Entrevista: Gazua


Com quatro álbuns no ativo em permanente evolução e progressão criativa, os Gazua assumem-se, na nossa opinião e sem qualquer tipo de exageros, como a melhor banda da história do punk rock nacional, apesar de em Transgressão apresentarem um álbum com mais rock e menos punk. O vocalista e guitarrista João falou a Via Nocturna do caminho que a banda tem vindo a construir.
 
Olá viva! Como estás, João? Novo álbum, o quarto, no mercado. Qual é o sentimento no seio dos Gazua nesta altura?
É um sentimento um pouco ambíguo. Estamos por um lado muito satisfeitos por termos conseguido chegar aqui com quatro discos que expressam aquilo que sentimos e que esperamos possam chegar a muita gente. Por outro lado não podemos deixar de estar um pouco desiludidos por trabalharmos com tanta vontade e seriedade e sentirmos tantas limitações ao nível da promoção do nosso trabalho. Desde já um grande obrigado ao teu apoio!
 
Desta vez alteraram um pouco o ritmo de um álbum por ano. Estiveram mais ocupados ou mais desleixados (risos)?
Nem uma nem outra. Quisemos recriar algumas fórmulas e a nossa abordagem à composição e isso exige um distanciamento maior. Ou seja, em vez de começarmos a compor mal o disco anterior saiu, esperámos aproximadamente meio ano até recomeçarmos a compor. Tivemos assim mais tempo para ouvir novas bandas e definir o que realmente queríamos fazer.
 

No entanto, ouvindo-se Transgressão, percebe-se o porque de este trabalho ter demorado mais um pouco. Desta vez vocês entraram por campos por onde nunca tinham entrado. Qual foi a sensação de experimentar coisas novas?
Foi natural. Ouvimos música muito variada e não nos é possível estar sempre a bater na mesma tecla. Experimentar novos caminhos foi a única maneira de fazer este projeto continuar a fazer sentido. Mudámos de estúdio, de equipa técnica, e porque eu queria renovar o meu som de guitarra usei amplificadores e guitarras que nunca tinha usado antes.
 
Aliás, vocês já tinham anunciado que o quarto álbum seria um pouco diferente e cumpriram. Que motivações estiveram na base desta ligeiras mudanças de rumo?
Quando atuamos ao vivo sentimos necessidade de percorrer várias formas de expressar o que sentimos. Termos 4 discos ligeiramente diferentes dá-nos um leque bem maior de escolhas e conseguimos assim ter um concerto mais versátil e interessante. Também pesa o facto de todos os anos aparecerem projetos com os quis nos vamos identificando mais.
 
Também em termos líricos se notam algumas diferenças. Desta feita parecem-me menos contestatários e apresentam um conjunto de letras mais introspetivas e/ou profundas. Arriscaria a dizer mais poéticas! Concordas?
Sem dúvida. A intervenção estará sempre presente, mas à medida que se desenvolve a escrita ela vai pedindo mais e novos caminhos. Tenho lido cada vez mais e isso atira-me para novas áreas da escrita. O vocabulário também vai crescendo e trazendo consigo novas possibilidades. O único caminho que não quero percorrer é o da repetição.
 
Assim sendo, de que forma é que vocês, enquanto banda, descreveriam a sonoridade praticada em Transgressão?
É um álbum de Rock. O Punk neste caso estará apenas na atitude com que nos dedicamos ao projeto e às nossas vidas do dia-a-dia. Considero-nos uma Banda de Punk Rock pois temos percorrido um caminho sempre à margem da indústria mais Mainstream. Somos um projeto de intervenção e queremos fazer passar uma mensagem.
 

Tiveram a participação de alguns convidados neste disco?
Temos alguns teclados tocados pelo Joao "Shela" (dos Paus) e o Makoto (também dos Paus) ainda gritou para lá algumas coisas...
 
Como foi o processo de gravação desta feita? Pelo que disseram antes, mudaram de estúdio e de equipa técnica…
Desta feita e porque queríamos mudar um pouco o nosso som, fomos para os estúdios Black Sheep trabalhar com o Makoto Yagui. Fizemos 3 disco no Crossover e estava na hora de experimentar algo novo.
 
O principal ponto de promoção é o fantástico vídeo de Segredo. Podes contar-nos como foi o processo criativo e a sua execução e quem esteve por trás deste excelente trabalho?
As marionetas já têm alguns anos e foram construídas por mim com a ajuda da minha namorada. Quando comecei a pensar no vídeo, lembrei-me destes bonecos e comecei a juntar lixo (cartões, arames, caixas, panos…). Uma semana antes da gravação construí um palco que ocupou a minha sala e no dia da gravação juntámos 10 amigos para ajudar. Tenho que deixar aqui um obrigado especial à Marlene e à Ana Teles pois foram elas que filmaram e editaram o vídeo. Fizeram um grande trabalho.
 
Tem disponível um DVD da vossa atuação na Festa do Avante em 2009. Como surgiu a ideia de registar esse momento para a posteridade? Quem quiser adquirir esse material o que deverá fazer?
Quando atuámos no Avante recebemos uma semana depois o vídeo em DVD. Passámos a uns amigos mas não fizemos mais nada com esse material. A verdade é que está muito bem filmado e o som está muito bom e por isso decidimos fazer umas capas e disponibilizar isso para quem quiser adquirir. Aos interessados basta enviar nome, pedido e morada para gazuarock@gmail.com
 

Existe um grupo de teatro de rua chamada Gazua. Sabiam? Já alguma vez pensaste se não seria interessante associar as duas vertentes dos dois Gazua’s: a música e o teatro?
Por acaso sabia e até conheço um rapaz de lá. Foi uma coincidência… Uma vez atuámos no Seixal e havia um rapaz a distribuir uns flyers desse teatro de rua. Pusemos inclusive essa hipótese de cruzar os dois projetos mas depois ficou em águas de bacalhau.
 

Entre outras aparições ao vivo neste ano, merece-me destaque a vossa participação no Faz Música Lisboa 2012. Tocaram em plena Avenida da Liberdade na zona das esplanadas não foi? Como foi o vosso sentimento e a reação do público?
É sempre uma nova experiência. Gosto do conceito de tocar na rua sem palco ou grandes aparatos técnicos. É uma relação muito próxima com o público e não dá para estarmos mais a cru do que isso. Só faltava a caixa da guitarra aberta com umas moedas dentro! (risos) A festa foi muito fixe e o público reagiu bem. Também acho que é bom para quem vê o concerto, estar num sítio fora de comum e não na sala do costume. Grande ambiente!
 
E para os próximos tempos, como estamos em termos de aparições ao vivo?
Dia 13 de Outubro vamos abrir o concerto do Jello Biafra, ex-vocalista dos Dead Kennedys no Cine Teatro de Corroios!
 

Com o vosso trajeto, a partir de agora tudo é possível esperar dos Gazua! Já há ideias para um quinto álbum? Onde nos levará ele?
Já há ideias sem dúvida, mas ainda é cedo para atacar a composição. Este vai com certeza levar a banda para outras paragens… Gostámos da experiência que fizemos com o Transgressão e por isso vamos aprofundar esse caminho. O próximo disco já tem nome e conceito. Para onde irá? Isso é para já difícil de prever, mas vai para longe daqui!
 
A terminar, queres acrescentar e/ou dizer mais alguma coisa para os nossos leitores e vossos fãs?
Deixo a frase que faz parte do puzzle do nosso segundo disco: “A consciência do que somos e a força do que queremos vale mais do que uma revolução”. Para além disso, divirtam-se sempre e não se conformem! Abraços!

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