Entrevista: A Cepa Torta

Depois dos Join The Vulture, outro grande trabalho a surgir do distrito da Guarda. Os A Cepa Torta são oriundos da Meda e assinam um dos melhores trabalhos nacionais de 2013, Amor e Outras Maleitas. Carlos Fial, guitarrista e vocalista do trio, falou a Via Nocturna deste projeto e de todas as maleitas que afetam a sua existência. Desde a derrota do Benfica a um estado gripal… passando naturalmente pelo amor!

Antes de mais obrigado pela vossa disponibilidade. Quem são e o que são os A Cepa Torta?
Quem somos: André Branco na locomotiva, Bernardo Esteves no baixo, e eu, Carlos Fial, na guitarra e voz. O que somos? Mais que uma banda, um estado de espirito! (risos)

O mais curioso a saltar à vista é o vosso nome. Certamente tem algum significado?
Tem vários significados. O nome "A Cepa Torta” foi escolhido com o propósito de frisar a "má rês", o fruto podre, o estado caduco, a má origem. A Cepa Torta é o estado laxista em que cais, principalmente se fizeres parte duma geração destinada ao sucesso, mas condenado a coisa nenhuma, inspiração tirada do poema Quasi de Mario Sá Carneiro, de onde fomos tirar o refrão do tema Um Pouco Mais.

Como surgiu a ideia, o que vos motivou a erguerem este projeto?
A ideia surgiu em setembro de 2010, duma conversa de café entre mim e o Bernado, entre copos e filosofias baratas de balcão de café. A intenção baseava-se na vontade de tocar música apenas pelo prazer da coisa. André Branco era amigo comum e tocava bateria, ficando assim formada a banda. Queríamos tocar pura e simplesmente. Começamos pelos covers. Principalmente com o propósito de ganhar calo de estrada e também algum dinheiro para equipamento, óbvio. Mas a intenção sempre foi o trabalho original. E finalmente conseguimos.

Já tinham tido outras experiências antes?
Todos estivemos envolvidos em vários projetos. Uns mais que outros.   

E que influências transportam para A Cepa Torta?
Quando andas nestas vidas de querer deixar de ser criatura, e te armares em criador, vais sempre beber a algum lado. Mesmo que de uma forma instintiva. Além do mais, todos os elementos d’A Cepa ouvem coisas muito diferentes. Desde Tool a Zeppelin. Do blues rural dos anos 20, a Dream Theatre. Enfim. Uma mixórdia. O bonito quando constróis uma música é essa liberdade de poderes seguir o caminho que quiseres, por muito dissonante que seja. Misturares sons e ritmos como te der na gana. E depois aplicas-lhe aquele toque final. Que é o teu estado de espirito naquele preciso momento. A diferença entre os gostos musicais entre cada um de nós, acaba por se refletir nas músicas da banda.

E que maleitas são essas a que vocês se referem, para além do amor é claro?
Inúmeras. Um estado de revolta. Essa besta que é a saudade de qualquer coisa. A fúria do Benfica perder. Um programa da manhã duma TV generalista. A música Febre por exemplo teve na sua génese um estado gripal. Uma maleita daquelas!

E porque é que o amor é uma maleita?
Haverá maior maleita que o amor? Essa reação química, fecunda de antagonismos e fraca em certezas, que transportas numa espécie de masoquismo devoto, quase religioso. É uma praga viral!

A língua portuguesa acaba por ser, na minha opinião, uma das vossas armas. Penso que muito do vosso brilhantismo passa pelos jogos poéticos que, seguramente se perderiam se fossem cantados em inglês. Concordam?
A nossa língua é de facto uma língua de poetas. Achamos que a única forma de passar a mensagem que pretendíamos era escrevendo em português.

Mas alguma vez ponderaram cantar em inglês?
Não. No que toca aos originais, nunca ponderamos essa hipótese. E sinceramente, creio que as letras perderiam o impacto.

Como chegaram a uma casa como a Cogwheel Records?
Google ou algo parecido. Enviamos um mail. Gostamos da resposta. Carregamos a Transit, e pusemo-nos a andar!

Como decorreu o processo de gravação?
Excelente! O Duarte Feliciano foi impecável. E paciente! Muito mesmo. Além do mais, a Cogwheel privilegia sempre a intenção dos autores. Ajuda-te. Sugere. Mas nunca põe em causa a liberdade criativa. Gostamos e provavelmente, dentro em breve, iremos repetir.

Com um disco destes na mão, até onde podem chegar os ACT?
Queremos chegar aos ouvidos do maior número de pessoas. Queremos tocar. Mostrar o nosso trabalho. Se bem que, é difícil fazeres-te ouvir desde cá de cima do alto da Serra.

De repente fiquei curioso: de uma assentada dois grandes grupos com dois grandes trabalhos (Join The Vulture e A Cepa Torta), ambos oriundos do distrito da Guarda. Passa-se alguma coisa por aí?
Passa e muito. Desde que começamos a banda, descobrimos que, no que à música diz respeito existe uma panóplia de projetos dos mais diferentes estilos nos mais recônditos cantos do distrito. Há muita malta a fazer muita coisa interessante por estas bandas.

Há alguns projetos em mente para o novo ano que agora começou?
Continuar a tocar. Esse é o principal. Além disso, arranjar um tempinho para compor mais umas músicas e quiçá, repetir a experiência de gravar.

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?
Deixar os agradecimentos da praxe. Em primeiro ao vosso Blog e à review que fizeram do álbum. Foi uma agradável surpresa. Agradecer ao Duarte e à Cogwheel por todo o apoio que nos tem dado e pela ajuda. E obrigado a todos os que nos ouvem. No fim de contas, eles são o propósito de tudo isto.

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