Entrevista: Pedro Adriano Carlos

Conhecido pelo seu trabalho nos The Happy Mothers, Pedro Adriano Carlos abarca o seu segundo lançamento no qual explana todo um conjunto de sentimentos. Para perceber melhor tudo o que está presente em The Heart Attacks, fomos ouvir Pedro Adriano Carlos, numa muito introspetiva entrevista.

Viva! É um prazer conversar contigo e obrigado pelo tempo despendido. Para iniciar, podes falar um pouco de como nasceu este projeto, quando decidiste que deverias trabalhar em nome próprio?
O prazer é todo meu! O projeto nasceu da mesma forma que os projetos anteriores a solo nasceram: no momento certo, deu o click, vieram a inspiração e as palavras certas para eu expressar o que andava a sentir a nível pessoal. De certa maneira, a criação e todo o processo do álbum serviram como um ultrapassar de um Amor perdido, havia uma mistura de sentimentos dentro de mim que não me estava a deixar viver, continuar, estava a destruir-me por dentro, e só iria conseguir sair desse buraco se deitasse tudo cá para fora. Para mim, a Música que faço é como as tatuagens, ficam registadas e lembram-te sempre do que foste, onde estiveste, pelo que passaste.  

Nessa altura que objetivos pretendias atingir?
Inicialmente queria exatamente isso, queria deitar tudo cá para fora, por mim e para mim. Entretanto, ao longo do processo, muitas coisas foram acontecendo, tive pessoas a mostrarem-me que eu podia de facto ir em frente com a carreira a solo. Precisava de estar rodeado das pessoas certas, pois nada cresce se não for feito em equipa. Penso que há coisas importantes a dizer, mensagens que devem ser transmitidas, e sinto que, desta vez, devo ser um dos mensageiros. O álbum parte de uma situação pessoal minha, mas evolui para a questão Universal do Amor, da Existência, da lavagem cerebral a que os seres-humanos são submetidos, ao ponto de se esquecerem do que realmente importa, o Porquê de estarmos aqui.    

Entretanto fazes um álbum em 2010 e agora The Heart Attacks. Pontos de contacto e afastamento entre ambos?
O que liga os dois é o facto de ter sido eu a fazer a performance toda em ambos. O que os separa é a ingenuidade estampada no Loaded Dice, e a maturidade do Homem quebrado mas vivido, no The Heart Attacks.

Mas sei que também tens outras gravações menos importantes pelo meio. De que se trata?
Eu sempre estive concentrado numa carreira com banda, não dando grande importância ao que fazia a solo, para mim era apenas algo que fazia por gozo, nunca levei muito a sério. Mas essas gravações todas foram experiências que fizeram toda a diferença no desenvolvimento da minha sonoridade, o facto de não estar limitado a um som específico deu-me perspectiva e coragem para assumir a sonoridade do The Heart Attacks. Muita gente vive no medo e no preconceito, o que limita e influencia a Verdade no que fazem. Na música, e em tudo.

Neste trabalho, assumes a despesa de todos os instrumentos. Foi uma decisão consciente ou imposta?
Ambas! Por duas razões: Eu sabia que se ficasse dependente de terceiros, o processo estagnava e ainda hoje estaria à espera de lançar o álbum. Isso é uma das coisas que sempre me aconteceu, na experiência que tenho na Música, e essa hipótese tinha que ficar de parte, desta vez. Segundo, porque só eu poderia fazer com que o álbum soasse genuíno, pois só eu estava a sentir aquilo tudo, naquele momento. Os meus músicos e amigos dizem que se eu tivesse convidado alguém para gravar instrumentos, o álbum já não iria soar como soa. Soa real. Soa a mim.

Mas contaste com algum convidado em algum momento do disco para ajudar ou não?
Falou-se na possibilidade do Miguel Martins gravar um solo ou o Pedro Martins gravar uma bateria, mas pelas razões que disse anteriormente, decidi não o fazer. Eu adoro colaborações e vai acontecer mais vezes daqui para a frente, de certeza.

