Entrevista com Painted Black

Após três anos consecutivos a serem considerados a melhor banda sem contrato, finalmente os Painted Black chegam a acordo com uma editora, a Ethereal Sound Works e publicam Cold Comfort, um monumento de melancolia e beleza que cruza na perfeição Moonspell com My Dying Bride. Para nos falar da banda, do disco, do passado, do presente e do futuro, Daniel Lucas (vocalista) e Luís Fazendeiro (guitarrista) acederam a responder a algumas questões de Via Nocturna

Após três anos consecutivos a serem considerados a melhor banda sem contrato, como vêm esta edição?
DANIEL
: A edição do álbum, posso dizer que é a proverbial concretização de um sonho. Infelizmente já não conseguiremos realizar o Tetra do banda sem contrato. Estou a brincar. Se o álbum agradar pode ser que sejamos votados noutra categoria. Seria muito bom, tal como foi o termos sido votados anteriormente. É sinal de reconhecimento e que o nosso trabalho é apreciado. E os Painted Black continuam aqui, tal como são, agora num formato mais profissional, com melhor qualidade sonora, mas iguais a nós próprios. A edição do Cold Comfort é, como disse, a concretização de um sonho, mas isso é a um nível pessoal. Duma forma mais ampliada, esta edição é o passo seguinte na nossa evolução como banda e foi tomado agora, na altura que nós consideramos ser a certa. Foi algo pelo qual trabalhamos arduamente ao longo destes anos e naquela rodela estão lá, duma forma que te posso garantir que não é metafórica, o nosso sangue, suor e lágrimas.

Estão totalmente satisfeitos com o resultado final?
DANIEL
: Sim. Inteiramente satisfeitos. Quando o álbum ainda era apenas um conceito já havia uma grande expectativa em saber como resultariam os temas depois de serem gravados. Mas assim que escutamos o produto final fomos como que arrebatados pelo nosso próprio trabalho. Nós tínhamos uma noção do que queríamos quando ensaiávamos as músicas, mas ouvir os temas completamente arranjados, com os detalhes todos afinados e com uma qualidade sonora à qual não nos estávamos acostumados a ouvir, inundou-nos com sentimentos de plenitude e concretização. E estamos satisfeitos em todos os aspectos que envolvem a criação de álbum, ou seja, musicalmente e graficamente. Tal como tivemos cuidado na preparação das músicas, o mesmo aconteceu em toda a componente gráfica, pois queríamos que tudo ficasse perfeito. Quando estamos a falar em fazer um CD todos os detalhes são importantes e não podemos descurar toda a parte visual que o integra. É o nosso trabalho e há que ter brio no nosso trabalho. Tem de ser agradável para todos aqueles que o vão ter nas mãos, para todos os que vão escutar e abrir o livrete, mas principalmente tem de ser motivo de orgulho para a banda.

De que forma os vossos trabalhos anteriores, em formato não profissional, ajudaram a criar esta sonoridade?
LUÍS
: Da mesma forma que a identidade de uma pessoa é o fruto de todas as suas vivências passadas, acho que os nossos trabalhos anteriores ajudaram-nos sem dúvida a crescer e a criar a sonoridade actual da banda. Desde o ínicio, quando começámos a fazer música, que nos apercebemos que a nossa sonoridade iria acentar sobre dois grandes alicerces: os sons mais introspecivos/atmosféricos e os momentos com mais fúria. As maquetas foram os nossos primeiros testemunhos musicais, onde as pessoas podem ouvir esta diversidade de ambientes musicais, mas também foram as nossas primeiras experiências de gravação em estúdio e com todo o lado mais cerebral de fazer música. Tudo faz parte do nosso percurso individual e como banda, e certamente o nosso próximo registo irá ser uma reacção/continuação do que fizemos até agora.

Entretanto mudaram da Covilhã para Lisboa. Que motivos vos motivaram a isso?
LUÍS
: Por razões profissionais fomos forçados a mudar a localização da banda para a área da grande Lisboa. Na altura alguns de nós já estudavam na capital e como tal, pareceu-nos a melhor e única solução para podermos continuar com a banda. Não fazia muito sentido deslocarmo-nos todos até ao Tortosendo para ensaiar, principalmente se isso implicasse ensaiar 1 ou 2 vezes por mês. Com muita pena nossa, apenas o Telmo, nosso antigo baixista, não nos pode acompanhar mas tivemos a felicidade de encontrar o António que já está connosco há 3 anos. Olhando agora para trás, vejo a sorte que realmente tivemos, pela vida pessoal e profissional de cada um de nós, nos juntar na mesma zona geográfica.

