Entrevista: Virgin Steele


Figura inigualável do cenário heavy metal internacional, amado por uns, odiado por outros, tem sabido manter os seus Virgin Steele numa rota única de criatividade, intensidade e sucesso. Falamos, claro, de David DeFeis, o vocalista que vive no limite, o compositor único no seu estilo de cruzar sentimentos bárbaros e românticos. Para nós foi uma honra o espaço que David nos concedeu para falarmos de Nocturnes Of Hellfire & Damnation, o mais recente trabalho do coletivo.

Olá David! Como estás? Obrigada pela tua disponibilidade.
Saudações! Estou bem, obrigado!

A primeira questão é: o que andaste a fazer nos últimos 5 anos?
Ao longo deste período de cinco anos fizemos o seguinte: assinamos com a SPV, em 2010 e como eles queriam começar o relançamento de todo o catálogo dos Virgin Steele, comecei a ordenar as várias obras, remasterizar faixas e a planear, escrever e gravar novas músicas para colocar em cada reedição. Se verificares, já temos já alguns álbuns reeditados pela SPV, até agora, nomeadamente Noble Savage, Age Of Consent, Life Among The Ruins, The Marriage Of Heaven & Hell Part 1, The Marriage Of Heaven And Hell Part 2 e Invictus e vais notar que cada álbum contém numerosas faixas bónus, e a maioria também contêm um segundo disco. Tudo que é material acrescentado dá pelo menos para um novo álbum dentro do antigo. Naturalmente, esse trabalho levou bastante tempo a preparar. Além disso, durante os últimos 5 anos tocamos muito ao vivo e também começamos a trabalhar num DVD e na criação de uma box set. Esses dois últimos projetos que mencionei foram colocados em banho-maria porque a SPV queria um novo álbum... e uma vez que eles pediram mergulhamos diretos no novo álbum Nocturnes que surgiu muito rapidamente. Para além do que eu acabei de mencionar, uma grande quantidade de composição e gravação do que serão os próximos dois álbuns dos Virgin Steele já está adiantada. Portanto, temos estado muito ativos. Ah sim, também estamos a preparar as partes visuais para alguns vídeos a lançar no próximo mês.

Durante quanto tempo trabalharam neste álbum?
Certamente não nos levou 5 anos para gravar o álbum Nocturnes. Desde que começamos demorou apenas cerca de 6 meses com tudo. Acabamos com 29 canções, mas poderíamos facilmente ter lançado ainda mais faixas. O trabalho fluiu muito bem e naturalmente. Eu gostava mesmo de fazer este álbum.

É um álbum conceptual ou não?
Não, não é um álbum conceitual com um enredo linear que tens de seguir do ponto A ao ponto Z, como era The House Of Atreus. É mais uma coleção de canções que funcionam muito bem juntas tanto musical como atmosfericamente e que têm uma ligação através de uma linha que liga e suporta a maioria das faixas. Em grande parte o álbum lida com problemas de relacionamento e com o que acontece quando uma pessoa entra em contato com a viagem, estilo de vida, química, esfera, personalidade, aura, esse tipo de coisas de outra pessoa. Também aborda as ligações que temos com nós mesmos, todos os nossos amores e ódios, os nossos desejos, paixões e obsessões. Por falar em obsessões, por exemplo, o tema Glamour à primeira vista, podes dizer: "oh, é sobre uma mulher, uma rapariga, algum relacionamento que ele tem ou teve”. E sim, certamente é, mas se observares melhor verás que também pode ser sobre a música e a minha relação com ela e o que ela tem feito por mim para mim. O bom, o mau e o feio. Para além do que acabei de mencionar, o álbum também é sobre conexões entre entidades, como em todos os tipos de seres, não necessariamente os seres humanos, mas coisas como Deuses & Deusas. Por exemplo, Persephone fala da relação entre Hades e Perséfone e o ciclo da violação - a sua mãe Deméter foi violada por Poseidon, irmão de Hades. E temos a relação entre Apollo e Cassandra na canção Devilhead... que não resultou muito bem para Cassandra. Mas, para ser breve, o álbum é principalmente sobre conexões entre as pessoas. Pessoas e os seus vários sistemas de crenças, as pessoas e os seus Deuses ou Deusas. Mas não me refiro apenas à sua espiritualidade, mas aos seus profundos desejos obscuros e de novo as... obsessões. As pessoas e as suas filosofias de vida e também as várias substâncias químicas ou outras que injetamos nos nossos rituais diários e noturnos. Em suma, é sobre todas as complexidades do que nos dirige, nos faz ser quem somos e quem não somos, nos leva para onde podemos... ou não estar indo. Para resumir este álbum é sobre a noite escura da alma e todas as várias maneiras pelas quais nós, humanos, nos embaraçamos a nós mesmos ou nos destruímos a nós mesmos...