E todo o processo de gravação, como decorreu?
É curioso perguntares isso, porque o processo foi a parte mais importante para que o produto final saísse como saiu. Durante 4 meses fechei-me, numa fase em que ainda vivia de rancores, depressões, excessos, etc., e à medida que me ia libertando por “estar a deitar tudo cá para fora” em cada música, ainda me mantive nesse estado, nesse mal-estar quase propositadamente, para o álbum não perder esse elemento de Verdade. Não fazia nenhum esforço para sair desse espírito, em prol do álbum. Podem chamar-lhe masoquismo, mas não me arrependo. Porque à medida que ia avançando na criação, ia curando as feridas e comecei a concentrar-me na 2ª parte do disco, The Soul Rejects, que é a parte em que ganho uma nova perspetiva de Vida, da minha Existência, e do que é realmente o Amor e a Felicidade. A história e o conceito do álbum não é fictício, a piada é que isso tudo me estava a acontecer, pessoalmente, durante o processo. Daí ser tão genuíno e transmitir o que transmite. Não quero que as pessoas entendam porque é que eu escrevi isto ou aquilo, quero que elas se identifiquem quando ouvem o álbum e que, de alguma forma, toque a vida delas, que lhes façam pensar.

Mas atualmente já tens uma banda a trabalhar contigo, certo? Podes apresentar os teus companheiros?
Tenho, é uma espécie de continuação da história do álbum, em que falo sobre o Coração que ataca a Terra, então juntei os Heart Invaders, no intuito de invadir o espaço das pessoas, aquela zona de conforto e de conformismo que temos em relação à Vida, e causar um impacto nelas. Estamos de coração aberto e queremos partilhá-lo com o público, e ninguém melhor para me acompanhar na viagem do que o Ricardo Cavalera (Parkinson, Varuna), o Pedro Martins e o Miguel Barros (Pedro Abrunhosa & os Comité Caviar).

Será essa banda que te acompanhará ao vivo? Por falar nisso, já há alguma coisa definida a esse respeito?
Nós já nos estreámos, na Avenida dos Aliados e nas Noites Ritual. É a banda perfeita para fazer isto, não há dúvida. No próximo dia 21 de Setembro estaremos no Doobop, em Espinho, a apresentar o álbum e a tocar temas que ainda não tivemos oportunidade de apresentar ao vivo. Vai ser um concerto mais intimista e mais longo. Estamos a fazer o que eu chamo de Invasion Tour, os primeiros concertos de apresentação da banda. De resto, estão a surgir algumas possibilidades, boas possibilidades, mas revelaremos tudo no momento certo!

Como definirias o som presente neste trabalho? Na nossa opinião é bastante eclético…
Na Arte existem sempre referências, sem elas a Arte não se desenvolve, e considero que a minha Arte é pegar nos pormenores que estão à minha volta e torná-los em algo Meu. Não procuro um som original, procuro a minha forma original de me expressar, de me reinventar. Muita gente tem dito, de uma forma positiva, que o álbum faz lembrar esta ou aquela banda, precisamente por causa disso. Como disse anteriormente, para mim “vale tudo”, desde que tenha sempre presente o elemento de Verdade. É o mais importante. Verdade é Liberdade.

Achei curiosa a capa do trabalho. Muito diferente do que se vê habitualmente. Quem foi o responsável?
A capa é de minha autoria. Com uma abordagem minimalista, é possível passar uma mensagem forte, e o objectivo era esse. Existem muitos desenhos ligados à história e ao conceito, podem vê-los na página oficial do Facebook. (Pedro Adriano Carlos Music)

E como está a situação dos The Happy Mothers?
Os The Happy Mothers é um projeto que tem que ficar de lado, pelo menos agora. Há momentos e timings certos para as coisas acontecerem e as pessoas seguem caminhos diferentes, é a ordem natural das coisas, chega sempre uma altura em que não se pode lutar contra isso. Por vezes as pessoas reencontram-se é apenas uma questão de deixar as coisas serem como são, sem certezas, mas sem receios. Eu neste momento não tenho medo de nada e o que posso dizer é que The Happy Mothers foi mesmo importante na minha vida, isso nunca pode ser esquecido.

E daqui para a frente? Quais são as tuas prioridades para os próximos tempos?
Continuar a expandir os Heart Invaders, dar a conhecer o disco ao maior número de pessoas possível e continuar a fazer Arte. Há espaço para todos na Cultura, há espaço para Rock, as mentes têm é que estar abertas para apostarem na música Rock.

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?

Desde já, quero agradecer ao Via Nocturna pela oportunidade de falarmos, existem muitos fãs de música que procuram este tipo de conteúdos, e muitas vezes esses conteúdos estão em falta. Em segundo lugar, quero deixar uma mensagem às pessoas que estão a ler isto: não se deixem levar apenas pelo que vos ensinam, não sigam o padrão de vida que vos dão, sintam e ouçam mais o que vos vem de dentro, porque as escolhas e a maneira certa de viverem a vossa vida, são vocês que criam. Ouçam música. Apoiem a Arte e a Verdade.

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