Com três álbuns de inegável classe em cinco anos de
existência o projeto Vertigo Steps assume-se como um dos principais nomes de
referência do panorama nacional com projeção internacional. Com Surface/Light a dupla Bruno A. e Niko
Mankinen criam o melhor momento da carreira própria, num disco emocionalmente
forte e tecnicamente perfeito que preenche uma lacuna óbvia do cenário
nacional. Em pleno voo para Berlim, Bruno A., o principal mentor desta
entidade, respondeu a Via Nocturna.
Olá, antes de mais, parabéns pelo teu novo trabalho. Nota-se
em Surface/Light um acentuar do
crescimento e amadurecimento que já era visível nos trabalhos anteriores, mas
desta feita elevado a um patamar ainda com mais brilhantismo. Na tua opinião, a
que se deve esse desenvolvimento e crescimento?
Obrigado. Concordo que é o nosso melhor trabalho, a vários
níveis. Dever-se-á eventualmente à evolução natural como compositor e a nível
do entrosamento da banda – neste caso, a ligação reforçada com o Niko.
A estabilidade do projeto quer ao nível da escrita quer da
gravação quer produção, mantendo os mesmos elementos tem sido fundamental nesse
crescimento?
Muito provavelmente, sim. É sempre positivo manter uma
formação mais ou menos fixa, desde que funcione bem. E felizmente tem sido esse
o caso – em equipa vencedora não se mexe! Alguns convidados vão naturalmente variando,
mas a estrutura base constituída por mim e o Niko, mais o Daniel e ainda alguns
convidados fixos tem estado sempre lá e isso reflete-se positivamente nas
nossas gravações e no refinamento e simplificação de processos.
E como estão a ser as reações, pelos dados que já tens, a
este novo trabalho?
Absolutamente excecionais! Embora longe de ser fundamental, é
muito bom ver o nosso trabalho devidamente reconhecido pelos media e pelos
ouvintes, atuais e novos (muitos). Pelo que sei, irá acabar em muitas listas de
best-of de 2012.
Portanto, pode-se considerar Surface/Light o vosso melhor trabalho até à data?
Em última análise, acaba por ser sempre uma questão de
gosto, mas penso que este é não só o álbum que irá – e aliás está já a -
agradar a mais gente como também o preferido entre os elementos da banda. Penso
que será definitivamente uma obra marcante no percurso de VS e também, porque
não, a nível do que no género se faz no nosso país. Bem, não é que se faça nada
muito semelhante à multiplicidade e especificidade sonora que perfaz o nosso
som – pelo menos que me tenha chegado aos ouvidos - mas mesmo assim…
Que diferenças podes apontar entre Surface/Light e os trabalhos anteriores de Vertigo Steps?
Prefiro que sejam vocês, os ouvintes, a apontar. Não quero
conduzir muito o ouvinte, de forma prévia. Mas é provavelmente um álbum mais
compacto e coerente, ainda melhor produzido, mais acessível e memorável e que
cria uma envolvência emocional muito forte com quem o escuta e sente.
Em termos líricos, ponto forte dos VS, que temáticas são
abordadas agora?
Neste álbum, tive oportunidade de deixar o grosso das letras
para o Niko, que fez novamente um excelente trabalho. Trabalhei mais a nível de
conceito e títulos, como sempre faço, mas escrevi apenas 1/2 letras, o que foi
ótimo. As temáticas abordadas não se alteraram significativamente, continuamos
a debruçar-nos sobre o que nos rodeia e afeta diariamente, quer a nível de
relações pessoais, quer ao nível da relação amiúde difícil com este mundo
exigente, desafiante mas também duro e injusto. E demasiado super-sónico para o
próprio bem dos seus habitantes!
E finalmente temos um trabalho de Vertigo Steps com edição
física. Como achas que será a reação dos teus fãs agora com a possibilidade de
poder manusear a rodela e folhear o booklet?
Espero que boa, uma vez que deu trabalho a fazer e considero
excelente o trabalho gráfico resultante! Quer do livreto do álbum quer da
edição especial em digipack. É
importante que continuem a comprar o produto original e apoiar dessa forma a
banda.
E também é o primeiro com o apoio de uma editora. Como surgiu
a ESW no vosso caminho?
