Wait To
Die foi o embrião dos So Dead, projeto conimbricense que junta dois From
Atomic: Samuel Nejati e Sofia Leonor. O duo, entretanto, cresceu,
passou a trio com a inclusão de Miguel Padilha nos teclados e sintetizadores,
isto sem esquecer a contribuição de alguns convidados. O produto apresentado
também cresceu em tempo e em qualidade e o álbum Play Me Like A Doll
sucede ao EP Wait To Die, mostrando uma clara evolução do projeto. Que a
seguir nos conta tudo sobre este salto evolutivo e a criação de Play Me
Like A Doll.
Olá, pessoal, tudo bem?
O que têm feito os So Dead, desde a última vez que conversámos, há cerca de um
ano atrás?
Desde então temos dado alguns concertos para os quais fomos
convidados e continuado em constante criação, sempre com vontade de fazer
coisas novas; a boa aceitação que o EP teve ainda impulsionou mais essa vontade
e o resultado está aí: um novo trabalho e o nosso primeiro LP.
Play Me Like A Doll é uma obra que
reflete temas como alienação, manipulação e exploração na sociedade. Como foi o
processo de criação deste álbum e de onde surgiu a inspiração para abordar
estas temáticas tão impactantes?
O processo de criação manteve-se igual; é assim que
trabalhamos melhor, a pegar nos instrumentos, colocar a gravar e tocar o que
nos sai na altura. É algo natural, intuitivo; muitas vezes só descobrimos que
temos ali algo de muito bom no dia a seguir, quando ouvimos as gravações da
sessão. O passo seguinte são as letras. O processo, igual - a melodia
instrumental leva-nos a escrever naturalmente sobre temas que mais nos afetam e
que consideramos afetar atualmente a sociedade em geral, os que causam mais desconforto
e revolta, numa espécie de expiação psicológica.
O novo álbum traz-nos
12 faixas rápidas e cruas, mantendo a vossa identidade synth punk com
influências de art rock, post-punk e no wave. Quais foram
as principais referências musicais e artísticas que influenciaram este
trabalho?
Não gostamos muito de especificar referências musicais,
porque as influências são constantes e em permanente mudança, no entanto, é
natural que haja sempre alguma referência que se destaca mais nos nossos
gostos: uns Ramones, Dead Kennedys, Siouxsie, Blondie,
Joy Division, mas também artistas mais recentes do mundo post-punk
e post-rock, são artistas que fazem parte da nossa cultura musical.
O vosso primeiro EP, Wait To Die, também
foi marcado por uma sonoridade direta e honesta. Que evolução podemos notar na
transição deste EP para o novo álbum Play Me Like A Doll?
Apesar do processo criativo ser o mesmo, a grande diferença
está no cuidado e maior preocupação dedicados à produção do álbum; enquanto no
EP mostramos uma abordagem mais descontraída e lo-fi, no álbum, apesar
de queremos manter essas caraterísticas que nos definem, houve uma maior
atenção na pós-produção, ao pormenor, sendo que quisemos mostrar que somos
capazes de fazer algo com um nível de qualidade superior, mantendo a premissa
original.
No vosso press release
mencionam que o álbum é um espelho da desumanização crescente na sociedade.
Como acham que a vossa música pode impactar os ouvintes em relação a estas
questões sociais?
A música, como a vemos, tem também um papel de suma
importância para além do mero entretenimento; se vai mudar a vida de alguém?
Provavelmente não, mas o objetivo é apenas chamar a atenção, ou melhor, alertar
para determinadas temáticas, apontar o dedo e dizer que elas existem. O resto,
fica na consciência e ações de cada um. Posto isto, gostamos de acreditar que
os nossos temas retratam o Zeitgeist que vivemos e com ele os
sentimentos que nos vão na alma.
Uma das novidades em Play Me Like A Doll
é a colaboração de Miguel Padilha nas teclas e sintetizadores. Como surgiu esta
parceria e de que forma a sua contribuição influenciou o som final do álbum?
