Entrevista: Waterland

As coisas não têm corrido bem aos Waterland. Diversas mudanças na sua formação e uma editora que tem tido problemas com os distribuidores estiveram na base do atraso do lançamento de Our Nation. Felizmente que a qualidade demonstrada pelo coletivo não tem sido afetada e, em boa hora, os barcelenses resolveram deitar mãos à obra e colocar cá fora o seu terceiro trabalho para evitar mais demoras. O resultado é o esperado em termos de qualidade mas inesperado em termos de algumas orientações estilísticas. Um passo em frente para criar, na opinião do mentor do projeto, Miguel Gomes, o melhor disco dos Waterland.

Olá Miguel! Finalmente o regresso dos Waterland. O que se passou no seio do coletivo durante este últimos quatro anos?
Olá Pedro! Bem, durante este tempo estivemos sempre no ativo. Depois da saída do álbum Virtual Time em 2010, houve várias mudanças de formação, demos alguns concertos e começamos a gravar o Our Nation em abril de 2012. Durante 2 anos estivemos a gravar este álbum de forma a estar como pretendíamos. Desde então temos estado a divulgar e a promover gradualmente este álbum que deveria ter saído em meados de 2014.
 
Sei que houve algumas alterações de line up. Estiveram na origem deste intervalo de tempo sem trabalhos gravados?
Em parte sim. Tivemos que reajustar a formação algumas vezes, com a saída dos vocalistas Marco e Bruno em 2010 começamos uma nova fase com várias alterações de line-up que se prologaram ate meados de 2013. Alguns vocalistas deixaram a sua marca na banda como Belisa Campinho que gravou o Our Nation e de Paulo Loureiro que após a sua saída da banda continua no entanto a dar a voz nos álbuns de Waterland, sendo uma colaboração importante. Em meados de 2013 entrou o Paulo Pires, mais tarde com a saída de Tiago Alexandre (baixo) entrou o Ivan ainda em 2013 e já em finais de Ffvereiro de 2014 com a entrada da Miriam Dias a formação ficou completa.  

E tiveram algo a ver com o atraso do lançamento de Our Nation? Supostamente era para sair ainda em 2014, não era? O que aconteceu?
Sim, o álbum deveria ter saído em finais de junho de 2014. Temos um contrato de pareceria e edição do álbum com a Ice Warriro Records, que se comprometeu a fazer o lançamento mundial do álbum, só que a editora passa neste momento por uma fase complicada de reestruturação essencialmente com as distribuidoras que complicaram bastante o lançamento do álbum. Tivemos a luz verde deles para anteciparmos o lançamento do álbum de forma a não estarmos parados e poder dar inicio à sua divulgação principalmente em Portugal.  Há, no entanto, contactos na procura do álbum principalmente vindos do Japão, é algo que não conseguimos evitar. No entanto aguardamos uma decisão da parte deles para que seja feita uma edição internacional. 

Falando do que interessa, que é o novo álbum, como foi o processo de composição e gravação desta vez?
O processo de composição é o mesmo dos álbuns anteriores. Todos os álbuns de Waterland são estruturados da mesma forma. Apesar da sonoridade ter algumas diferenças, a forma de composição é sempre a mesma. O álbum foi inicialmente reorganizado com um misto de composição via instrumento e pelo recurso de programas de composição e arranjos. Após a gravação de uma demo de todo o álbum começamos o processo de gravação gradual e natural que é usado. Durante os 2 anos de gravação demos bastante relevo à gravação das vozes, onde tivemos bastantes convidados que deram o seu contributo. Foram usadas para cima de 150 pistas na gravação de vozes com dobragens, harmonias, coros e outras vozes que foram minuciosamente estudadas para cada parte. O Our Nation é um álbum de estúdio e com bastantes arranjos o que o tornou longo no processo de gravação mas ao mesmo tempo ficamos contentes com o resultado.

