Começar com um EP como Woman From Dogtown coloca logo a fasquia muito alta. Mas isso não
parece assustar o jovem coletivo aveirense (mais um!) Modern Jungleman que
denotam uma maturidade assinalável. Numa muito interessante entrevista, Mário
Jader, vocalista e guitarrista, dissecou todo o mundo em torno do quarteto.
Olá! Obrigado pela vossa
disponibilidade. Para começar, quem são os Modern Jungleman?
Nós é que agradecemos o interesse. Dizer que somos uma banda de
Aveiro que tem uma enorme paixão por música, não só pelo estilo rock, embora seja a nossa
"casa", mas por qualquer melodia que nos encha a alma, pode ser um
pouco superficial. Eu acho que os Modern Jungleman ainda são um mistério,
sempre com uma visão que não se limita a olhar em frente, mas em tudo o que nos
rodeia. Ainda estamos num processo de descoberta, seja como pessoas, seja como
músicos, sempre com os sentidos apurados. A arte é um universo gigantesco, é
preciso estar sempre a explorar.
O que vos motivou a
erguerem um projeto como este?
Em primeiro lugar, pelo simples facto de gostarmos imenso de criar
música (e de querer que o número máximo de pessoas ouça o que vem da nossa
mente) e de todo o seu processo. Esse foi o primeiro passo e é o miolo deste
projeto. Depois, e em tom pessoal, por poder contar histórias conciliadas com
melodias e poder encarnar personagens enquanto canto. As letras têm um papel e
um poder tão importante nas canções como as próprias frases musicais. Foi a
minha grande motivação, para além de, obviamente, do convívio, ensaios, festas,
viagens, toda essa união e experiências que ficam sempre agarradas ao nosso
processo de criação.
Acho curioso o vosso
nome. Algum significado especial para Modern Jungleman?
Tem sim. Demorou algum tempo até arranjarmos um nome que coincidisse
com a nossa visão musical. E fomos dando alguns palpites, uns muito maus, mas
finalmente tive a ideia de "Modern Jungleman", que chama por um som
moderno, mas também primitivo, que não se esquece das suas raízes. É um nome
que também apela à libertação pessoal, espiritual e sexual, tema sempre
presente nas nossas músicas e na nossa filosofia como banda, seja de forma
direta ou indireta, num país que precisa de abrir um pouco mais a mente, seja
em áreas como a cultura, política, sociedade, religião, etc.
Quais são as vossas
principais influências?
É complicado saber. Grande parte das nossas influências derivam de
experiências pessoais, breves melodias que ficam na cabeça ou algo vindo do
subconsciente, que é difícil de explicar. Ouvimos quase todo o tipo de música,
dando algum destaque a bandas como Nirvana, Queens Of The Stone Age, The
Rolling Stones, The National mas também, por exemplo Dave Matthews Band, Da
Weasel, Linda Martini. Não sei se, de alguma maneira, serve de influência, mas
o ponto de partida começa sempre com os nossos ídolos de infância. Pessoalmente,
grande influência que tenho é de Blues,
Rock Psicadélico, Jazz Fusion, Folk, Stoner, Soul, Gospel, Rock Alternativo.
Se falarmos de letras, alguns storytellers
podem servir de inspiração seja Tom Waits, Nick Cave ou Bob Dylan, mas também
artistas como Jimi Hendrix, Gary Clark Jr, Jack White, Albert King, Jeff
Buckley, Frankie Miller, Eric Clapton, Jorge Palma… Em relação às letras, tenho
uma enorme inspiração por escritores como Hunter S. Thompson ou Charles
Bukowski, os meus favoritos.
Já tiveram outras
experiências anteriores?
Eu crio músicas e toco desde os meus 16 anos, mas em termos de projetos,
de momento, só integro os Modern Jungleman. As únicas experiências anteriores
que tive foram só umas jams ou juntar
algum pessoal e tocar covers,
portanto, nada que se possa de chamar de algo sério. O Diogo (baixista) já teve
outras bandas, rock, hip hop, tem um leque mais alargado.
Como descreverias estes
cinco temas que compõem Woman From
Dogtown?
