Vinte anos de carreira e onze álbuns de estúdio fazem dos Ten uma
verdadeira instituição do hard rock
britânico e mundial. Depois de deixarem a Frontiers
assinaram pela Rocktopia Records,
editora que se estreia logo com o brilhante Albion,
primeiro de dois trabalhos dos britânicos. Profissional, carismático e muito
simpático, o líder do colectivo Gary Hughes, escalpelizou o novo álbum e todas
as mudanças que afectaram os Ten nos últimos tempos.
Olá Gary! Obrigado pela tua disponibilidade com Via Nocturna. Deixa-me
dizer-te que é um prazer poder fazer esta entrevista! Ao longo dos últimos
anos, os Ten têm sido sinónimo do melhor hard
rock britânico. Portanto, como te sentes com este novo álbum?
Sim, estou muito satisfeito com
ele. Tinha uma ideia muito clara sobre a forma como as coisas dariam certo
desta vez. Comecei por desenvolver uma grande coleção de músicas de uma forma
mais descontraída e sem os entraves dos últimos anos. Com este novo material
senti que me foi permitido o tipo de liberdade de expressão artística que me
foi conferida no meu início, nos tempos da Now
And Then Records e foi emocionante sentir as músicas a desenvolverem-se de
forma natural, mais uma vez. Ao longo dos anos, os Ten tornaram-se num grupo
contratualmente obrigado a tipos específicos de produção, de acordo com as
preocupações de ordem promocional das editoras, com contratos que especificavam
os estilos e tipos de pistas necessários para a mistura do álbum. É difícil de
funcionar sob essa pressão e acho que nós fomos surpreendentes para aguentar um
período cada vez mais difícil em que muitas outras bandas simplesmente teriam
caído no esquecimento. A nossa nova situação de multiálbum com a Rocktopia
Records tem sido uma revelação a este respeito. Parece a antiga situação da
Now And Then e acho que o fluxo e
sensação natural de Albion confirma isso.
É, portanto, o início de uma nova era para os Ten? Mudança de editora e
novos guitarristas…
Sim, temos dois novos
guitarristas. Sempre senti que havia espaço nos Ten para outro guitarrista, que
nos permitisse tocar mais das camadas quer em estúdio quer ao vivo. Dann
Rosingana e Steve Grocott complementam-se perfeitamente. Ambos são músicos
muito melódicos e técnicos e é muito interessante a forma como o som dos Ten se
tem desenvolvido desde a sua chegada. Agora temos os leads harmónicos da twin
guitar que sempre estiveram em falta e o som da banda é mais completo e
integral. Sem dúvida isso amplia o som para qualquer banda. Bandas como os Iron
Maiden fizeram-no em situações em que as três guitarras estão todas a tocar,
essencialmente o mesmo riff.
Funcionou bem com eles. Nos Ten é mais orquestral. Os nossos três guitarristas
tocam diferentes camadas, num registo melódico. Acho que funciona. Adiciona um
certo valor sinfónico à paisagem sonora.
Começando pela mudança de editora - quantos anos trabalhaste com a Frontiers Records? Porque esta mudança?
Estive com a Frontiers desde o nosso álbum ao vivo Never Say Goodbye de 1997. Tive uma relação muito produtiva com
Serafino, Mario e toda a equipa da Frontiers.
No entanto, como todas as coisas boas, chegou ao fim. Já não podia dar-me ao
luxo de fazer álbuns com os orçamentos que estavam a ser oferecidos, por isso
tive que procurar outro lugar para um novo começo para os Ten. Com a Rocktopia sinto-me como nos tempos da Now And Then Records. Proporcionaram-me
total controlo criativo e o orçamento para os Ten desta vez fez todas as coisas
possíveis. Penso que esta é a razão de ter sido tão produtivo desta vez. A Frontiers é uma grande editora, mas
tínhamos deixado de ser uma banda prioritária para eles, por isso estava na
altura de saltar fora. E mais uma vez os Ten encontraram-se a ser o primeiro lançamento
doutra editora. Se se mantiver a sua declaração de ethos e missão atual, tenho a certeza de que a Rocktopia Records será uma opção viável para as bandas europeias
nos próximos anos.
Albion é o primeiro de dois álbuns para a Rocktopia. O segundo está agendado para
2015. Será como uma continuação?
Sim, mais ou menos. O que
aconteceu foi que me encontrei numa situação não muito diferente daquela no
início dos Ten, onde 24 músicas se tornaram Ten
e Name Of The Rose. Desta vez,
gravamos 22 faixas e fomos incapazes de escolher, por isso simplesmente
decidimos (como fizemos na altura) dividi-las em duas versões separadas. As
músicas em Albion foram escolhidas,
não porque sejam mais fortes do que as outras, mas porque ficavam bem juntas
como uma coleção. A segunda metade deste lote específico é tão forte e promete
ser um acompanhamento digno de Albion.