Porque Our Nation? Um álbum nacionalista ou histórico, levando em linha de conta a imagem de capa?
O Our Nation é basicamente mais um capítulo da história de Waterland, mais uma fase da história que pretendemos demonstrar. No entanto há analogias que criamos para retratar um pouco o dualismo entre a fantasia e aquilo que vivemos presencialmente. É um fator que sempre existiu, uma conotação com o nosso povo, com a nossa história, as nossas raízes e o presente. O Our Nation é um álbum que tem uma analogia lusitana que mostra a luta e o sacrifício quer do presente quer do passado. Embora hoje em dia as lutas sejam outras, não deixa de ser uma analogia contemporânea aos valores da sociedade. No próximo álbum de Waterland serão mais evidentes algumas analogias que quisemos criar em relação a pessoas, factos, acontecimentos que decorreram, e isso  vai estar presente no próximo álbum, e também alguma sátira.

Musicalmente notam-se algumas diferenças. Deixaste quase de lado as tendências mais techo e entras nos guturais. Como surgiu isso?
Acho que de álbum para álbum há sempre algo que vai surgindo e alterando um pouco os padrões anteriores. O primeiro é um pouco mais sinfónico e bastante melódico, o Virtual Time com sonoridades com elementos baseados numa mistura de metal melódico com algum techo e sintetizadores eletrónicos ao mesmo tempo com músicas bastante rápidas. O Our Nation é sem dúvida o mais completo e eclético. Sem criar tanto exagero nas orquestras do primeiro álbum e nos sintetizadores do segundo, tentamos equilibrar um pouco mais as coisas. Queríamos um álbum que fosse mais maduro e completo. Trabalhamos bastante as linhas de voz para que saísse de acordo com o idealizado. As músicas não são tão rápidas mas são mais intensas havendo alguns temas mais pesados algo que ainda não tinha sido feito. As guturais aparecem como um complemento da história que por si só exigia algo mais dark para simbolizar alguns momentos. Creio que tornaram as músicas ainda com mais variedade e havendo uma diferenciação entre cada uma delas. Quem ouvir o cd vai notar isso e esse foi o objetivo. Acho que este é de longe o melhor álbum de Waterland.

E volta a haver algum conceito? Os temas estão ou não interligados?
O conceito haverá sempre Waterland não faz sentido sem a história que levou tudo isto a acontecer. Cada música é um capítulo de toda a história que já vem do 1º álbum. Toda a história de Waterland. No fim de serem gravados todos os álbuns, será feito um livro com toda a história sobre Waterland para colmatar um percurso que começou em 2008. Haverá sempre um elo de ligação de música para música e de álbum para álbum. 

Pelo que já percebi, desta vez, não é um trabalho independente…
Neste momento estamos vinculados à Ice Warrior Records. Houve alguns problemas com a distribuidora deles que fez com que os lançamentos que tinham previsto fossem adiados. Tivemos de adiantar o lançamento do álbum por nossa conta para não estarmos parados e foi quando decidimos fazer um pré-lançamento do álbum de edição de autor. 

Já tiveram oportunidade de apresentar estes novos temas ao vivo? Estão a resultar bem?
Sim, Desde o início de 2014 que temos vindo a apresentar ao vivo o novo álbum. Escolhemos alguns temas que achamos serem capazes de ser apresentados da mesma forma que foram gravados, o que não é fácil devido à quantidade de vozes e alguns instrumentos sinfónicos que foram usados na gravação do Our Nation. No entanto a resposta do público tem sido positiva.

Já há vídeos retirados deste trabalho?
Sim, temos 2 vídeos online neste momento no nosso canal do youtube retirados do novo álbum, a  Destiny III e a Fire Burning. Em breve vamos lançar um terceiro vídeo que gravamos em outubro do tema Until The End. Iremos também brevemente colocar alguns vídeos ao vivo de concertos que foram realizados e que futuramente serão apresentados.

Quanto ao futuro, quais os próximos projetos que têm em vista?
Gostávamos de poder tocar mais, ter mais visibilidade mais oportunidades e continuar a fazer aquilo que mais gostamos que é música. Gravar, tocar conviver...

A terminar – queres deixar alguma mensagem?
Gostaríamos de agradecer todo o apoio que temos tido, a todos um muito obrigado - sem dúvida um grande suporte a tudo isto que tem vindo a ser feito até aqui.  Muito obrigado ao Via Nocturna por esta oportunidade dos Waterland em se dar a conhecer mais um pouco. 

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