Os Join The
Vulture refletem o espirito do abutre que vive em cada um de nós. Fazendo jus
às suas raízes, orgulhosas e puras raízes do interior, os Join The Vulture
apresentam um rock que se alimenta do punk,
do pop e do funk. A Cria, primeiro e
excelente álbum do coletivo conclui a primeira etapa do projeto e por isso
impunha-se conhecer melhor este quinteto. Miguel Fernandes, guitarrista, deu
voz aos sentimentos da banda.
Viva,
obrigado por despenderem algum tempo com Via Nocturna. Os Join The Vulture estão
por esta altura a comemorar 3 anos de existência. Como tem sido a vossa
existência neste tempo?
A nossa existência passa por fazermos
aquilo que mais gostamos, tocar e cantar música e passar tempo a fazê-lo para
as pessoas. Quando vamos para um concerto vamos com a mesma vontade com que
íamos há 3 anos atrás.
Foi um dia em que o Miguel e o Zé
foram a um bar tocar meia dúzia de músicas, num registo acústico, e o dono fez
um convite para nos apresentarmos enquanto banda. E como nós às vezes já nos
tínhamos juntado os 5 em ensaios apenas por diversão, começamos a ensaiar um
repertório mais sério para irmos a esse tal bar, e depois desse bar houve mais
bares interessados aqui na zona e começamos a tocar mais frequentemente. A
aposta em originais surgiu depois naturalmente, fomos fazendo originais e fomos
inserindo no meio do repertório de covers,
as pessoas gostavam dos originais, e fomos fazendo mais.
“Join The Vulture” significa
“Junta-te ao Abutre”. O nosso local de ensaios é numa aldeia perto de Vilar
Formoso, que se chama Aldeia S. Sebastião e que no passado se chamava “Quinta
da Ribeira dos Abutres”. A referência aos abutres vem daí, e a mensagem do nome
da banda passa por “junta-te aos abutres”, isto é, “junta-te a nós”.
Qual era o
vosso background antes dos Join The
Vulture?
Praticamente todos nós passamos por
uma escola de música em Vilar Formoso, desde os 6 até ao 12 anos, e a partir
daí era preciso ir para um conservatório para continuar a estudar música.
Nenhum de nós seguiu, e como tal começamos a explorar a música de uma forma
autodidata, foi assim que o Ivo aprendeu a tocar bateria, o Miguel e o Pedro
guitarra, o Mané baixo. Uma coisa importante é que todos sabemos tocar um
bocado de tudo, mesmo o Ivo e o Zé sabem tocar uns acordes de guitarra, o que é
sempre bom. O material com que começamos a ensaiar era da ADCS Aldeia S.
Sebastião, que sempre nos ajudou e ajuda muito. Depois de darmos uns concertos
começamos a investir em material melhor.
Esta banda é bastante eclética. A
base que nos une é sem dúvida o Punk-Rock,
mas não somos propriamente todos amantes do mesmo estilo. Por exemplo, o Ivo e
o Mané são apaixonados pelo movimento de som mais agressivo, cru, que vai de
Censurados, Peste e Sida, Tara Perdida, Ramones, e o Pedro gosta mais de sons
elaborados do género de Steve Vai, Joe Satriani, por aí. O Zé e o Miguel, que
são os principais compositores de letras e músicas, fazem a ponte entre as duas
sonoridades. Quando vamos para os concertos, costumamos ir numa carrinha todos
com o material, e na viagem vamos a ouvir música, e a playlist tanto contém metal,
como punk, como pop-rock, fado, house, hiphop. Em qualquer estilo musical
podemos retirar ideias para adaptar ao punk-rock.
Quem são os Join
The Vulture atualmente?
Os Join são 6 elementos: 1-Zé na voz;
2- Mané no baixo e voz; 3 e 4- Pedro e Miguel nas guitarras; 5-Ivo na Bateria.
O 6º elemento é o público.
A sonoridade Join The Vulture passa
pela fusão dos vários gostos dos membros da banda. Começamos na base do Punk-Rock, e as músicas podem variar um
bocado, sem nunca se afastarem muito do Rock.
Essencialmente tocamos o que nos soa bem, tentamos conciliar as letras com os
instrumentais que criamos. E notamos que há letras que funcionam melhor que
outras, em algumas melodias, damos especial atenção à maneira como enquadramos
as letras na música, a língua portuguesa é difícil e traiçoeira, o que nos faz
trabalhar mais, preocupamo-nos em fazer letras em que não acabe tudo na forma
verbal –ar ou –er ou –ir, conjugar silabas abertas em partes especificas da
música, criar coros que fiquem na cabeça, é tudo devidamente estudado, tentar
criar empatia entre a letra, melodia e público. Uma curiosidade, as guitarras e
baixos são afinados meio-tom abaixo do normal, o ebgdaE.
As letras são
todas em português? Porquê essa escolha?
