Entre as brumas da música eletrónica, onde as
sombras se entrelaçam com texturas densas e introspetivas, nasce o universo de
Uncanny Chamber. Idealizado por Luís Câmara entre 2019 e 2020, este projeto é o
resultado de uma paixão antiga por sintetizadores e pela criação de paisagens
sonoras carregadas de emoção. Após a estreia com o EP Memento Mori em 2021, o
músico regressa com Echoes Of Absence, um álbum que mergulha nas
profundezas da alma, onde a escuridão se encontra com a beleza. Com as
parcerias vocais de Mariana Pinheiro, Ana Teia e Isabel Cristina Cavaco, este
novo trabalho reafirma a identidade única de Uncanny Chamber.
Olá,
Luís, tudo bem? Como tens passado? Obrigado pela disponibilidade. Para começar,
podes apresentar este projeto Uncanny Chamber? Quando nasceu e como tem sido o
teu trajeto até aqui?
O projeto Uncanny Chamber
foi algo que nasceu entre 2019 e 2020. Eu comecei a fazer música com o meu
sintetizador onde em simultâneo ia aprofundando a parte de produção e teoria
musical através de aulas e até mesmo como autodidata. Cheguei a um ponto em que
me deparei com várias músicas que tinha composto, e me questionei, porque não
colocá-las cá fora, e assim foi, convidei alguns vocalistas para darem voz às
músicas e surgiu o EP Memento Mori no final de 2021. Em 2023 comecei a
trabalhar em novos temas, onde em outubro de 2024, o álbum Echoes Of Absence
viu a luz do dia.
Porque
a opção de seres apenas tu com vocalistas convidados e apenas focado em
teclados e sintetizadores?
A questão inicial de ser com
vocalistas convidados, foi a forma que encontrei na altura para dar voz às
músicas. Relativamente ao uso apenas de teclados/sintetizadores, é apenas
porque foi sempre uma paixão minha desde criança e acaba por ser um instrumento
muito versátil onde a imaginação e criatividade é enorme. A ideia é haver
flexibilidade, e no futuro, gostaria muito de convidar um guitarrista. Não pretendo
ficar apenas agarrado a instrumentos eletrónicos, quero também incluir
instrumentos associados mais ao rock.
O
EP Memento Mori foi o início do projeto. Como foi a transição de
um trabalho colaborativo com vocalistas convidados para a consolidação do dueto
com Mariana Pinheiro em Echoes Of Absence?
Acabou por ser de forma natural.
Eu convidei a Mariana inicialmente para participar em alguns temas, porque
gostei da voz dela. Acabou por funcionar muito bem. Os dois singles que foram lançados
deste disco, o Death Cards e Dark Eyes, a camada instrumental
resultou muito bem com a voz da Mariana.
Ainda assim, este álbum inclui colaborações com Ana Teia e
Isabel Cristina Cavaco, que contribuíram tanto com vozes como com letras. De
que forma estas parcerias ajudaram a enriquecer o conceito e a sonoridade de Echoes Of Absence?
Sem dúvida que
foram uma mais-valia. A Ana Teia foi uma vocalista que me acompanhou
muito nos concertos ao vivo quando saiu o EP Memento Mori. A Isabel
Cristina Cavaco era uma vocalista que já tinha ideia em convidar
relativamente aos trabalhos dela com Dogma e Malignea. No fundo
analisei cada música que tinha criado, enquadrando cada uma na voz que poderia
fazer sentido.
Echoes
Of Absence apresenta uma exploração intensa de emoções sombrias e texturas
densas. O que te inspirou na criação deste álbum? De que modo reflete as
camadas da escuridão que mencionas como essência do vosso trabalho?
Echoes Of Absence foi
um processo introspetivo, tanto a nível de composição musical, como a nível de
letra. Aqui a ideia foi criar sons sombrios eletrónicos com ritmos densos e
industriais. Echoes Of Absence é o caminho negro, tanto para quem quer
está em casa no seu sofá, explorando sensações de ambiguidade, solidão e obscuridade,
sendo ao mesmo tempo caloroso e prazeroso, como quem ouve When All Light Has
Gone ou Between Worlds. Como é o caminho negro para quem está na
pista de dança, como quem ouve Dark Eyes e Death Cards. Echoes
Of Absence tem essa capacidade de estar nos dois campos.
A faixa Desespero traz letras
em português, algo raro. Qual foi a intenção por trás desta escolha
linguística? É uma experiência a ter continuidade?
A faixa em
português foi uma sugestão da Mariana Pinheiro. Ela sugeriu e pensei,
“Realmente, porque não uma música na nossa língua?” Eu tinha toda a música já
feita. A música sendo ela calma, cheia de texturas eletrónicas e de grande peso
sonoro emocional, merecia uma letra que acompanhasse e encaixasse nesse âmbito,
nessa carga, no fundo, nesse sufoco. Foi algo de novo, mas que correu bem. No
futuro, se a música assim o pedir, quem sabe uma nova letra em português.
A produção e masterização foram feitas por Pedro Code, que
também contribuiu com piano numa das faixas. Que impacto teve o seu
envolvimento na visão final do álbum?
O Pedro tem
sempre um grande impacto no envolvimento. É um produtor com grande espírito
critico e muito minucioso. O facto de ser também músico e não apenas um
produtor, acrescenta sempre ideias que surpreendem.
Quais são os próximos passos para os Uncanny Chamber após o
lançamento de Echoes Of Absence? Podemos
esperar atuações ao vivo ou novos projetos em breve?
Sim, tenho neste
momento programado um concerto por mês até ao Verão. No final deste ano irei
começar a trabalhar em novos temas.
Obrigado pela entrevista, Luís. Queres deixar alguma mensagem
final?
Muito obrigado.
Deixo o convite para ouvirem Echoes Of Absence porque a melancolia
também pode ser Bela.
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