Com um passado ligado ao rock e ao metal, o iraniano radicado em Chicago Mehran Jalili, descobriu as
potencialidades da guitarra flamenca e aventurou-se a explorar essa sonoridade.
Depois de uma estreia bem recebida, Subterranea
traz-nos o guitarrista rodeado de um coletivo sólido a entrar por campos de
rock progressivo, mas sempre com
forte base do flamenco. Via Nocturna
foi descobrir um pouco mais deste virtuoso guitarrista.
Olá Mehran! Tudo bem contigo?
Este teu segundo álbum é um pouco diferente da tua estreia. Porque decidiste,
desta vez, trabalhar com uma banda completa, em vez de voltares a recorrer a
músicos de sessão como aconteceu em Angels
Of Persepolis?
Tudo
bem por aqui, obrigado por me dares esta oportunidade para falar sobre o meu
trabalho. Quando publiquei Angels Of
Persepolis, eu tinha que executar ao vivo e para isso tive que arranjar
músicos diferentes para me acompanhar. Passado algum tempo e depois de algumas
mudanças de membros tornou-se evidente que as coisas funcionavam melhor como
uma banda.
E como escolheste os músicos
que tocam contigo em Subterranea?
O
meu grupo é o mesmo grupo que gravou Subterranea.
O nosso baixista, Krushanu Joseph estudou guitarra flamenca comigo durante um
ano ou dois, quando um dia me disse: "sabes que eu toquei baixo nos
últimos 10 anos". No início não tinha certeza do que fazer, mas um dia pedi-lhe
para trazer o baixo. Gostei do que ouvi e convidei-o para fazer um espetáculo connosco.
Ele estava pronto e em algumas semanas aprendeu todo o set e fez um grande trabalho. O seu entusiasmo e forma de tocar
colocou-o no ponto. O nome de Sam
Werk, o nosso baterista surgiu oralmente e o mais impressionante sobre ele é
que é um conhecedor de world music e tem
muita experiência como baterista e percussionista. Ele tocava em diferentes conjuntos
cubanos e porto-riquenhos, por isso sabia que não tinha medo de usar as mãos. Acho
que o fato de a sua principal influência ser John Bonham bem como o seu
entusiasmo para se juntar a nós, pareceu ser o ajuste perfeito e então
começamos a tocar juntos e logo ficou claro que ele estava perfeitamente
adaptado à música que eu estava a tocar. Cronologicamente, o membro final foi o
teclista/pianista Carl Kennedy, que me foi apresentado por outro teclista. Reunimo-nos
algumas vezes e realmente gostei do seu estilo Jazz/blues. Também tem formação clássica, portanto sabia que ele
era muito versátil e poderia ajudar tremendamente o nosso som.
Apesar de teres uma
sonoridade muito orientada para o flamenco, desta vez adicionaste alguns
"extras". As linhas de piano e de baixo são muito jazzy. Era esta a tua intenção?
Na
verdade não. Para o próximo CD, não tentarei recriar o álbum Angels Of Persepolis e procurarei
desviar-me do flamenco. Eu já comecei a escrever música com a guitarra flamenca
mas com muito rock and roll. Quis
criar algo muito original e único. A minha intenção não era rodear a guitarra
flamenca com teclados e linhas de baixo, mas mudar o meu estilo de escrever para
estar mais de acordo com o que fazia há alguns anos e que era Rock and Roll, ou pelo menos, com alguns
indícios disso. Foi por isso exatamente que criei este grupo.
Mas podemos considerar Subterranea como um disco com uma
abordagem mais rock?
Podes
considerá-lo com uma abordagem mais mainstream.
O que ouves aqui, seja rock ou world music, é algo pessoal, em que eu
fui bem ao fundo de mim para reviver o que eu costumava fazer, mas com uma nova
técnica e disciplina.
De facto, apesar da tua
tendência para o flamenco, cresceste com os grandes nomes do rock...
É
verdade, quando estava a aprender a tocar guitarra na minha adolescência, era
um grande fã de Pink Floyd e Led Zeppelin. Eles foram a minha inspiração para
pegar na guitarra. Mais tarde toquei em diversas bandas de rock e metal e,
eventualmente, deixei tudo pelo Flamenco. Agora sinto que estou de regresso ao rock mas desta vez melhor equipado e com
muito mais conhecimento da guitarra e das suas dinâmicas.
A respeito dessa influência
do flamenco, de onde vem? Viveste em Espanha, certo? Isso teve alguma
influência?
