Lisbon Blues é o 4º
trabalho dos For The Glory e nele assinam um manifesto do que significa viver
num país em crise mas que não cede perante a nova ordem mundial imperialista. Lisbon Blues é, também, um manifesto de
sobrevivência, insurreição e independência. Ricardo Dias falou a Via Nocturna
de tudo o que rodeia esta nova proposta do coletivo, das suas experiências
além-fronteiras e na nova tournée já iniciada.
Viva,
obrigado por despenderem algum tempo com Via Nocturna. Lisbon Blues marca o vosso regresso às edições discográficas. Como
decorreu o processo de composição e de gravação desta vez?
Olá boas!! O Prazer é todo nosso e desde já agradeço
pela oportunidade. Em relação à pergunta que colocas, o processo de composição
e de gravação foi o normal creio. Fizémos as malhas na nossa sala de ensaios e depois quando estavam porreiras fomos para estúdio gravar.
Tinhamos apenas um deadline para
apresentar tudo, mas como estava tudo organizado correu tudo mais ou menos bem.
De que forma,
na tua opinião, Lisbon Blues se
assemelha ou se diferencia do vosso trajeto até aqui?
Este disco, creio que reflete mais
uma certa evolução sobre o que queremos ou não num disco de FTG. Houve uma
maior preocupação em realmente ver se as músicas eram o que nós gostamos. Não
tem aquele feeling de filler, mas sim aquele feeling de que estas músicas eram aquelas
que gostraiamos de ouvir noutras bandas e curtir num concerto. O Lisbon Blues tem tudo o que FTG sempre
teve, mas talvez seja um disco mais agressivo, um pouco talvez à semelhança de
um Drown In Blood. Não tem tantas
melodias, mas tem mais groove e
partes rápidas.
Qual o
significado de um título como Lisbon
Blues?
Muita gente nos tem perguntado o que
é Lisbon Blues. Lisbon Blues é a realidade em que vivemos, numa cidade como Lisboa.
Mas uma realidade que pode ser aplicada a qualquer cidade, a qualquer vila, a
qualquer zona do nosso país, assim como
de outros países. A referência ao blues
(estilo musical), tem a ver com a mood que
esse tipo de música, uma música de classes que eram oprimidas mas que tinham na
música o seu escape, e este é o nosso escape. Lisbon, por ser a realidade que
conhecemos de uma cidade que se encontra mergulhada numa apatia e numa falta de
preocupação com o outro.
Em termos
líricos, continuam com uma forte componente social? A atual crise acaba por vos
inspirar?
A maneira como vemos a música o
estilo de vida que escolhemos, faz com que tenhamos sempre algo para dizer. A
nossa vivência diária faz com que tenhamos algo para falar. O hardcore como movimento é muito mais
como música e enquanto existirem assuntos que sejam necessários apontar e
mostrar que existem (se nós estivermos informados sobre esses mesmos assuntos),
iremos falar neles. Tocar com o dedo na ferida, não sabemos se irá ter um
impacto grande na cadeia de comando, mas pelo menos irá ter um impacto para os
miúdos mais novos e a novas gerações possam pesquisar mais e mais sobre os mais
variados assuntos. O egoísmo e a falta de amor pelo próximo são dos grandes
problemas da cidade. Não há dinheiro, todos sabemos... mas a grande falta de
valores também afunda um país onde reina a impunidade para com politicos
corruptos, onde meio mundo apenas pensa em se safar e engana outro meio. Esta é
a nossa forma de dizer que não concordamos com o tipo de vida que nos querem
impor.
Contam com a
colaboração de algum convidado neste trabalho?
Neste disco contámos com a
participação de 2 amigos nossos. Um deles é o Hugo Andrade dos Switchtense que
cantou na música Life Is Carouse e o
outro é o João Quadros dos Shape que cantou no tema Old Wounds.
Vocês são uma
banda que tem tido sucesso além-fronteiras. Como tem sido a experiência de
tocar por essa Europa fora?
Temos tido a felicidade de poder
tocar bastante fora de Portugal. Durante este tempo todo já vimos de tudo.