Sim são todas em português porque é a
nossa língua, é uma língua bonita, difícil e faz elevar a fasquia. Nunca
consideramos escrever em inglês, e sabemos que a nossa música poderia até
chegar a outros lados caso a aposta tivesse sido outra. E até nos perguntam
porque é que o nosso nome é em inglês e cantamos em português. Bem, é uma forma
de algum dia algum estrangeiro possa conhecer a música portuguesa, lê o nome da
banda em inglês, depois ouve a letra em português, pode ser que até goste do
que está a ouvir.
Tivemos conhecimento do Duarte e a
Cogwheel através de uma banda aqui da zona, que agora até já nem existe.
Estávamos interessados em gravar os nossos originais, e queríamos fazê-lo
recorrendo a um estúdio com qualidade e dentro das nossas possibilidades. Foi
fácil chegar a entendimento.
Como decorreu
o processo de gravação de A Cria?
Decorreu em duas partes. Em 2012
gravamos 6 temas, lançamos em EP. Em 2013 gravamos o resto, e juntamos as
músicas do EP a estas novas e lançamos o LP A
Cria. Na primeira fase, não sabíamos bem o que era a gravação em estúdio,
mas correu bem. Na segunda fase, estávamos mais bem preparados e correu ainda
melhor. O Duarte Feliciano ajudou-nos bastante e deu-nos dicas que tivemos em
consideração.
A vossa zona
de proveniência não é, particularmente conhecida por ter grandes nomes do rock. Como vêm a cena aí na vossa zona
e, na vossa opinião, quais são os principais constrangimentos? Nota-se a tão
falada interioridade?
Na nossa zona, não há qualquer tipo
de movimento Punk. Há pessoas aqui e
ali que exploram um bocado isso mas que são absorvidas pelo movimento de música
e dinheiro fácil. Aqui aposta-se mais facilmente numa banda pimba do que numa banda punk-rock. A interioridade é mais mental
do que física, considerando ainda que agora com o pagamento das portagens, é um
valor acrescido se queremos ir tocar fora desta zona, as despesas são maiores. Aqui
há muitos e talentosos valores, mas que preferem apostar numa cena cover do que numa cena original. Nós
também tocamos covers, pois também
tocamos em bares e tocamos cerca de 3 ou 4 horas, tocamos porque tem que ser e
temos de preencher o tempo, mas não nos dá tanto prazer como tocar originais. E
os Join a partir daqui vão ser cada vez mais uma banda de originais do que uma
banda de covers. Mas ainda não é fácil
atravessar totalmente essa barreira. Trabalhamos para criar mais originais e
preparar concertos maioritariamente com originais. Temos noção que não é fácil,
mas o caminho faz-se caminhando. Outra falha visível nesta zona é que os ditos
grandes eventos musicais na zona, são poucos e são eventos onde a aposta,
internamente, recai sempre nos mesmos nomes. Mas nós não ligamos a isso e
trabalhamos sempre da mesma forma. Uma dificuldade que a banda tem é sem
dúvida, a falta de tempo disponível para trabalhar, uma vez que é difícil
juntarmo-nos todos para ensaiar ao fim de semana, ou porque o Pedro está a
trabalhar em Lisboa, ou porque um de nós também alguma coisa marcada e visto
que não somos profissionais da música, temos outros compromissos. É natural.
Como tem sido
a apresentação deste trabalho ao vivo?
Tem corrido bem. A aceitação tem sido
boa, tem havido mais críticas boas que más, qualquer crítica construtiva tem
que ser analisada. É fundamental haver boas condições de palco, som e luz para
apresentar um bom espetáculo. No que toca à nossa performance em palco, temos vindo a evoluir a nossa presença e
confiança. Não estamos muito preocupados, quando há trabalho feito em casa, as
coisas saem naturalmente. A existência da internet
e dos serviços stream facilita também
a divulgação da nossa música, o que se reflete também ao vivo pois já há mais
público a conhecer e cantarolar as músicas o que torna também o espetáculo ao
vivo mais dinâmico.
Ainda não, temos apenas algumas
montagens extraídas de gravação de apresentações ao vivo. Mas já pensamos em
fazer videoclips para músicas.
Projetos para
o futuro?
Descansar, refletir, evoluir e
preparar um novo álbum. Infelizmente vamos ter de ser obrigados a parar um
pouco com os concertos, o Ivo vai ser operado e ficará fora de combate algum
tempo. Como não consideramos trocar nenhum elemento da banda, vamos aproveitar
o tempo para nos concentrarmos em compor novos temas. Nós não olhamos para esta
paragem como uma adversidade, olhamos para isto como uma forma de retirar algo
positivo, como é sem dúvida criar material novo.
A terminar,
mais uma vez obrigado e dou-vos a oportunidade de acrescentar algo mais ao que
já foi abordado nesta entrevista?
Só um agradecimento à ADCS Aldeia S.
Sebastião por todo o apoio, um agradecimento aos nossos amigos, fãs e
familiares e que quem estiver interessado em adquirir o nosso álbum, podem
entrar em contacto connosco. À Via Nocturna, e na pessoa do Pedro, um obrigado
também por nos darem a conhecer um pouco mais às pessoas que gostam da música
portuguesa. Keep Rocking.
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