Jim Alfredson
é um famoso teclista associado ao movimento jazz
que resolveu iniciar um novo projeto a solo mais orientado para o rock progressivo. Theo, inspirado pelos Yes,
ELP, King Crimson, Pink Floyd e Genesis deu a conhecer o lado progressivo do
maior executante de Hammond da
atualidade. The Game Of Ouroboros
demorou três anos a ficar completo mas valeu bem a pena. Jim Alfredson explica
a génese desta nova banda e o seu lento desenvolvimento entre uma enorme
quantidade de outros projetos em ação.
Olá Jim! Em primeiro
lugar, obrigado pela tua disponibilidade. Em segundo lugar, quando surgiu esta
ideia de gravar um álbum de rock progressivo?
Tudo começou de forma muito orgânica como
uma extensão da música ambiente/eletrónica que estava a escrever. Depois do
falecimento do meu pai em 2008, revisitei alguma música com a qual cresci,
incluindo os primórdios da música eletrónica (Tangerine Dream, Wendy Carlos,
Tomita, Vangelis, etc.) e as grandes bandas progressivas dos anos 70 (Genesis,
ELP, Yes, Gentle Giant, King Crimson, Pink Floyd, etc.). Ouvir de novo essa música
inspirou-me a afastar-me do jazz, que
tinha consumido a minha vida musical, nos últimos 16 anos e a procurar outras
formas de música. Lancei um álbum de música eletrónica dedicado ao meu pai e à minha
falecida mãe (que morreu em 1997) chamado In
Memorandom em 2009. Como já tinha começado a trabalhar num novo álbum desse
tipo de música, comecei a escrever letras e a música rapidamente tornou-se mais
e mais progressiva. A outra inspiração surgiu do trabalho que estava a fazer
com o baixista Gary Davenport nos Janiva Magness. Ele é um grande fã de prog e tocou nos 805 Band, um grupo
muito popular na Costa Leste no final de 1980/início de 1990 que tocavam Genesis
e também fizeram a sua própria música progressiva. Como toquei com ele alguns fragmentos
do que estava a trabalhar, a sua excitação incentivou-me a continuar.
Demoraste três
anos até o álbum ficar completo. O facto de teres andado em tournée com Janiva Magness foi a causa
principal?
Sim, essa foi a principal razão porque
demorou tanto tempo para ser concluído. Andei em tournée com a banda durante quatro anos o que me levou para bem longe
de casa durante meses a fio em cada ano. Quando regressava a casa, teria que voltar
à afinação de pianos (a minha outra principal fonte de rendimentos) e espetáculos
locais com artistas de Jazz e Blues, incluindo a minha própria banda,
Organissimo. E também tinha as obrigações familiares com três filhas e uma
esposa para cuidar e poder estar algum tempo com elas. Durante algum tempo, também
não soube exatamente aonde queria ir com a música. Por isso demorou algum tempo
para desenvolver os temas líricos.
Mas, tiveste tempo
suficiente para trabalhar em todos os detalhes, certo?
Certamente, apesar de muitos detalhes
de conexão, como a voz de telefone e efeitos sonoros, terem sido adicionados apenas
no final do processo depois de ouvir o álbum como um todo e perceber que
precisava de alguma continuidade.
Definitivamente
não páras! Ao mesmo tempo também um disco com outra banda tua, os Dirty
Fingers. Todos os projetos são diferentes, mas pergunto-te se são compatíveis
no que diz respeito ao tempo e agenda?
A base para os Dirty Fingers foi o
meu desejo de tocar e gravar com o baterista Randy Gelispie. Randy é um dos
melhores bateristas de jazz vivo e a sua
carreira dura há cinco décadas. Ele tocou com alguns dos mestres do Hammond do jazz. Na realidade, era apenas um projeto para mim, uma desculpa
para contratar Randy. Fizemos toda a gravação em três dias. Foi uma das sessões
mais divertidas que já tive o prazer de fazer. Na mesma altura, também gravei e
lancei um álbum com os Organissimo (Dedicated)
e estive envolvido no processo de gravação, produção e escrita para o terceiro álbum
de Greg Nagy (Stranded). Por isso,
foi um desafio arranjar tempo para trabalhar em THEO.
Concentremo-nos
agora em The Game Of Ouroboros. Qual
o significado deste título?