Importas-te de nos explicar o significado deste título obscuro Nocturnes Of Hellfire & Damnation?
Claro, com todo o prazer. Um Noturno é uma peça ou canção noturna e são canções obscuras, cheias de fogo do inferno, lamentos e gritos. Lamentos e The Torture Of The Damned. Assim, o título do álbum abrange essencialmente toda a vibração desta obra. Este título retrata o álbum da mesma forma que os títulos Noble Savage e Age Of Consent retratavam cada uma dessas obras. O título oferece uma estrutura do tecido conjuntivo, mas cada música é realmente a sua própria coisa única. A mensagem geral é... cuidado ...

Parece que este disco é mais pesado e obscuro em vez do teu mais habitual registo bárbaro-romântico. Foi uma decisão consciente? É este o álbum que sentias que tinhas que fazer neste momento?
Era isso o que estava a acontecer dentro de nós, dentro de mim e era onde estávamos durante a realização do álbum. Nocturnes é um álbum muito pessoal. Liricamente o álbum está intimamente relacionado com o meu mundo, a forma louca como vivo, as pessoas com quem me relaciono, o vinho, as mulheres. A inspiração vem da forma como vivo! Sim, como disse há aqui coisas muito pessoais embora as expresse de uma forma que seja universal para que qualquer pessoa possa ver-se nas canções e relacionar-se com elas. Cada ouvinte vai ter uma interpretação diferente a respeito do significado de cada canção. Não vão, necessariamente, interpretar as músicas da mesma forma que eu, porque não estão a par das idas e vindas do meu mundo, mas seguramente irão relacionar-se e encontrar o seu próprio caminho nestas músicas, que é o que eu prefiro. Adoro a tentativa de fundir Poesia e Música. Estou sempre a escrever poemas, letras, pequenas histórias e tal... Musicalmente falando, Nocturnes toca um pouco em vários estilos dos nossos álbuns anteriores mas também oferece algo novo em termos de direção musical. Acho que poderás dizer que nós tocamos com base em tudo o que temos feito e, ao mesmo tempo, seguimos em frente para uma próxima época. Falando do novo, o álbum contém esse novo elemento que foi rastejando na minha escrita e que eu chamo de Gothic Blues. Portanto, acredito que ainda estamos a avançar e em desenvolvimento, o que para mim é muito importante.

Já que falas em blues, serão algo estranhos alguns momentos bluesy. Como surgem na tua música?
Não acho que seja estranho de todo. A música rock veio dos blues. Não existe aquele velho ditado que diz "Os blues tiveram um bebé e chamaram-no de Rock & Roll"? Se estudares o rock clássico vais encontrar bandas como os Black Sabbath, Led Zeppelin, etc. e todos vieram de uma base do blues. Adoro o blues e sempre quis tentar desenvolver esse estilo em algo maior e de âmbito mais alargado. A qualidade do blues sempre esteve presente nos Virgin Steele, embora nem sempre tão óbvio. Agora neste álbum e em algumas das faixas bónus que lançamos estes últimos anos, estão mais óbvios do que antes. Acho que é uma das qualidades que nos diferencia dos nossos pares e traz uma cor diferente aos sentimentos da nossa versão de Metal.

