Entrevista: The Walks

Gonçalo Carvalheiro (baixo), Hélder Antunes (bateria), John Silva (voz), Miguel Martins (guitarra) e Nelson Matias (guitarra) cruzaram os seus caminhos em meados de setembro de 2012. Donos de um processo criativo relativamente fugaz fizeram a sua estreia em palco no Salão Brazil, no dia 6 de junho de 2013. Prezando o distanciamento a rótulos e a ideias preconcebidas, o grupo tem apostado fortemente nas suas prestações ao vivo, procurando dessa forma a criação de uma sonoridade própria e autêntica. O que em absoluto conseguem com o longa duração de estreia Fool’s Gold. O guitarrista Nelson Matias conta-nos tudo.

Olá Nelson! Os The Walks são um projeto jovem mas já com alguma experiência acumulada. Como tem sido a vossa vida desde o nascimento dos The Walks?
Olá. Não tem sido fácil. Todos nós trabalhamos e o tempo que conseguimos “amealhar” para a banda é pouco, face ao que gostaríamos. Bastas as vezes, temos situações em que estamos a sair do trabalho e a “correr” para um ensaio ou mesmo para um concerto e vice-versa. É preciso gostar do que se faz e, felizmente, esse é o sentimento que impera entre os elementos da banda. As coisas têm corrido bem, no nosso entender. Apesar das limitações, temos conseguido manter um trajeto de algum destaque na música portuguesa. Estamos a dar os primeiros passos e esse impacto poderá ser modesto mas, ainda assim, sentimos um certo orgulho com tudo aquilo que já conseguimos alcançar. Tentamos fazer sempre mais e melhor, aprendendo com os erros e crescendo como banda. É esse o objetivo primordial e, enquanto fizer sentido, será um esforço que estaremos dispostos a fazer.

E tem acontecido tudo muito rápido ou nem por isso?
Numa fase inicial, quando gravámos o EP de estreia R, o nosso crescimento foi substancial. O single Redefine integrou a Playlist de algumas rádios nacionais, com destaque na Antena 3 e isso possibilitou-nos tocar em palcos/eventos que até então nos pareciam difíceis de concretizar como é exemplo o Nos Alive ’14.

O que vos motivou a criarem este projeto?
A nossa vontade sempre foi fazer música. Quando nos juntámos, pela primeira vez, não pensámos em mais nada a não ser isso. Os concertos e os nossos trabalhos discográficos apareciam ainda longínquos no horizonte mas sempre em perspetiva. Felizmente, as coisas seguiram o seu decurso e pudemos dar esses passos importantes.

Qual foi o vosso percurso musical anterior? De que forma The Walks é o culminar dessa caminhada na música?
A grande maioria dos membros já tinha tido projetos anteriores, uns resultaram, outros nem por isso, no entanto, todos já tínhamos passado por uma experiência similar. A excepção foi o John (vocalista), que compunha música em casa e que nunca tinha tido uma experiência musical fora da “sala”. Naturalmente, tudo na nossa vida nos influencia, de uma forma ou de outra. Tudo serve para aprendermos e, consequentemente, para melhorarmos. As experiências, acumuladas em projetos musicais anteriores, trouxeram outra maturidade e um olhar crítico mais refinado na abordagem a este novo projeto. Não achamos que haja, necessariamente, um culminar. Continuamos a aprender e a tentar crescer. Até onde? Veremos.

Eu sei que preferem o distanciamento a rótulos e a ideias preconcebidas. Mas, se houvesse uma forma de se descreverem a vocês próprios, como o fariam?
Acima de tudo, somos um grupo de amigos com pontos de interesse diferentes mas com ambições musicais comuns. E é precisamente essa diferença que acrescenta algo novo ao projeto, que dá unidade à nossa música, no nosso ponto de vista. 
 
E no que diz respeito a influências? Há alguma coisa que mais vos tenha influenciado?
Todos nós gostamos muito de música e cada um de nós gosta e ouve coisas em comum mas também temos gostos musicais diferentes. Claro que inicialmente partimos de uma base para encontrarmos a nossa sonoridade. Na nossa música podemos encontrar traços de garage rock, o groove dos rhythm and blues e até traços de british beat dos anos 60 e do britpop dos anos 90. De uma forma global, são essas as influências que, nesta fase, determinamos como ponto de partida. O resto é seguir para onde a criatividade nos leva e há sempre muito terreno para explorar.

Como decorreu o processo de composição e gravação de Fool’s Gold?
Fool’s Gold é o reflexo do trabalho criativo da banda desde o início até à fase de gravação do disco. A Holding On foi um tema que compusemos no nosso primeiro ensaio. Esse foi o grande desafio que tivemos na gravação/produção do disco, ou seja, tentarmos obter um resultado coerente e atenuarmos algumas assimetrias estéticas, entre os temas que compusemos há 2 anos atrás e aqueles que compusemos um mês antes de entrar em estúdio. Felizmente, depois de muito trabalho e de bastantes horas de estúdio, chegámos ao fim com a sensação de dever cumprido, pelo menos na nossa ótica.

Para este trabalho recuperam dois temas do EP do ano passado. Deram-lhes uma nova roupagem?
Sempre tivemos a ideia de incluir um ou dois temas do EP. Nunca quisemos romper com o que estava feito mas sim, oferecer uma imagem fiel do que foi a banda nos primeiros anos. Nessa perspetiva, alguns desses temas, em especial a Redefine, teriam de estar presentes no álbum. Não foram dadas novas roupagens aos temas do EP. O único trabalho feito foi ao nível de masterização, de modo a ter uma estética que se aproximasse com os temas gravados para o álbum. A escolha destes temas também não foi inocente, pois foram os temas mais trabalhados na gravação/produção do EP, o que facilitou a sua integração no disco.

Têm tido bastante exposição radiofónica, nomeadamente na Antena 3. Como vêm a aposta desta estação cada vez mais em jovens valores do rock nacional?
É muito importante essa aposta da Antena 3 nos novos valores da música nacional, pela promoção que dá às bandas. O ideal era que essa aposta fosse abrangida por mais rádios e mais canais de divulgação. Atualmente faz-se muito boa música em Portugal e era importante que cada banda pudesse ter o seu espaço para crescer.

Na vossa opinião, o que se passa, para outras estações continuarem a não dar oportunidades a esses jovens projetos?
Isso é algo que nós não conseguimos explicar porque simplesmente não conhecemos o meio. Como dissemos anteriormente, era importante que as outras rádios reforçassem a aposta em bandas nacionais, mas acho que cada rádio tem os seus objectivos e as suas metas a atingir e isso pode não ser conjugável com a aposta em música portuguesa, o que é uma pena.

Que planos têm para os próximos tempo, nomeadamente no que diz respeito a apresentações ao vivo?
Neste momento estamos focados nos concertos de apresentação do disco e no trabalho a desenvolver na sala de ensaio. Não fechamos a porta ao aparecimento de novas ideias e da sua integração num segundo registo. No imediato, queremos que o álbum chegue ao maior número de pessoas possível sem que faltem oportunidades para o fazer.

Mais uma vez obrigado! Querem acrescentar mais alguma coisa?
Queremos agradecer o apoio da Via Nocturna para a divulgação do nosso disco de estreia e esperamos voltar a falar convosco num futuro próximo.

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