Houve alturas que sentimos que não ligavam a bandas do sul da europa, mas algo
mudou, porque temos muita qualidade no sul da europa e isso agora torna-se mais
evidente. Por isso é uma questão de luta de todas as pessoas envolvidas com
bandas do sul. Temos mesmo de continuar a lutar para ir conquistando o nosso espaço,
mas tudo na boa onda. Existe um maior apoio à musica underground em paises de fora, o preço das salas, o apoio de youth centers na Alemanha, etc. Digamos
que lá fora não olham para o metal, o
hardcore, o punk apenas como barulho mas conseguem dar-lhe um valor que em
Portugal ainda não se dá. Mas tocar em Portugal para nós é sempre brutal,
porque além de ser onde temos maiores reações às músicas, também é um país que tem tanto para explorar.
Especialmente locais do interior. Há sempre miúdos com vontade de mudar de
vida, que não querem estar presos e limitados.
Iniciaram no
fim de semana passado a No Barriers Tour.
Reações e expetativas para o que ainda há-de vir…
Por acaso, devido ao meu atraso a
responder, tocámos este fim de semana as primeiras datas da No Barriers. Sem dúvida que este é um
conceito que é bastante agradável para quem gosta de vários estilos. Eu sou
apologista de concertos com bandas diferentes, também gosto de line ups apenas de um estilo, mas se
puder ver uma banda diferente de vez em quando num line up que não seria de esperar, fico contente. No Porto correu
muito bem um mixed crowd, com muita
gente a curtir e a cantar, foi uma noite altamente! Leiria teve um pouco menos
de gente do que estaríamos à espera, mas foi como todos os outros concertos que
tocamos bacano, porque nós curtimos
tocar para gente diferente, se conseguirmos cativar alguém a dar uma segunda
oportunidade a FTG então o dever foi cumprido! Aproveitamos para agradecer ao staff do Hard Club e do Beat Club
por serem fenomenais. Um high five a
todas as bandas que tocaram e vão tocar. E um agradecimento gigante ao Raça dos
Gates Of Hell e à sua linda familia, por nos receberem em sua casa de braços
abertos. Está a ser lindo!!!
Foi com prazer que recebemos o
convite para tocar com Biohazard em Espanha. Além de ser uma banda que muitos
de nós ouvem no dia a dia, é muito bom conseguir ir a cidades como Málaga e
Madrid e tocar numa sala fixe com público a ver, depois também temos de tocar
na nossa cidade com eles, e esperamos que aí a malta curta bué e divirtam-se muito.
Numa altura
em que comemoram os vossos primeiros dez anos de existência, que balanço fazem
do vosso percurso?
Foi um processo de crescimento,
crescemos como pessoas, criámos laços com muita gente. Esta banda ajudou-nos a
moldar a nossa personalidade. Estamos contentes com o que já conseguimos
realizar, mas sabemos que ainda podemos fazer mais um pouco e é isso que vamos
fazer agora. Procurar novos desafios, continuar a falar em palco sobre assuntos
que nos incomodam, continuar a aprender e a crescer!
E como está a
atual cena hardcore nacional e
europeia, na tua opinião?
A cena hardcore tem altos e baixos, mas de momento eu acredito que
atravessa uma boa fase em termos de bandas. Há muita banda boa, há miúdos com
bandas de old school, há bandas mais
pesadas. Há toda uma variedade de bandas, há editoras pequenas, há fanzines, há distros. Continua a haver bandas com ideias mais interventivas e
bandas com cariz mais pessoal. Continua a haver um following gigante a imagem, e eu por um lado compreendo que o que
possa apelar a um miúdo de 15 anos, é malta com estilo, tattoos, etc.. mas nós mais velhos se queremos realmente mostrar
que há algo diferente não podemos simplesmente criar elites e sermos
“intocáveis”, temos de partilhar experiências com os miúdos mais novos, ficar à
conversa um pouco com eles, para perceberem que não há ninguém intocável, somos
todos iguais e todos os que vêm com espirito crítico são bem-vindos.
A terminar,
mais uma vez obrigado e dou-vos a oportunidade de acrescentar algo mais ao que
já foi abordado nesta entrevista?
Que a malta apareça nos próximos
concertos da No Barriers, vão ser
mesmo à maneira. Entretanto temos no bandcamp
da Rastilho o disco todo para audição, se estiverem interessados em ajudar a
banda, podem comprar uma cópia no site
da editora! Obrigado pelo apoio e muito boa sorte para o projeto.
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