A sua
alma está envolta numa áurea de blues.
Mas nem sempre o blues o tem
acompanhado nos mais diversos projetos por onde tem passado. Agora chegou a
altura de soltar toda essa magia e deixar que a sua alma falasse por ele.
Falamos de Marco António, atualmente nos punk
rockers Chapa Zero e que ao mesmo tempo abraça o seu mais pessoal projeto
até à data: Marco Antonio Blues Abuse, onde, como o nome deixa bem evidente, se
envolve nos blues até às entranhas.
Olá
Marco! Tudo bem? Para começar podes falar um pouco do teu percurso musical até
agora, sendo que, no global, é substancialmente diferente do que apresentas
agora…
Olá Pedro. Antes de mais, obrigado pela
oportunidade de conversarmos um pouco sobre este "monstrinho". O meu
percurso musical enquanto "praticante do ofício" inicia-se nos
princípios dos anos 90 com dois amigos (o Filipe e o Sérgio) numa banda chamada
Speeds Of Ineck. Foi com essa banda
que tive o meu "baptismo de fogo", i.e. o primeiro concerto, tinha eu
15 anos. Tocávamos (dizíamos nós) Heavy
Blues, e já nessa altura havia a ânsia de fazer "este" som, ou
algo parecido. Numa entrevista para um jornal da escola afirmámos que a nossa
intenção era "misturar B.B. King com Megadeth". Só mais tarde
caminhámos para o lado mais Heavy e
"alternativo" e os Blues
foram ficando um bocado para trás nas bandas onde fiz a minha aprendizagem. E
foram muitas, mas por alguma razão, havia sempre qualquer coisa que falhava
para se dar o salto: dinheiro, vontade, trabalho, essas coisas; e a dada altura
dediquei-me também a um projeto totalmente diferente - uma tuna académica,
neste caso a Inoportuna, com a qual
escrevi e gravei um álbum e onde verdadeiramente ganhei a minha "rodagem" em palco.
Depois disso, andei um pouco à deriva até decidir fundar os Hëllfyre em 2008 - com o Filipe e mais
dois amigos, o Luís e o André. E depois vieram os Uncle Albert (que até
hoje não percebo porque é que terminaram) que me trouxeram até aos Chapa Zero. É basicamente isso.
Por via
disso, quando decidiste que querias fazer um disco desta natureza?
Pela resposta anterior podem deduzir que os Blues são uma paixão de miúdo; apesar de
gostar de diferentes géneros (não muitos...) de música, os Blues - elétricos ou acústicos - fazem parte do meu ADN musical,
por assim dizer. Sempre tive o desejo de tocar este género de música e mesmo
nos meus projetos anteriores a influência é inegável, se prestarem atenção.
Decidi avançar com este trabalho quando os Chapa
Zero se encontravam numa fase de
adaptação, pois tinha entrado um novo (E EXCELENTE) baterista, o Nuno Amaro. Após
poucas semanas de ensaio, decidi convidar o Nuno para fazer isto comigo pois
precisava de um baterista "para ontem" e queria gravar o mais
depressa possível; as respostas à gravação de um simples ensaio foram muito
além das minhas expetativas e o que começou por ser uma sessão de estúdio apenas
para eu ver como é que me saía a tocar e a cantar isto, acabou como um EP (Gunslinger Blues) produzido e mixado
pelo Senhor Emanuel Ramalho.
E já que
falamos desta natureza, convém esclarecer os nossos leitores a que “natureza” nos
referimos. Como descreves este teu EP?
É um disco que tenta homenagear este género de
música, não imitando o que veio antes. Os meus Blues não são os do Skip, do Son, do BB ou do Muddy. São os meus Blues. Penso no disco como uma
gravação que podia ter sido feita nos anos 20, 30 ou 40, mas com acesso às
tecnologias mais modernas. E com modernas quero dizer guitarras elétricas,
amplificadores e pedais de efeitos. E claro, como é óbvio, tenho outras
influências fora dos Blues- Sabbath,
Hendrix, MC5, Motörhead, Ramones, Sleep, etc, etc. Gostem ou ponham de lado. Há
espaço para tudo.
Este é um
disco feito totalmente em solitário ou não?
No que toca à autoria dos temas, sim, sou o autor
´"solitário" das músicas e letras. Mas cada um dos bateristas que
gravou comigo trouxe o seu "estilo" e isso fica marcado em cada
canção.
O Emanuel
Ramalho participa na bateria em dois temas. Porque apenas em dois temas?
O Nuno foi a primeira pessoa com quem falei para
gravar, só depois de os 3 primeiros temas estarem "arrumadinhos" é
que surgiu a oportunidade de gravar mais. Daí a ter convidado o Emanuel foi um
salto. É uma Honra Enorme estar num disco com este cavalheiro. Não me canso de
o repetir.
E pode
ser considerado como o teu projeto mais pessoal até agora?
Sem sombra de dúvida. Isto sou "Eu em versão
CD".
Como foi
todo o processo de composição e gravação?
Muito rápido e fácil. As 3 primeiras músicas
apareceram "do nada" numa semana e o resto já eram coisas com as
quais eu andava a "brincar" há anos. Quando o "processo exterior
à música" se demorou mais um pouco e surgiu a oportunidade de gravar mais
3 temas, foi tudo muito rápido, novamente.
A capa do
EP está espetacular. Parabéns! Quem foi o autor? Conseguiu captar toda a
envolvência do disco…
O nome dele é Josh Deck (@grendeljd), um amigo
canadiano. A ideia vinha de um conceito (o MAC-77) que eu tinha para uma BD
"a escrever um dia", e ele genialmente transformou isso naquilo que
podem ver. Acho que está absolutamente brutal, mas se calhar sou suspeito...
E agora,
Marco… O que se segue quer em termos de MABA quer de Chapa Zero?
Os Chapa
Zero encontram-se de momento a acabar o segundo disco, que está
praticamente escrito. É uma questão de aguardarem. Pelas reações que vamos
tendo estamos a escrever os nossos melhores temas, por isso esperem só mais um
pouco. Nós não desistimos. Quanto aos Blues
Abuse ou MABA (conforme
preferirem) tenho muito material "à espera" para ser escrito, e os
próximos tempos ditarão o andar da carruagem. Por enquanto, não posso dizer
mais.
Mais uma
vez obrigado! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Aos leitores do Via Nocturna: Obrigado por me
emprestarem a vossa atenção e os vossos ouvidos. Ouçam Blues a sério e descubram a magia de
senhores como Robert Johnson, Albert King, Willie Dixon, Charlie Patton, Big
Bill Broonzy, Blind Willie Johnson, Son House, Skip James, Freddy King, Muddy
Waters, Bukka White, Howlin' Wolf, John Lee Hooker, Lightnin' Hopkins, BB King,
etc, etc, etc. E respeitem-se uns aos outros.
Grande feeling presente no que eu conheço desse trabalho. Sucesso é o que eu desejo ao Marco e aguardo ansioso por "ouver" isso em palco.
ResponderEliminarFelicidades para os fazedores do "Via Nocturna"... serão sempre poucos todos os que de alguma maneira apoiam a música nacional alternativa.