O rock português, feito em Portugal e
cantado na nossa língua tem conhecido um desenvolvimento assaz relevante. Têm
sido diversos os projetos de grande qualidade que têm surgido. A última criação
tem o enigmático (e continua enigmático após esta entrevista) nome de Alice. O
primeiro trabalho, Discórdia está aí
pronto a por toda a gente de acordo: é uma sensacional estreia, pelo que
quisemos conhecer mais um pouco deste original e promissor sexteto. Por isso a
banda reuniu-se para responder às nossas questões.
Antes de mais
obrigado pela vossa disponibilidade. Quem são os Alice e o que vos motivou a
erguerem este projeto?
Os Alice são uma banda de Rock de
Lisboa constituída por 6 membros; Afonso Alves e Bernardo Neves (vozes),
Guilherme Baptista e Diogo Borges (guitarras), António Santos e Vítor Martins
(Baixo & Bateria). A motivação para erguer a banda parte de uma vontade da
nossa parte de exaltar o gosto e o apreço pela língua portuguesa, assim como
parte de um gosto incondicional pelo Rock
e pela música no geral.
Porquê um nome
como Alice?
O nome Alice é um assunto sobre o qual apenas nos debruçaremos quando
sentirmos que o momento é o indicado.
Quais eram as
vossas experiências anteriores a Alice?
Já todos tivemos experiências musicais no passado, uns mais que outros.
Três dos membros da banda já tinham estado em bandas e já tinham tocado ao vivo
várias vezes. Os restantes tinham menos experiência mas não começaram do zero.
Que nomes ou
movimentos mais vos influenciam?
Como qualquer outra banda, cada elemento tem as suas influências pessoais,
o seu gosto pessoal e os seus artistas preferidos. Enquanto banda não podemos
dizer que existam nomes ou movimentos que nos influenciem. Almejamos poder
contribuir para um crescente gosto e valorização pela nossa língua e pela nossa
cultura. Em poucas palavras e com pouca profundidade, podemos dizer que é esse
o nosso movimento.
Discórdia é o nome do
vosso disco de estreia. Como analisam o trabalho desenvolvido aqui?
Estamos bastante satisfeitos com o álbum. Pela nossa parte, acabou por ser
o que precisava de ser, as músicas que o constituem são músicas que tinham de
ser escritas. Acreditamos que este álbum é apenas uma introdução ao que os
Alice podem ser, fazer e escrever, mas não deixamos de estar satisfeitos com
ele. Sentimos que serve o seu propósito da melhor forma possível!
Como descreveriam
este vosso disco?
É um álbum que representa exatamente o que o seu título acusa, discórdia. O
nome é tudo menos aleatório. Tentámos criar uma rutura com aquilo que existe no
panorama nacional. Não somos nem pretendemos ser pioneiros de nada, apenas
tentamos fugir do status quo do Rock Português. O que está para trás,
está para trás, ainda há muita música por escrever e o nome Discórdia parte um pouco dessa
filosofia. Se é de facto uma rutura ou não, parte da opinião de cada um.
Há por aqui muita
qualidade, na minha opinião. Sentem que o merecido reconhecimento tem chegado
ou não?
Muito obrigado. Em Portugal são raros os fenómenos “virais” - especialmente
no género de música que fazemos. Não somos de todo, pelo menos por enquanto, um
desses fenómenos nem pretendemos ser. Pessoalmente sempre acreditei que a base
de apoio mais fiel é quase sempre a que leva mais tempo a ser forjada. Estamos
a trabalhar arduamente na promoção do nosso primeiro disco, e já conseguimos
chegar a mais gente do que esperávamos num espaço de tempo tão curto. No
entanto, em Portugal e na música Rock
o reconhecimento vem com o tempo, poucas vezes é imediato. Os “imediatismos”
são normalmente fenómenos do Youtube
e da Pop, e dificilmente acontecem
num mercado como o nosso. Para responder à questão de forma mais direta, sim
estamos muito felizes com o reconhecimento que temos tido. Mas claro,
pretendemos sempre superar-nos a nós mesmos diariamente, em todos os aspetos.
É interessante a
forma como transportam melodias e versos entre os temas. Significa isso que Discórdia tem algo de conceptual?
É uma questão extremamente pertinente. Na sua raiz, Discórdia nada tinha de conceptual. Era um mero aglutinar de
músicas escritas em diferentes momentos e circunstâncias. No entanto, à medida
que as nossas relações interpessoais se tornaram mais fortes, também a música
se tornou mais forte. O álbum ganhou forma e perdeu a sua aleatoriedade. As
interligações entre as várias músicas são propositadas, pensadas e
estrategicamente colocadas, embora apenas um ouvido atento consiga perceber com
clareza as nossas intenções, dada a sua natureza subtil.
Já há um vídeo
para Gato Morto. Foi uma escolha
difícil? Têm em vista a realização de mais algum vídeo?
Foi uma escolha complicada pois tivemos propostas de realizadores que apontavam
por um caminho diferente. No entanto não chegámos a termos de concordância com
nenhum desses realizadores e o nosso caminho levou-nos ao nosso amigo Ronnie
Fortes, que nos apoiou na escolha deste tema, que para nós sempre foi o
indicado.
Ultimamente têm
surgido diversos projetos nacionais muito interessantes. Sentem, de alguma
forma, que haja um renascimento do rock
português?
Sim, sem dúvida. Enquanto músicos de Rock
e portugueses sentimos quase uma obrigação moral em fazer parte desse
renascimento. Há muito boa música em Portugal e em português, agora é preciso
convencer as pessoas disso mesmo para que possamos finalmente ter bandas
portuguesas como cabeças de cartaz dos nossos festivais de verão. É da maior
importância que o público comece a valorizar os seus artistas.
Em termos de
concertos como têm sido a vossa agenda? E para os próximos tempos, o que há
agendado?
Anunciaremos o primeiro concerto dos Alice no nosso Facebook durante o decorrer dos próximos dias. A agenda para o
período de verão ainda está a ser pensada, sendo que não está nada finalizado.
E projetos para o
futuro? Com uma estreia com este nível de qualidade, até onde podem chegar os
Alice?
Em primeiro lugar, agradecemos os elogios. Já começámos a escrever o
segundo álbum e podemos garantir que será um trabalho de uma maturidade
superior. Está a anos-luz de estar terminado e é algo com que não estamos
preocupados neste momento. Estamos neste momento entregues à divulgação do Discórdia - mas temos a certeza que o
segundo álbum será um trabalho mais maturo e consciente - para não dizer
simplesmente melhor, pois a avaliação qualitativa caberá aos
ouvintes.
Obrigado. Querem
acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista ou
deixar alguma mensagem para os vossos fãs?
Queremos apenas agradecer todo o apoio que temos tido nas redes sociais e
fora delas. Obrigado a todos, pela nossa parte é apenas de salientar que não
vamos deixar de trabalhar para ter conteúdo para aqueles que nos seguem, e
apelamos a que ajudem as bandas que ouvem e de que gostam. Comprar um disco ou
ir a um concerto é um gesto que pode afetar seriamente a carreira de uma banda.
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