Albion também é visto como um regresso às
origens dos Ten. Foi tua intenção ou simplesmente aconteceu?
É realmente um retorno às
essências puras dos Ten. Na realidade, simplesmente desenvolvemos cada canção
sem preconcepção de estilo ou profundidade. Acredita em mim, se para uma destas
canções fosse necessário um tom sinfónico teria. Esta coleção de canções
aguenta-se apenas em guitarra acústica e voz. Isso para mim é a verdadeira
marca de uma boa música.
Quando sentiste necessidade de incluir um terceiro guitarrista?
A situação surgiu porque não
conseguia escolher entre Dan e Steve durante as audições. Realmente gostei de
elementos de ambos e gostava de poder contar com ambos os estilos para fazer
novos registos mais dinâmicos. Além disso, a música dos Ten tem muitas camadas
e texturas que, quando tocamos ao vivo, temos de deixar de fora alguma coisa.
Com três guitarristas podemos fazer muito mais particularmente nas partes
harmónicas, mantendo uma seção rítmica com energia. É cedo ainda, mas a julgar
pela forma como correram as coisas no Firefest,
as coisas estão a funcionar bastante bem.
Achas que este é o teu melhor álbum até agora?
Essa é uma pergunta muito difícil
de responder, logo após terminar um projeto. Sei que Albion é um disco muito forte e estou imensamente orgulhoso de
todos os nossos esforços. O que posso dizer é que tenho escutado os fãs ao
longo dos últimos dois anos. Eles estão muito próximos sobre o que gostam no
som Ten e o que eles gostariam de ouvir de nós. Com esta coleção de material
sinto que realmente tentei atender aos seus desejos.
Qual é o significado do título Albion?
Albion é o mais antigo
nome registado das Ilhas Britânicas, que remonta ao tempo da Rainha Boadicia. O
Guerreiro Cheiftan é famoso por lutar contra os romanos. A canção narra a
véspera dessa batalha. Os pensamentos dos homens ao redor das fogueiras e as
suas orações de guerra aos seus deuses pagãos.
As reviews têm-vos atribuído
altas pontuações. Parabéns. Os objetivos para este álbum foram totalmente
alcançados?
Estou muito satisfeito com o
álbum e com as reações iniciais que têm sido muito positivas. É sempre difícil
quando preparo um novo conjunto de material para um lançamento. É um pouco como
ter um protótipo de um carro na oficina. Nunca tenho certeza do que vai
acontecer quando ligar a ignição.
Tens duas canções baseadas em livros. Como surge essa ligação entre a
música e a literatura?
Alone In The
Tonight Dark é baseado no livro de Emily Bronte Wuthering
Heights. A ideia é de um personagem estilo Heathcliff,
que percorre o jardim do cemitério dos mortos-vivos durante séculos lamentando
o seu amor perdido. A Smuggler’s Tale
é exatamente isso. Baseado no livro de Daphne Du Maurier, Jamaica Inn. Narra a história de um navio que naufraga nas rochas
durante uma tempestade. Os contrabandistas solicitam a sua generosidade e
concussão para os sobreviventes.
E uma balada (belíssima, deixa-me dizer-te!) com algumas partes cantadas em
italiano. Como surgiu esta ideia? Quem trabalhou a língua italiana?
Cada vez que escrevo uma música
procuro sempre um ângulo diferente. Nenhum compositor se quer repetir e, numa
balada, é muito mais difícil. Uma canção de amor é uma canção de amor. No
início deste ano apanhei um concerto Boccelli na TV e lembro-me ter pensado
quão bem soa o italiano como língua! É universalmente reconhecida como a
linguagem do amor e pensei que seria bom fazer uma canção com um coro
universal, cantada num idioma diferente. Gostei da experiência. Sei que, da
minha parte, o italiano não parece totalmente natural, mas espero que se tenha
feito alguma justiça.
Estão a trabalhar em alguma tour
ou aparições em festivais?
Sim, de fato. Esperamos tocar
extensivamente na Europa, visitando tantos lugares quanto pudermos com este
novo line-up. Também planeamos
regressar, finalmente, ao Japão para tocar neste país pela primeira vez desde
2003. Estaremos em tournée com o novo
material, mas também com uma seleção de aniversário de canções que abrangem a
história da banda. Há também conversas no sentido dos Ten fazerem alguns shows específicos tocando a totalidade
de álbuns seleccionados para celebrar este marco de 20 anos. Estejam atentos…
Obrigado Gary! Foi um prazer poder fazer esta entrevista. Queres
acrescentar mais alguma coisa?
O prazer foi meu, como sempre! Os
teus leitores e fãs devem lembrar-se de que eles são o mais importante em tudo
isto. Albion é um álbum para os fãs e
espero que eles gostam da nossa humilde oferta. Estou ansioso por ver muitos de
vocês na próxima tournée para o ano. Até lá fiquem bem! Tudo de bom!
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