Acreditam que a mudança para um grande centro vos ajudou a abrir outras portas como, por exemplo, o contrato com a ESW?
DANIEL
: É verdade que trouxe algumas oportunidades, mas mais a um nível de proximidade do que em qualquer outro aspecto. Obtivemos novos conhecimentos e foram feitas grandes amizades que contribuíram positivamente para a banda, mas em muitos outros aspectos continuamos a fazer tudo tal como fizemos até agora, ou seja, pela nossa própria mão. A Ethereal Sound Works já tinha estado em contacto connosco muito antes de virmos para a zona da capital e desde cedo mostraram interesse no nosso trabalho. Talvez o facto de agora nos encontrarmos neste grande centro trouxe-nos a possibilidade de um contacto mais directo, que esperamos revelar-se frutuoso para este futuro próximo dos Painted Black.

Em Cold Comfort, somos assaltados por momentos muito depressivos. É o reflexo das vossas vivências ou apenas uma parte artística?
LUÍS
: Todas as letras e toda a nossa música são fruto das nossas vivências, mas para te ser sincero, nunca a considerei depressiva. É certo que existe um certo sentimento de melancolia no que fazemos e compreendo que cada pessoa interprete o que ouve à sua própria maneira, mas para mim nunca me transmitiu nenhum sentimento de depressão. Até pelo contrário, sempre foi algo catártico. Usamos a música para canalizar e extravazar os nossos sentimentos e isso acaba sempre por ser algo extremamente pessoal.

Há algum conceito subjacente a Cold Comfort?
DANIEL
: Pode dizer-se que sim, mas que é livre para várias interpretações. Não é um álbum conceptual nem sequer foi pensado como tal, mas é possível encontrar uma ligação entre todas as músicas. No entanto todas elas têm a sua identidade. Cada uma é uma descarga emocional, uma libertação. Cold Comfort é um estilo literário, que pode ser explicado como o encontrar de um conforto mesmo quando em situações adversas. É apercebermo-nos de que nos encontramos num lugar triste e que podemos aprender a viver com ele, em vez de andarmos constantemente a lamentarmo-nos.Embora esta seja uma interpretação mais literal, pode muito bem ser aplicada aos Painted Black, pois este álbum vem a ser esse conforto dentro de toda as adversidades que fomos encontrando no nosso caminho.

De que forma correu todo o processo de escrita e gravação do álbum?
LUÍS
: Quando lançámos o nosso 2º demo/EP Verbo, já tinha alguns dos temas que estão no Cold Comfort compostos, por isso pode-se dizer que o álbum é fruto do trabalho desenvolvido ao longo de 3 anos, mais especificamente entre 2006 e 2009. Lembro-me que em 2008 tinha à volta de 20 demos preparadas e nessa altura eu e o Daniel sentamo-nos para fazer um
primeira selecção para o álbum. O processo de escrita é algo bastante solitário, no sentido em que componho a base das músicas em casa e depois passo ao Daniel que escreve ou tenta encaixar uma letra. Só depois é que nos juntamos os dois e ajustamos tudo da melhor maneira. Quando estamos satisfeitos levamos tudo para a sala de ensaios, onde todos juntos trabalhamos nos arranjos. Quanto à gravação do álbum, não podiamos ter tido uma melhor experiência, aprendemos muito. O Pedro Mendes e o Daniel Cardoso são dois grandes produtores. O Pedro ainda teve algum input nos arranjos finais de alguns dos temas e o Daniel foi incansável nas misturas. Iremos com certeza voltar a trabalhar com eles no futuro.

E projectos para os próximos tempos?
DANIEL
: Por agora vamos concentrar-nos na divulgação do álbum. Andamos a agendar concertos de Sul a Norte do país. Queremos apresentar-nos a quem ainda não nos conhece ou a quem nunca nos viu ao vivo. Há várias salas no país onde ainda não tivemos oportunidade de tocar e gostávamos muito de o poder fazer. Queremos também reencontrar sítios onde já estivemos e se possível, voltar a encontrar velhos amigos. Depois, se tudo correr bem, pode ser que não fiquemos só pelo nosso país. Temos muito trabalho de casa para fazer. Vamos apostar também na divulgação do álbum além fronteiras e pode ser que isso nos traga ainda mais oportunidades. Neste momento acho que tudo o que vier depois do lançamento deste álbum para nós é um bónus.

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