Enviamos uma cópia para um pequeno núcleo de editoras que
nos interessava e a ESW apresentou a proposta mais rápida e interessante o
suficiente para não continuarmos a procura. E tiveram a ideia natural de
aproveitar os dois álbuns anteriores – que foram na altura extremamente bem
recebidos – e editá-los no tal digipack
triplo, que tem tido boa saída.
Quem vos acompanha neste trabalho, em termos de participações
especiais?
O convidado novo e mais sonante é naturalmente o Jan
Transit, histórico vocalista de In The Woods... Dispensa grandes apresentações
e foi um enorme orgulho tê-lo a participar e a juntar o seu talento a um tema
tão especial como Railroads Of Life.
O outro convidado novo – que canta um tema por inteiro e divide outro com o
Niko – é o Patrik Karlsson, vocalista sueco de This Haven. Fez um trabalho
notável e não esperaria outra coisa, apreciador que sou do que faz na sua muito
subvalorizada banda. Os outros dois mantém-se dos álbuns anteriores: Sordal
(ex-Green Carnation) e Sophie (do side-project
Ugarit). Tal como o Daniel, que se encarrega novamente de bateria e baixo – além
da produção.
Desta feita, escolheram o excelente Nothing At All de Rob Dougan para fazer uma cover. Como surgiu essa ideia?
Gosto de escolher temas especiais e pouco óbvios para covers – caso contrario cingir-me-ia a
originais! - e esse foi um que sempre admirei. A ideia andou portanto a
cirandar-me na mente uns tempos. Gosto muito do resultado final, penso que é respeitador
qb do original, conseguindo simultaneamente
ir bastante mais além e de encontro à sonoridade VS.
E já agora, podes falar-nos do vídeo para o tema Someone (Like You)? De que forma
escolheram este tema? Há ideias para mais algum vídeo?
Foi realizado por um fã norueguês que aprecia bastante o
nosso trabalho e acedeu prontamente ao convite que lhe enderecei. Pelo estilo
de vídeo por que optámos, teria de ser aquele
o tema escolhido. Não esperava reações tão boas como as que obtivemos – até por
não ser um vídeo nada óbvio – mas penso que as pessoas também já se habituaram
a output original da nossa parte. Poderá
haver um 2º vídeo, mas ainda não há nada concreto. Antes disso, apresentaremos
uma edição de imagens captadas na apresentação do álbum num bar lisboeta – parcialmente
musicado pelo tema Doppler Defect.
Em termos de apresentações ao vivo, estas continuam fora dos
vossos planos?
Existe sempre a questão geográfica. Para teres uma ideia,
estou a responder a esta entrevista a bordo de um voo para Berlim, onde viverei
nos próximos tempos, por isso neste momento voltaremos a ter os elementos
principais espraiados pela Europa fora... Mas como sempre dissemos, continua um
sonho e uma possibilidade em aberto. Ou pelo menos se não vier nenhum raio Hollande-ano no entretanto
Como analisas o trajeto dos Vertigo Steps, cinco anos após o
surgimento de um projeto apenas alicerçado num nome?
Olha, julgo que em retrospetiva apenas tenho razões para
estar contente com o trabalho realizado. Não é fácil começar um projeto de
estúdio, do zero, e meros 5 anos após já ter 3 álbuns muito bem recebidos, 3
vídeos belos e profissionais, artwork
de qualidade, letras inspiradas e já muita crítica e entrevista dada
internacionalmente, para alem de diversas participações em compilações, airplay na rádio e broadcast televisivo, a pré-seleção para os MTV EMA 2010, etc, etc.
É claro que considero que ainda podemos crescer muito a nível de divulgação e
que haverá por esse mundo fora muita gente de bom gosto que no meio do ruído
ainda não chegou a nós. Há pois que continuar a batalhar para isso e sei que o
novo álbum e a sua edição vão ajudar.
A terminar, há algo mais que queiras acrescentar?
Apenas o meu obrigado pelo apoio dado e interesse
demonstrado. Peço desculpa se já estive mais palavroso que hoje, mas trata-se
um dia particularmente intenso. Felicidades para a Via e para ti, Pedro, e que
continuemos em sintonia! Entretanto, recomendo a quem ainda não nos conhece uma
visita aos nossos perfis – FaceBook, YouTube, BandCamp, MySpace – para
fazerem o verdadeiro julgamento sonoro – sempre muito mais importante do que
algo que eu possa aqui dizer. Shine on.
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