Vital Signs Of A Fallen World é o EP de estreia dos Before And After Science, coletivo
nascido em Lamego e atualmente sediado no Porto. Dois temas longos,
instrumentais, de post-rock, servem
de cartão de apresentação. Nuno Lobão, falou a Via Nocturna do projeto e do EP.
Viva! É um
prazer conversar convosco e obrigado pelo tempo despendido. Para iniciar, podes
falar um pouco de como nasceu este projeto? Nasceu como trio e chegou a estar
algum tempo parado, não foi? Como aconteceram as coisas nesses primeiros
momentos ainda em Lamego?
Olá, o prazer é recíproco e obrigado
pela entrevista. Sim, os Before And After Science surgiram inicialmente na
forma de um trio enquanto andávamos no ensino secundário em Lamego, isto em
2009. Basicamente eu (Nuno Lobão), o Carlos Maia e o José Silva éramos amigos (e
ainda somos) e frequentávamos o mesmo Liceu. Como já tínhamos estado noutros
projetos musicais e já tínhamos tocado todos juntos, em jams e por gosto, achamos que era porreiro termos uma banda em conjunto
que explorasse um tipo de sonoridade um bocadinho diferente do que tínhamos
feito até à data. Acabamos por nos juntar na sobreloja da minha garagem que era
tão baixa e pequena que não conseguíamos estar lá de pé e nem espaço tinha para
uma bateria, daí o Carlos ter-se dedicado a umas baterias eletrónicas no pc,
mas acho que mesmo que tivéssemos espaço não tínhamos bateria na altura. A
tentativa de fazer algo mais instrumental e post-rock
é capaz de ter surgido mais por minha vontade, uma vez, que andava
completamente colado no género naquela altura. Lembro-me que o EP Memoirs dos portugueses Catacombe me ‘despertou
o bichinho’ para fazer algo dentro do estilo. Na verdade acabou por surgir um
tema de nove minutos, mais coisa menos coisa, muito mais electrónico e
experimental do que tínhamos previsto, em que até usávamos o famoso discurso I Have A Dream, do Martin Luther King, samplado. O tema acabou por ficar com as
iniciais dele, MLK. Fomos passando e
mostrando a pessoal amigo que nos foi dando algum feedback e também o colocamos na nossa página myspace da altura. Foi assim que surgimos.
Nessa altura
que objetivos pretendiam atingir, enquanto jovem banda?
Acho que não tínhamos objectivos definidos. Só
queríamos fazer algo de diferente e tocar todos juntos. Fazer música que
gostássemos de ouvir ao fim ao cabo. Se calhar apercebemo-nos de que poderíamos
levar as coisas mais a sério quando recebemos uma proposta, via myspace, de um dos organizadores do
Festival da Juventude de Braga para irmos lá tocar, mas tivemos de recusar
porque só tínhamos uma música. Entretanto deixamos de compor, por
circunstâncias que já não me recordo, e quando demos conta tinha passado um ano
e tal. Foi aí que eu e o José decidimos que era fixe voltar a pegar no projeto
e encará-lo com outra seriedade. O meu irmão, André, e o Manel Guimarães
acabaram por se juntar naturalmente a nós, tomaram conta das guitarras e
começamos a ensaiar numa sala fornecida por um amigo que também tinha uma banda.
No espaço de meses tínhamos composto uns cinco ou seis temas e estávamos a
tocar num festival promissor lamecense, o TRC Zigurfest que vai este ano para a
sua 3ª edição. Esse primeiro concerto correu tão bem e tivemos tantas criticas
positivas que só nos deu vontade de continuar. Pouco tempo depois abrimos um concerto
dos Catacombe em Viseu também.
Depois deu-se
a mudança para o Porto. Quando e porque isso sucedeu?
