Entrevista com PhaZer

Revelations serviu para apresentar os Phazer ao mundo. Após dois anos em tournée, o quarteto voltou a estúdio para registar o seu longa-duração de estreia. O resultado, Kismet, só surpreende que não conhecia o colectivo. Poderoso e simultaneamente belo, Kismet dificilmente será apelidado de mau agoiro, como a tradução do termo turco deixa antever. Pelo contrário será o passo decisivo no crescimento da banda. Paulo Miranda, vocalista, ilustra o novo sentimento Phazer.

Depois das excelentes reacções a Revelations, sentiram alguma pressão na altura de comporem este seu sucessor?
Algumas das músicas compostas na mesma altura do Revelations acabaram por ser arranjadas e incluídas no Kismet. Não sentimos qualquer tipo de pressão para a composição e produção do Kismet, mas sim um enorme desejo de aplicar toda a experiência que ganhámos com o Revelations e sabíamos que tínhamos mais capacidades e ideias para fazermos ainda melhores músicas do que o EP anterior, portanto não sentimos pressão mas talvez entusiasmo ou mesmo excitação!


De que forma é dois anos na estrada se reflecte na sonoridade de Kismet?
Acho que foi determinante. O contacto com os fãs e todo o público que nos viu ao vivo e reagiu às nossas músicas num ambiente despido do estúdio mostrou-nos o lado das nossas músicas que ainda desconhecíamos. Sentir as boas reacções que provocávamos mesmo à nossa frente, completa-nos em relação a todo o trabalho que fizemos em estúdio e compensa todas as dificuldades que encontrámos pelo caminho. O Kismet representa tudo isso, é um disco totalmente dedicado a todo esse espírito com que vivemos durante dois anos, é dedicado aos nossos fãs com a nossa mais sincera gratidão.

Entretanto, também mudaram de baterista. Que efeitos teve essa alteração no colectivo e, principalmente, no processo de escrita?
A entrada do Nelsun foi o elo que até então, faltava na nossa corrente. Com ele, veio uma nova linguagem que enriqueceu as nossas já diversas influências, e também estabilizou a formação da banda e o respectivo processo de composição de novas músicas. Até à sua entrada, o Revelations tinha sido gravado com um baterista convidado (Fred Stone dos Blasted Mechanism) e mesmo durante a Revelations Tour, tivemos algumas mudanças de baterista, isso atrasou a composição de novas músicas e por resultado a entrada em estúdio.
Revelations tinha sido uma edição independente, mas para Kismet há o trabalho conjunto de duas editoras, a Raging Planet e a Raising Legends. Como aconteceu essa união e porquê uma co-edição?
Conhecemos
o Daniel Makosch da Raging Planet através de um amigo em comum na altura do Revelations. A partir daí, ficou a conhecer a nossa demo do Kismet acompanhando a sua produção em estúdio e surgiu então a oportunidade de editarmos através da Raging Planet. A co-edição com a Raising Legends, é uma parceria entre as 2 editoras, sendo a Raising Legends mais focada no mercado do norte e a Raging Planet no do sul.

Sendo que este trabalho está muito orientado para as guitarras e tendo vocês apenas um guitarrista como irão proceder ao vivo?
Sim, este álbum tem uma componente forte de estúdio que não é a mais simples de transportar para concertos, pois temos várias vozes masculinas e femininas, várias guitarras, harmónicas, etc. Para os concertos, sempre que for possível termos músicos convidados, iremos contar com a sua participação. Quando não for possível a sua participação, utilizaremos samples para reproduzir aquilo que humanamente nós os 4 não possamos reproduzir.

Em termos de gravação, como correu todo o processo?
Longo, duro mas divertido e bastante enriquecedor! Longo, porque demorou muito mais do que esperávamos, o trabalho em estúdio acabou por ter uma componente muito forte em termos de arranjos (visto que já tínhamos as músicas compostas), mais do que esperávamos e isso acabou por ser aquilo que nós queríamos. Demos toda a liberdade ao produtor Fernando Matias para mexer nas músicas, contribuir com a sua visão de fora da banda, e podemos dizer que ele teve um papel fundamental para este disco. Duro, porque estivemos praticamente durante um ano em estúdio a ouvir a mesmas 11 músicas, muitas noitadas no estúdio, muito pestana queimada, muitos cigarros fumados. É nestas alturas que o nosso grande amor ao Rock nos aguenta! Divertido, porque felizmente houve sempre bons momentos de descontracção entre a banda juntamente com o Fernando Matias e pontuais convidados, bons momentos de amizade, diversão e parvoíces, o que acabou por ser fulcral naquelas noitadas mais duras de trabalho. Enriquecedor, porque todo o processo de captação e mistura, foi excelente e existiu mesmo puro prazer de quem está a experimentar, testar e criar novas músicas. Vê-las crescer naquele ecrã de computador, com aquelas barras de ondas sonoras é realmente gratificante.