Os ouroboros são uma serpente que come
a própria cauda. Normalmente é representado como um símbolo do renascimento,
mas estou a usá-lo como um símbolo de insustentabilidade. Acho que o curso
atual da civilização ocidental não é viável a longo prazo, a menos que mudanças
drásticas sejam feitas no nosso sistema económico e na maneira como tratamos o
meio ambiente, os nossos recursos naturais e uns aos outros. Parece-me que a
maior parte dos políticos e líderes mundiais são surdos e contentam-se em
apenas em continuar "o jogo".
Assim sendo,
parece haver uma linha condutora através de todo o álbum. É verdade? Trata-se
de um álbum conceitual?
Sim e não. As três primeiras músicas
são uma suíte e têm, definitivamente,
a intenção de ter um único conceito. As três últimas não estão diretamente
ligados, mas existem tópicos líricos indiretos. Embora a última canção, Exile, possa ser considerada como parte
da suíte.
És conhecido
como um dos melhores executantes de Hammond
da atualidade. É por isso que este álbum tem um grande input de órgão?
Inicialmente queria ficar longe do
órgão neste disco, mas tem um som tão grande e uma história tão célebre na música
progressiva que não poderia ficar longe dele! Absolutamente amo o som de órgão
de Tony Kaye no álbum The Yes e a
forma como Tony Banks usou o órgão para preencher os espaços nos Genesis. Essas
foram as minhas duas maiores inspirações para este álbum.
No entanto, para
além desses sons analógicos, incluis também algumas tecnologias modernas. Como fizeste
para conseguir esse equilíbrio?
Eu não queria que o álbum fosse um total
retrocesso até à década de 1970, em termos de instrumentação. Logo no início tomei
a decisão de não usar o som do Mellotron,
por exemplo... Embora esteja lá um pouco, misturado nas camadas de cordas e
coros. Gosto muito de conduzir sons analógicos, mas muitos dos leads também estão em camadas com
modernos sintetizadores plug-in (como
Steinberg’s Retrologue), para obter o
melhor dos dois mundos - a lisura do analógico e do poder de corte do digital. Os
sintetizadores digitais tornaram-se tão incrivelmente poderosos nos últimos
anos, especialmente os sintetizadores de software,
que realmente podes fazer o que quiseres. O sintetizador de hardware mais prevalente no álbum é a
minha Alesis Andromeda A6 que é um
sintetizador analógico de 16 vozes. É um som enorme, grosso e bonito. O
sintetizador de software mais
prevalente é o Camel Audio’s Alchemy,
que é puro, limpo e cheio. Os dois trabalham muito bem juntos.
Quem toca
contigo neste álbum? Já tinhas trabalhado com eles antes?
Como já referi, Gary Davenport é o
baixista nos Janiva Magness, por isso conhecemo-nos muito bem depois de estarmos
presos numa carrinha ao longo de todos os EUA durante quatro anos. Trabalhei e
gravei com o baterista Kevin Depree anteriormente na banda de Greg Nagy. E o
guitarrista Jake Reichbart é um guitarrista de jazz muito conhecido em Michigan e já tínhamos feito alguns shows juntos no passado. O guitarrista convidado,
Zach Zunis, também das bandas de Janiva Magness e Greg Nagy é um querido amigo
que estava nos Root Doctor comigo e agora tem a sua própria carreira a solo.
E agora,
falando do futuro o que tens em mente para os próximos tempos? Algum outro
projeto diferente?
Atualmente estou a trabalhar num
outro álbum de electrónica/ambient que será oferecido num CD normal, bem como num
DVD ou Blu-Ray 5.1 surround. Estamos
também em fase de pré-produção de um novo álbum de Organissimo com o nosso novo
guitarrista Lawrence Barris. E já estou a juntar motivos musicais e ideias para
o próximo THEO. Agora tenho que decidir sobre que tema haverei de escrever.
Muito
obrigado Jim. Foi um prazer fazer esta entrevista. Queres acrescentar mais
alguma coisa?
Obrigado! Estou encantado e humilhado
pela resposta que THEO gerou entre os fãs de rock progressivo. Isso inspirou-me a continuar, para continuar a crescer
e tentar outro!
Photo
credits:
Jim's Photo 1 –
Corrina Van Hamlin
Jim's Photo 2 –
Jessica D. Cowles
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