Olhando para trás na vossa carreira, chegaste a afirmar que este álbum poderia ter sido o seguimento de Noble Savage (1985). Por quê?
A respeito de qualquer tipo de conexão com esse álbum, o que eu quis dizer com isso foi que o Nocturnes tem a mesma urgência e agressão, o mesmo desespero e crueza ou selvageria que o Noble Savage tinha. E continuando, tive o mesmo sentimento de "eu devo ser balístico... Devo superar-me a mim mesmo em voz alta e de outra forma" que tive quando fizemos o álbum Noble Savage. Tal como no álbum Savage, as canções de Nocturnes são facilmente digeríveis numa primeira audição, embora tenham capacidade de proporcionar novas descobertas após cada nova audição, como se desenvolvessem e viajassem por outros lugares e em diferentes direções antes de voltar para casa para o pensamento original, que eu acredito que os faz ter substância e poder de permanência. Para ser breve, acho que a conexão é em grande parte devido ao sentido inerente de paixão e desespero que ambos os álbuns contêm e o suor cru e sensualidade que permeia as ranhuras.

Podes falar-nos e explicar-nos a ideia de criares três capas diferentes para o mesmo disco?
Claro. Especificamente, nós não definimos ter 3 capas. Isso desenvolveu-se ao longo do tempo. Sempre que estamos a fazer um álbum quero que a capa se ligue à música contida nesse álbum, isto para ser natural e orgânico com a minha vida, a nossa vida e, claro, para o trabalho... Olho sempre em redor de mim para ver se tenho alguma coisa que vá saltar para fora em mim e gritar "hey isto parece-se com a forma como o álbum soa". Fiz isso com o The House Of Atreus e descobri o escudo que compôs as capas de Act 1 e Act 2; fiz isso com Invictus e também com o Black Light Bacchanalia que, aliás, também tem 3 capas para 3 configurações diferentes. Mas de qualquer maneira como eu estava a dizer, ao olhar em volta do meu lugar nesse momento, os meus olhos pousaram numa gárgula... e os meus ouvidos ouviram instantaneamente Glamour, Persephone e The Plague & The Fire. Então peguei na gárgula, levei-a para fora e fotografei-a numa espécie de névoa outonal. Já tinha feito várias fotos da cena do inverno lá fora e também as queria usar. O nosso artista gráfico Jens Reinhold, tinha uma foto que ele tinha tirado de um "anjo" de pedra de um cemitério próximo de onde vive e combinou isso com a minha cena da neve do inverno. Adorei e também adorei a gárgula, (a minha ideia original). Portanto, pode obter-se um demónio ou um anjo e o outono, a árvore morta e triste e/ou o inverno com a cena da neve. Adicionalmente, uma vez que eu tinha explicado a Jens em que consistia o novo álbum, ele empenhou-se e sentiu-se inspirado para desenhar alguma coisa e com isso surgiu o "osso flauta". É apenas uma espécie de escalada... Estas capas captam a melancolia e o tormento das letras, bem como a atitude Barbára-romântica do grupo e refletem o clima... o essencial do que está a acontecer no disco...

Novo álbum... nova tournée, certo? O que está planeado para os próximos tempos?
Estamos a trabalhar nisso agora e quando as datas forem confirmadas, iremos publicá-las.

Muito obrigado David! Queres acrescentar mais alguma coisa?
O prazer é meu, Sir! Agradeço-te todas as tuas perguntas e desejo-te a ti, a todo o staff de Via Nocturna e a todos os teus leitores o melhor! Agradeço a todos pelo seu grande apoio e fé! Salve, saudações e BY THE BLACK SUN & MOON.

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