Em Kismet trabalharam com alguns convidados. Querem apresentá-los e adiantar qual foi o seu input ao nível criativo nos temas?
Convidamos a Patrícia Andrade que actualmente colabora com os Moonspell, nos coros femininos ao vivo e que gentilmente assentiu ao nosso convite. Ela participou nos coros femininos da música Serious Killer, com arranjos vocais de Fernando Matias. Tivemos também o privilégio de contar com participação de Ruben “El Pavoni” com a verdadeira alma blues na harmónica na música Fear Itself. E claro alguns amigos nossos para os coros de multidão nas músicas War of Shouts e Kismet. Acho que trouxeram uma riqueza adicional às músicas, completando-as e ficamos muito satisfeitos com o resultado.

O que significa exactamente Kismet?
Kismet significa Destino em turco, embora em alguma literatura esteja associado a mau destino ou agoiro. Este título acaba por resumir e caracterizar toda a temática das letras do álbum, que exploram a condição humana da dualidade, da indecisão, do confronto, das dúvidas, da raiva, do arrependimento, do medo, da revolta, sem nunca se saber qual será o caminho a seguir. A capa do álbum Kismet do Filipe Geier (autor do artwork) acaba por representar isso também, e quanto a mim, é uma capa que conseguiu captar brilhantemente a essência lírica e musical de todas as músicas deste álbum.

Na faixa que baptiza o disco notam-se algumas influências árabes. Qual o seu significado e porque a sua inclusão?
De facto a música ficou com esse ambiente árabe, apesar de os acordes serem de base Flamenco. Em relação ao discurso árabe da introdução, foi especialmente difícil encontrarmos o que nós queríamos, visto que nenhum de nós sabe falar árabe. É uma passagem do Corão, que mais à frente na música é declamada parte dela em inglês por mim, onde é então dito que os infiéis serão perseguidos mesmo que se escondam em torres altas e fortes. É uma passagem que espontanea e popularmente costumam associar ao acontecimento de 11 de Se
tembro, o que nos agradou exactamente por isso e acreditamos que veio enriquecer a letra e música.

O disco fecha com uma peça clássica. Já Revelations tinha tido esse pormenor. Será uma característica para manter? De que forma é que o classicismo interfere no processo criativo nos PhaZer?
Tivemos alguma hesitação na sua inclusão no Revelations, no Kismet já não houve qualquer dúvida. Acho que mostra um lado diferente de PhaZer, que é real. Nós ouvimos muita música de géneros diferentes, e este momento, que é um momento do Gil Neto, representa não só isso, mas quase como uma forte dedicatória às raízes do seu instrumento e aos grandes Guitar Heroes dos anos 80 e 90. E acaba por ser uma história contada pelo mesmo Gil das 10 músicas anteriores mas de forma diferente e mais íntima. Se é para manter no próximo disco, não sabemos ainda. Se acharmos que faz sentido, porque não?

Como tem sido a reacção por parte dos fãs e da imprensa a Kismet?
Tem sido bastante boa, nós gostamos muito deste disco e acreditamos que ele é de facto uma evolução do Revelations, mas nunca sabemos como será a reacção das pessoas e da imprensa. E até agora, temos ficado totalmente surpreendidos com o feedback dos fãs e da imprensa e dos contactos que recebemos. As criticas têm sido de facto fantásticas e esperamos continuar a receber mais.

E estrada? Já estão em fase de promoção do disco? E que mais apresentações ao vivo já estão agendadas?
Sim, estamos já a fazer agendamentos para iniciar a promoção ao disco a partir do próximo mês (Novembro) e durante o próximo ano 2011. Actualmente temos já confirmadas as seguintes datas:
· 05-11-2010 – Side B (Benavente);
· 12-11-2010 – A Sala (Cacém, Sintra);
· 13-11-2010 – FNAC Cascais – Showcase Acústico;
· 17-12-2010 – In Live (Moita);
· 18-12-2010 – Renhau Renhau (Costa da Caparica, Almada).

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