Bem,
não posso dizer que vivi em Espanha, mas fiz muitas e longas viagens até lá para
estudar Flamenco com professores muito bons. Usei esse tempo para mergulhar na
forma de arte e absorver o máximo possível. Treinei da mesma forma que todos
treinam quando vão para lá. Tive aulas particulares, acompanhei aulas de dança
e qualquer hipótese que houvesse ia ver um monte de espetáculos e concertos. Apenas
ia onde se tocassem Flamenco. Compra-se um monte de músicas e tenta-se aprender
o máximo que se puder. Poucos meses depois, volta-se e faz-se o mesmo. Eu fiz
isso durante dez anos. Mas isso não foi o fim. De regresso aos Estados Unidos
teria que desenvolver o que aprendi e usá-lo para tocar em aulas de dança e
fazer espetáculos de flamenco aqui. Para completar, também estudei Flamenco com
outros maestros nos Estados Unidos e, como de costume tens de os encontrar e
persegui-los por todo o país para estudar com eles.
Sei que existe um conceito
subjacente a Subterranea. Pode
explicar-nos em que consiste?
O
conceito de Subterranea tem a ver com
a nossa sociedade de hoje e a forma como os humanos tratam os outros seres
humanos e a Mãe Terra. O cenário é a alguns milhares de quilómetros de
profundidade na terra, na quarta dimensão. Ali, há cidades e civilizações de
pessoas que por acaso são a nossa imagem ao espelho. No entanto, eles estão num
caminho contrário ao nosso e muito mais perto da perfeição. Eles estão muito
mais em sintonia com a natureza e com o seu meio circundante e dão muito mais valor
à vida humana do que nós na superfície. Isso de certa forma é uma objecção a
toda a destruição que temos emprestado a nós próprios, das guerras que se travam
em outras terras e dentro da nossa própria sociedade, no nosso próprio povo. Os
atuais acontecimentos sociais, políticos e económicos do nosso mundo são um
exemplo.
Subterranea tem uma capa extraordinária. Quem
foi o autor?
O
criador dessa obra de arte é um amigo, Siamak Zarin Ghalami. Ele e eu
discutimos o conteúdo e a ideia. Algumas semanas depois, apresentou-me o seu
trabalho. Havia umas poucas ilhas verdes na água e o seu reflexo eram edifícios
modernos que estavam para baixo, apontando para o seu ser inferior e menos desejável.
Esta é a maneira como ele interpretou o conceito e realmente gostei, portanto, escolhi-a
para usar. À medida que se avança para a direita, as estruturas e os desenhos
dos edifícios nas sombras tornam-se mais antigas, representando a passagem do
tempo.
Uma vez que nasceste no
Irão, de que forma é que esse facto influenciou a tua carreira no futuro?
Eu
acho que uma coisa que eu posso retirar do facto de ser persa é que estava
exposto a muita música persa na minha fase de crescimento. Algumas das melodias
têm sugestões e influências do flamenco e esta pode ser a razão pela qual eu me
interessei pelo Flamenco. Mesmo quando se trata de criar música Flamenca tenho tendência
de a transformar em algo um pouco persa. Podes ouvir muito disso no álbum Angels Of Persepolis.
E o facto de te teres mudado
para Chicago ficou a dever-se a questões musicais ou não?
Não,
foram circunstâncias da vida que me trouxeram até aqui quando eu tinha 14 anos
de idade.
De regresso à música está a
trabalhar actualmente em algum outro projeto?
Bem, estamos a fazer com os nossos espectáculos de Subterranea e já estamos a trabalhar em novas músicas para o próximo álbum. Agora que tenho uma unidade sólida para trabalhar, acho que vai ser muito mais fácil e rápido chegar aos álbuns. Talvez no próximo ano teremos um novo cá fora.
Bem, estamos a fazer com os nossos espectáculos de Subterranea e já estamos a trabalhar em novas músicas para o próximo álbum. Agora que tenho uma unidade sólida para trabalhar, acho que vai ser muito mais fácil e rápido chegar aos álbuns. Talvez no próximo ano teremos um novo cá fora.
Tiveram três datas de
apresentação ao vivo do álbum. Como foi a reacção e o que está planeado para os
próximos tempos?
Os
shows correram muito bem. Foram bem recebidos
e público estava entusiasmado. Isso ajuda-nos muito. Isto é, sabes que o teu
trabalho é apreciado. Acabei de assinar um novo contrato com um agente que me vai
aproximar das editoras e de outras oportunidades e tentar obter algum tipo de
interesse para nos levar em tournée.
A terminar, queres
acrescentar algo mais para os nossos leitores?
Quero
agradecer-te pela maravilhosa review
e por tocar Subterranea no teu
programa de rádio Via Nocturna.
Também para os teus leitores quero dizer para nos irem ver num futuro próximo quando
estivermos a tocar nalgum lugar por perto e acompanharem-nos visitando o meu site (www.mehranguitar.com) ou no Facebook. Também quero agradecer o vosso
apoio!
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