São temas que fazem parte de um conceito com uma grande componente
social. Embora seja, na maior parte das vezes, caricaturado. Um cidadão que
trabalhe 8-10 horas por dia, tenha família para sustentar e que receba o
ordenado mínimo, só tem tempo para trabalhar ou fazer as sua tarefas diárias. A
partir daqui, esquece-se do seu estilo de vida ou de sonhar com uma vida que
ambicione ou deseja ter um dia, seja enquanto fuma, para esquecer ou matar o
vício e tempo, seja na bebida, seja na televisão, seja a ler notícias sem
qualidade alguma, em jornais baratos. Todo este estilo de vida cega-o e
aprisiona-o. Esta realidade levou-nos a criar Dogtown, uma cidade repleta de falsos profetas, prostitutas,
drogados, assassinos, que vivem no submundo, um mundo que a sociedade,
controlada pelo sistema, família, religião, por vezes, não consegue ver. E
conta histórias de cada um: um homem viciado em drogas que quer sair do mundo
escuro e vazio que criou; um assassino de prostituas, conhecido por Shadow Man, que vai experienciar um amor
incondicional por uma vítima; uma prostituta que vai libertar a mente de muitos
perversos e homens de negócios, a Woman
From Dogtown e, no fim de tudo, a necessidade de mudança e libertação destas
personagens, no nosso single This Is Not
The World That I've Made… a verdadeira despedida desta história e deste
conceito.
Como foi o processo de
criação desses temas?
Foi sempre um processo de descoberta e exploração. Mas temos a
sensação que as músicas já estavam feitas, destinadas, foi só preciso seguir um
caminho certo até as encontrarmos. Como explorar uma casa abandonada e, aos
poucos, retocá-la e limar as arestas. Há melodias que simplesmente apareceram
na nossa mente, foi quase como piloto automático. Mas também há canções que necessitaram
de grande trabalho, tentar ver uma quebra para atenuar o ritmo, um solo que não
soe sempre igual… sempre seguimos o objetivo
de fazer algo simples, mas bem trabalhado. E foi um processo que nos enriqueceu
muito, oferecendo-nos uma maior maturidade e experiência musical.
A gravação decorreu nos iSound Studios com o Duarte Feliciano.
Como decorreu?
As gravações decorreram lindamente. O Duarte foi um grande
profissional. Não só nos permitiu chegar ao conceito da forma como nós
queríamos, fazendo uma ótima produção, como ainda nos deu alguns palpites e
sugestões que ficaram muito bem encaixadas nas músicas. O resultado final ficou
incrível, muito para além do que esperávamos, pelo que só podemos ficar
agradecidos pelo esforço e hospitalidade.
Têm já algum vídeo para
este trabalho?
De momento não, mas é algo que temos de pensar e de forma urgente.
Para já ainda estamos a concentrarmo-nos na fornada de concertos que temos este
mês, mas em agosto é um assunto que vamos ter de colocar em cima da mesa. Até
porque o conceito está feito, é só passá-lo para vídeo.
Que objetivos pretendem
atingir com os Modern Jungleman?
Pode soar um pouco cliché,
mas o nosso objetivo é simplesmente fazer o que gostamos, que é tocar músicas e
contar histórias em melodias. Se as pessoas gostarem, se sentirem a música e se
partilharem esse gosto, só podemos ficar muito agradecidos. A arte é livre e
sempre o será, independentemente das pessoas que a fazem e a usam.
Como estamos de
apresentações ao vivo? Próximas datas?
Este mês vamos ao MusicBox
Lisboa e vamos andar por várias FNAC's do país, Porto, Lisboa, Coimbra, Leiria.
Já temos algumas datas para setembro e outubro, mas fica ainda a surpresa.
Podemos só acrescentar que voltaremos à capital. Tendo em conta que há um ano estávamos
a apresentar as nossas músicas aos nossos amigos e colegas, no nosso estúdio
(chamado "-2"), já percorremos um bom caminho.
Obrigado. Queres
acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores ou para os vossos fãs?
Obrigado nós por interessarem-se em novos projetos. Com um ano a
tocar em vários locais do país, há tanta, mas tanta banda com grande qualidade
e com grande espírito para a música. Fica aqui a minha sugestão para os
leitores do VIA NOCTURNA e pessoal que nos ouve, principalmente os mais novos,
que podem mudar a cultura do nosso país: libertem-se, procurem a arte, façam
arte, seja em que área for. Criem, explorem as vossas mentes, as vossas emoções
e coloquem-nas cá para fora, partilhem.
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