Quando pegamos no projeto, em 2011, era verão e a
malta estava toda de férias por Lamego. Não havia pessoal separado em
diferentes cidades por causa das faculdades e durante esse tempo não houve
problemas. Depois com o inicio do ano lectivo fomos tentando conciliar
disponibilidades para ensaiar o máximo de fins-de-semana por mês possível, mas
chegou uma altura em que o Manel teve de se mudar para Beja, por causa da
especialização do curso que estava a tirar, o que implicava uma disponibilidade
muito mais reduzida. Acabamos por nos aperceber que estava a ser demasiado
complicado e dispendioso continuar o projeto, até porque na mesma altura eu e o
meu irmão também fazíamos parte de outra banda de Lamego, os ManInFeast.
Entretanto acabamos por abandonar esse projeto e na mesma altura decidimos
tentar a nossa sorte com os Before And After Science no Porto, uma vez que é a
cidade onde, por questões de trabalho e estudo, passamos mais tempo.
Não foi fácil e ficamos mais um meses parados, mas felizmente conseguimos encontrar o Ricardo Baptista e o Eduardo Baltazar que se mostraram desde o início interessados em dar continuação ao projeto.
Não foi fácil e ficamos mais um meses parados, mas felizmente conseguimos encontrar o Ricardo Baptista e o Eduardo Baltazar que se mostraram desde o início interessados em dar continuação ao projeto.
Quais as
principais diferenças para o desenvolvimento de uma banda entre o Porto e
Lamego?
Desde que tenhas disponibilidade, comprometimento e
sacrifício acho que não há grande diferença entre teres uma banda no Porto ou
em Lamego. É certo que o Porto é um meio maior, com mais oportunidades e mais
bandas, mas o interior já não está tão afastado, a nível musical, do resto do
país como há uns anos atrás. Prova disso são as grandes bandas portuguesas provenientes
de zonas do interior do país ou alguns festivais/concertos que se organizam
nessas mesmas zonas. Quando não havia internet havia uma grande discrepância,
mas atualmente e com tudo à distância de um clic
acho que uma banda do interior que tenha objetivos definidos e trabalhe para os
alcançar pode ambicionar chegar tão longe quanto uma banda do grande Porto ou
Lisboa.
O press release refere as vossas
influências como Caspian e Russian Circles. De que forma elas mais se notam e
que outras, eventualmente, existem?
Referimos os Caspian e os Russian Circles por serem,
talvez, duas das bandas que mais gostamos dentro do estilo. Acho que bebemos um
bocadinho dos lados mais melódicos e dark
de ambos e como são bandas que ouvimos com alguma frequência, e que de
certa forma nos marcam, acabam por nos influenciar na composição. No entanto
não acho que seja uma influência demasiado ‘copiada’ nos nossos temas. Todos
nós ouvimos outros estilos para além do post-rock.
Desde o metal ao hardcore. É claro que isso acaba por estar presente no background musical de cada um de nós e
influencia, ainda que inconscientemente, o nosso processo de composição.
Brian Eno não
surge por aí? Foi do seu álbum de 1977 que vocês retiraram o vosso nome ou foi
só coincidência?
Sim, o nome Before And After Science surgiu do álbum
do Brian Eno. O José Silva, o primeiro guitarrista, é grande fã dele e foi ele
quem sugeriu o nome logo quando nos juntamos. Havia outros ‘em cima da mesa’
mas esse foi o que mais gostamos entre todos e o que acabou por ficar.
Este trabalho
foi gravado nos Estúdios Sá da Bandeira. Como decorreu todo o processo?