O convite surgiu como algo natural. Depois do lançamento do
EP e da necessidade de fazer uma apresentação mais consistente ao vivo,
desafiamos o Miguel a tocar teclas connosco. Ele não só cumpriu como
acrescentou grande valor à nossa performance. Era quase obrigatório que ele
fizesse parte deste álbum e desse o seu contributo, dando às músicas uma
rebeldia e energia essenciais para o resultado final.
Além de Miguel Padilha,
o álbum conta ainda com as participações de Victor Torpedo, Alberto Ferraz e
Rafael Almeida. Qual foi o papel destas colaborações na construção do disco e
como foram selecionados os temas onde cada um participou?
Algumas composições chamavam por algo extra e cada uma das
colaborações foi escolhida a dedo para aquelas músicas específicas: a Rowing
só podia ser para o Victor Torpedo - a primeira do álbum, logo para
marcar uma posição bem vincada e anunciar ao que viemos; as guitarras do Victor
criam uma dicotomia perfeita ao demarcarem-se da síncope certinha do baixo.
Para o Alberto, o nosso comparsa dos From Atomic, quisemos mostrar o elo
que nos liga, sem sair do registo dos So Dead; o som que ele dá a Je Veux
Te Revoir, coloca a melodia num outro patamar. A Dissidents estava
mesmo à espera da braguesa do Rafael; era inevitável, numa melodia que,
claramente, tem influências arabescas.
O primeiro single do álbum, Set
Me Up, já foi lançado em junho e acompanhado de um videoclipe. Como foi a
receção deste tema por parte do público e qual a mensagem que pretendem
transmitir com este single?
A escolha do nosso primeiro single ficou ao critério
do Rui Ferreira, da nossa editora, Lux Records; ele sabe bem o
que faz e a Set Me Up teve uma receção extremamente positiva. A ideia
era um pequeno levantar de véu para o que aí vem e achamos que funcionou muito
bem. Dá uma ideia, mas deixa espaço para surpreender quem ouvir o resto do
álbum.
Vocês têm mantido uma
abordagem orgânica e despida de pretensões na vossa música. Como é que esta
filosofia se manifesta no processo criativo e na vossa interação com o público?
A nossa abordagem é muito simples: bateria, baixo, voz e as
teclas a darem um toque extra; muita distorção, intenção e energia. É isso que
tentamos transmitir nas nossas músicas e nas performances ao vivo; neste último
aspeto estamos a trabalhar para tornar a apresentação ao público mais fluida,
sem interrupções nem espaços mortos; queremos criar uma bolha naquele período
de tempo em que estivermos a tocar, dar tudo e com isso receber o calor do
público, em troca.
Coimbra tem uma rica
tradição musical. De que forma o ambiente e a cena musical da cidade
influenciam o vosso trabalho com os So Dead?
A cidade e os músicos que nela habitam têm, sem dúvida,
proporcionado as condições ideais para a nossa progressão; é uma espécie de
aldeia, onde todos se conhecem e onde a interação e troca de experiências é
usual, onde há pontos de encontro, sem ter de se marcar nada, onde o convívio e
a disponibilidade são imagem de marca e a abertura a conhecer projetos novos é
por mais evidente.
Com o lançamento de Play Me Like A Doll
a 2 de setembro e a apresentação no Luna Fest, quais são as vossas
expetativas para o futuro imediato da banda? Há planos para uma tour ou
novos lançamentos?
A vontade e desejo
de qualquer banda que lança um álbum novo é, como seria de esperar, uma boa
receção por parte da crítica e do público, e sobretudo tocar ao vivo e mostrar
o nosso trabalho. No fundo, tentamos manter as expetativas baixas de forma
manter a sanidade a níveis aceitáveis, pelo que tudo o que vier para além disso
é uma vitória. Temos em agenda alguns concertos e prevemos apresentar o álbum
em alguns festivais no próximo ano, e claro, estamos abertos a convites, pelo
que podem contactar-nos para sodead.ss@gmail.com ou através das
nossas redes sociais.
Obrigado pela entrevista, pessoal. Desejo-vos muito sucesso com o novo álbum! Alguma mensagem final para os vossos fãs?
Muito obrigado. Para os fãs, esperem sempre coisas novas; já estamos a trabalhar nesse sentido.
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