevo e toco. My Dying Bride, Paradise Lost e Type O Negative são todas grandes influências do lado da música mais lenta, introspetiva e cheia de tristeza. Depois, há bandas como At The Gates, Rotting Christ e Dissection que me ajudaram a encontrar um contraste em tocar mais rápido, mais melódico e mais técnico.

 

De que forma o Pale Light In A Dying World mostra a vossa evolução como banda desde o EP homónimo? Mudaram alguma coisa na metodologia de trabalho?

O EP ainda era muito material no molde original de Thorns: riffs baixos e pesados ​​carregados de afinações B e melodias densas e distorcidas. Em Pale Light abrimos mais as coisas, com muitos riffs de tempo mais rápidos, arranjos mais (na minha opinião) envolventes e passagens espaçosas contrastantes. Liam trouxe algum material para a mesa de Thy Barren Fields e é claro que houve uma mudança no meu estilo vocal quando fui forçado a abandonar os tradicionais growls doom.

 

Os riffs da faixa de abertura Titanicide foram escritos há mais de 20 anos. Por que e onde estavam escondidos?

Eles não estavam a esconder-se como num exílio. Durante muito tempo estive tão focado num certo ideal de death doom com melodias extras que deixei de lado muitas ideias. Não era lento, profundo ou suficientemente forte. Com esta gravação, já não fazia sentido fazer isso.

 

Podemos supor que existem outras canções ou trechos tão antigos como este neste álbum?

Nada tão antigo! A menos que contes com The Wind That Shakes The Barley, que foi escrito em meados do século XIX.

 

Um tema, precisamente esse, que é baseado numa balada irlandesa clássica. Por que escolheste essa música para adaptares à tua visão doom?

Sou meio irlandês por parte de mãe e sempre me identifiquei profundamente com as trágicas tradições folk daquele país e do seu povo. A canção é a história de um jovem que se junta a uma das revoltas condenadas contra os ingleses, perde a sua amante e depois a sua humanidade numa guerra de vingança. Como não poderia transformar isso numa música doom metal?

 

De que a pandemia afetou (se afetou!) a criação deste novo álbum?

Foi mais ou menos o catalisador de tudo. Tínhamos a intenção de passar a primavera e o verão a promover o EP e, em seguida, escrever um longa-duração no final de 2020. Em vez disso, acabamos presos em casa com poucas opções para nos mantermos engajados. Por isso, decidimos pegar em todo o material que tínhamos, desenvolver mais algumas ideias de há muito tempo atrás (como o Titanicide) e tentar gravar e lançar algo durante o nosso isolamento. Todo esse processo demorou muito mais do que o previsto. Finalmente, eu mesmo contraí COVID durante o inverno do ano passado e sofri danos pulmonares bastante graves, forçando uma mudança de última hora no meu estilo de voz que vocês ouvem no disco.

 

E quanto aos espetáculos? Têm algo agendado para os próximos meses?

De momento não temos, porque agora há uma série de desafios logísticos para fazer espetáculos. Temos que nos concentrar em mais material novo e temos cerca de 2/3 de um álbum, pelo menos, desenvolvido até agora. Ainda espero voltar aos palcos antes do final do ano.

 

Mais uma vez, obrigado, Joseph, foi uma honra fazer esta entrevista. Queres deixar alguma mensagem para os vossos fãs ou acrescentar algo mais?

Obrigado a todos pelo interesse e apoio, mal podemos esperar para vos ver em palco em breve!



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