Correu de forma muito natural. O Cláudio Tavares, que
nos gravou e produziu, e o João Brandão, que fez a masterização do EP,
colocaram-nos completamente à vontade desde o primeiro contacto que
estabelecemos com os estúdios. Fizeram-nos sentir, e sentimo-nos, sempre em
casa. Uma das particularidades que apreciamos nos Estúdios Sá da Bandeira é o
ambiente que todo o espaço emana. Entras lá e não te apercebes logo que estás
num estúdio. Parece que foste a casa de um amigo e que estás à conversa com o
pessoal na sala ou na cozinha. Mas atenção, independentemente desse ambiente
mais relaxado e descontraído, que acabou por fazer com que o processo decorresse
naturalmente, o pessoal lá é profissional e leva as coisas com a seriedade
necessária. Acho que, para primeira etapa enquanto banda, não podíamos ter
escolhido melhor e aproveitamos para agradecer uma vez mais o contributo que o
Cláudio e o João deram ao nosso registo de estreia.
Depois de uma
edição digital em julho, haverá uma física ainda em agosto, certo?
Sim, temos prevista uma edição física para este mês. Contamos
ter a mesma disponível já nos primeiros concertos de apresentação deste
trabalho. À partida são 50 cópias limitadas e numeradas à mão.
Mas os dois
temas estão disponíveis para download
gratuito, não estão? Quem estiver interessado, onde o pode fazer?
O nosso EP está disponível para audição e download gratuito, sim. Somos a favor da
livre partilha musical e hoje em dia com a internet
acho que não vale a pena tentares obter dinheiro com venda de música digital.
Podes conseguir que alguém compre, mas mais cedo ou mais tarde isso vai parar à
internet portanto mais vale
disponibilizar gratuitamente de início e com boa qualidade. Quem quiser ajudar
pode comprar a versão física e aparecer nos concertos. Parece-nos a maneira
mais correta pelo menos. Para fazerem o download
do nosso EP basta irem ao nosso bandcamp, beforeandafterscience.bandcamp.com
Vão continuar
a fazer temas instrumentais ou estão a ponderar incluir vocais em próximas
composições?
Nunca sentimos a necessidade de incluir vocalizações
na nossa música. O projeto nunca foi pensado nesse sentido portanto acho
difícil que isso venha a acontecer no futuro. Acho mais provável explorarmos
discursos samplados e outro tipo de
texturas através de novos instrumentos, até porque já o fizemos no passado, do
que incluir vocais nas próximas composições.
E daqui para
a frente? Quais são as vossas prioridades para os próximos tempos?
Tocar e fazer por levar a nossa música o mais longe
possível. Temos o resto dos meses do ano reservados para concertos e vamos
fazer por ter o maior número possível de datas pelo país. Vamos tentar juntar
mais algum dinheiro com essas datas para no início do próximo ano gravar um
sucessor deste registo, até porque temos temas que ficaram de fora do Vital Signs Of A Fallen World que
gostávamos de gravar.
Diz-me uma
coisa: sinceramente vislumbram sinais vitais neste mundo em decadência?
Se o mundo está em decadência é por culpa do ser
humano. A natureza tem um poder de regeneração incrível e acho que irá
sobreviver sempre a qualquer adversidade. Portanto há sempre sinais vitais num
mundo em decadência. O título do nosso EP e o próprio nome das músicas
podem-nos questionar sobre várias vertentes e a ideia é mesmo essa. Questionar
um bocadinho as pessoas sobre os possíveis significados por detrás do conceito
deste registo e tentar obter algumas opiniões sobre o sugestivo nome.
Obrigado.
Querem acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta
entrevista?
Se nos ouviram e gostaram do nosso som não deixem de o
partilhar com os vossos amigos e se possível apareçam num dos próximos concertos.
Para já são a 24 de agosto no Bar da Ponte, em Vouzela, com os Memoirs Of A
Secret Empire, e a 5 de setembro no Almaemformol, no Porto, com os A Thousand
Words, Birds e Miscarriage, mas fiquem atentos à nossa página do facebook (https://www.facebook.com/beforeandafterscienceband) para estarem sempre a par das
novidades. Se nos quiserem ver perto da vossa cidade e/ou se tiverem contactos
ou conhecerem alguém que marque concertos na vossa área estejam à vontade para
nos contactar pelo e-mail beforeandafterscienceband@gmail.com
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